Crescimento da demanda estimula criação de novos viveiros de produção de mudas de hortaliças
A demanda por informações pelo assunto não para de crescer, em meio ao universo das consultas ao Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
Já se sabe há bastante tempo que a energia solar pode ser usada para eliminação de organismos nocivos no solo. A novidade é que pesquisadores baratearam a tecnologia tornando-a viável também a pequenos produtores. É o que a Embrapa Rondônia conseguiu ao desenvolver um equipamento chamado ‘Solarizador’, alternativa sustentável e de baixo custo para a esterilização de solos para uso como substrato na produção de mudas. Com ele é possível produzir mudas sem nematoides, uma das maiores preocupações dos produtores de todo o País. A técnica já é adotada por países como Estados Unidos, Israel e Holanda.
O equipamento elimina os principais organismos que causam doenças nas plantas e ainda mantém os que são benéficos, que são termotolerantes, e que podem impedir a reinfestação. Tudo isso sem riscos ambientais e para a saúde dos produtores, de fácil produção e manutenção. Essas são as vantagens do equipamento, quando comparado a outros sistemas tradicionais de desinfestação, como autoclaves, fornos à lenha ou aplicação de químicos, que não são tão eficientes e causam danos ao meio ambiente.
O Solarizador é uma adaptação do Coletor Solar, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente e pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A nova proposta, de acordo com o pesquisador da Embrapa Rondônia José Roberto Vieira Júnior, foi desenvolvida em função das dificuldades em se obter parte dos materiais necessários para construção do Coletor Solar. “Buscamos manter a eficiência, com algumas das características originais, mas adaptando o equipamento às condições e disponibilidades de recursos locais”, explica o cientista.
Segundo ele, o custo médio para a produção do Solarizador, com pequenas variações em cada região, fica em torno de 500 reais. “Não conseguimos encontrar tubos de ferro fundido ou aço na espessura original descrita no projeto original do Coletor Solar por menos de 500 reais a peça e o equipamento leva até seis tubos de 150 mm, o que tornaria o equipamento caro demais para construir nas condições locais. Também substituímos o plástico de cima por vidro, uma vez que o primeiro rasgava demais durante uso. Embora a eficiência diminua em relação ao original, ele funcionou muito bem com vidro de 3 milímetros (de espessura)”, garante Vieira.
Na prática, o solo é aquecido por meio da radiação solar, utilizando-se do efeito estufa promovido pelo equipamento. A radiação atravessa uma superfície transparente, convertendo-se em energia calorífica na superfície do solo, que é utilizada principalmente no processo de evaporação da água ali armazenada, gerando vapores de temperaturas a partir de 50ºC. Essa temperatura é suficiente para eliminar a grande maioria dos nematoides, vermes de solo que provocam danos ao sistema radicular das plantas e que, para sobreviver, precisam de temperaturas inferiores a 40ºC.
Como construir o Solarizador
O equipamento é uma caixa de madeira pintada externamente com tinta preta, piche ou massa asfáltica nº1, própria para impermeabilizações. A caixa é aberta em cima, recoberta com placas de vidro de três a quatro milímetros de espessura. No interior, pode-se usar chapas de aço galvanizado de dois mm de espessura, dobradas na forma de tubos de 150 mm ou 200 mm de diâmetro, unidas por arame ou rebite de uso residencial. Veja as figuras 1 e 2.
Figuras 1 e 2: Solarizador e estrutura lateral
O fundo do Solarizador deve ser revestido com três camadas. A primeira é a chapa de aço galvanizado com 2 mm x 105 cm x 100 cm. A camada intermediária é composta por uma manta térmica para telhados e a terceira, por uma placa de compensado de 6 mm x 105 cm x 100 cm. A capacidade total do equipamento é de 180 litros.
As temperaturas máximas obtidas no Solarizador foram de 65°C, mas o pesquisador explica que há relatos de temperaturas chegando a valores superiores a 70°C em algumas regiões. Como temperaturas acima de 45°C já são prejudiciais aos nematoides, eles são eliminados em algumas horas de tratamento. “Recomenda-se o tratamento por, no mínimo, dois a três dias, já que a ocorrência de nuvens esporádicas, dias nublados ou frios podem afetar a eficiência geral,” destaca o José Roberto.
Importância da produção de mudas sadias
A produção de mudas livres de nematoides é uma das ações mais importantes para o controle dessa doença de solo. Nas mudas, esses organismos podem causar diversos danos, como redução e atraso no crescimento, desuniformidade e mesmo morte. Além disso, o plantio no campo de mudas infectadas afeta direta e negativamente a produção, com a morte das plantas, dependendo da espécie de nematoide.
Problema ainda mais sério é disseminação dos patógenos em áreas que ainda não estavam infestadas, causando o surgimento da doença e com sérios prejuízos aos produtores. Quando instalados, o controle ou a eliminação desses organismos tornam-se grandes problemas, devido aos poucos métodos de controle e às desvantagens de seu uso. “Os produtores que não realizam o tratamento do substrato na produção das mudas correm sérios riscos de levar a doença às suas áreas. Além disso, em algumas regiões do Brasil, especialmente na produção de mudas de café, os produtores podem ter seus lotes ou mesmo toda a produção do viveiro de mudas interditada e destruída”, conta Vieira.
Até recentemente, um dos métodos mais utilizados em viveiros era o tratamento químico dos substratos, principalmente com o uso de brometo de metila, biocida capaz de eliminar todo e qualquer ser vivo presente no solo, criando o chamado “vácuo biológico”. O efeito obtido não é interessante, pois elimina também os organismos benéficos. Além disso, seu uso causa danos à camada de ozônio, o que provocou a proibição de seu uso no Brasil, vigente desde 2003. Sem o brometo, os produtores de mudas ficaram com poucas alternativas economicamente viáveis e sempre houve a necessidade de técnicas ambientalmente seguras. O Solarizador contempla ambas as demandas.
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