Pecuária Familiar é debatida por autoridades no Rio Grande do Sul

15.06.2012 | 20:59 (UTC -3)
Felipe Rosa

A pecuária familiar esteve em pauta nesta quinta-feira (14), no município de Pinheiro Machado/RS. Considerada por técnicos e pesquisadores da Emater/RS-Ascar e Embrapa Pecuária Sul como uma forma específica e diferenciada de produção rural, a atividade foi o assunto do dia do secretário Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Ivar Pavan, e do diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, que visitaram a localidade de Alto Bonito, na Costa do Rio Camaquã – onde 95% dos produtores rurais são pecuaristas familiares que trabalham com gado de corte e ovinocultura.

Na ocasião, a comitiva – formada por representantes e técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Rural Pesca e Cooperativismo (SDR), Emater/RS-Ascar, Embrapa Pecuária Sul e CGTEE – foi recebida com produtos típicos da pecuária familiar, como churrasco de cordeiro, doces e produtos confeccionados com lã ovina. Na visita, foi possível conhecer a forma de organização dos produtores locais, que convivem de forma integrada.

De acordo com o presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário Novo Horizonte, Oneide Garcia, a preservação dos recursos naturais é uma das premissas dos pecuaristas familiares. A conservação da biodiversidade, no entanto, não impede o aperfeiçoamento do trabalho. “Todos os anos nós percebemos que temos melhorado um pouco. E queremos nos manter assim, mas sem mudar a forma como produzimos. Resistimos ao tempo, ao clima, à política e a questões econômicas. O que precisamos é acrescentar alguns detalhes”, disse.

É justamente no sentido de aprimorar a forma de manejo existente que consiste uma proposta inicial de trabalho sugerida por Pavan. Para ele, os pecuaristas familiares precisam ser inseridos no cronograma de políticas públicas do Estado, mas sem perderem suas características específicas. “A pecuária familiar não vai se desenvolver em outro modelo que não seja este. Este modelo dá certo, o que precisamos é ajustar detalhes e agregar valor a este produto, porque, sem dúvidas, é difícil encontrar produtos de melhor qualidade do que os produzidos aqui”, destacou.

Além de não precisar ser modificado, o secretário acredita que o modelo de pecuária familiar é um dos mais desenvolvidos, sob o ponto de vista da preservação da biodiversidade. “A pecuária familiar era até então uma categoria praticamente invisível. Mas a partir do debate que o Brasil está fazendo, que o mundo está fazendo, os sábios estão se dando conta de que estes invisíveis são os mais avançados, pois é nas propriedades deles que o solo é mais protegido, que há proteção ambiental, que há um modelo de produção que se preserva por muitos anos”, completou.

Para o chefe de pesquisa da Embrapa Pecuária Sul, Daniel Montardo, o trabalho desenvolvido em Pinheiro Machado pode servir como exemplo para outros municípios. “Temos como desafio viabilizar o fortalecimento do que é feito aqui e ampliar isso para outras regiões do Estado”, disse.

De acordo com o gerente regional da Emater/RS-Ascar Bagé, Luis Fernando Fabrício, a Instituição está engajada no trabalho com os pecuaristas familiares. Ele também destacou a importância estratégica que este produtor tem para a preservação do meio ambiente. “Graças a estes produtores temos um ambiente preservado nestas localidades. Onde há pecuária familiar, há preservação do nosso Bioma Pampa”, completou.

O prefeito de Pinheiro Machado, José Antônio Rosa, pediu atenção especial para a região. “Nossa região é diferenciada e precisamos olhar para este público também de forma especial, pois ele tem suas características próprias”, falou.

Antes da visita à localidade de Alto Bonito, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Marcos Borba, que trabalha diretamente com os pecuaristas familiares de Pinheiro Machado, fez, ainda em Bagé, uma apresentação mostrando as características dos pecuaristas e da pecuária familiar.

Em todo o Estado existem cerca de 60 mil pecuaristas familiares, que produzem bovinos de corte e ovinos com o uso predominante da mão de obra familiar. Este produtor possui áreas inferiores a 300 hectares e as receitas brutas anuais são de até R$ 40 mil. Os trabalhadores estão distribuídos entre propriedades maiores, com a existência de núcleos de concentração. O autoconsumo alimentar é baseado na carne.

A cobertura vegetal onde estão situados os pecuaristas familiares é, na maioria das vezes, campo nativo, existindo uma relação fundamental para a preservação do Bioma Pampa. Cálculos estimam que 30% dos bovinos de corte do Rio Grande do Sul estejam sob os cuidados destes produtores.

Após a apresentação, o diretor técnico da Emater/RS, Gervásio Paulus, reforçou a importância dos pecuaristas familiares para a preservação dos recursos naturais. “Temos de construir relações sustentáveis e a pecuária familiar nos dá um exemplo único de sustentabilidade, principalmente em um Bioma (Pampa) que está ameaçado”, ressaltou.

O gerente adjunto regional da Emater/RS-Ascar Bagé, Cláudio Ribeiro, reforçou a importância de trabalhar com o público através de metodologias que ajudem a aprimorar a atividade. “O debate que se faz é como intervir de forma positiva. Para isso, o insumo a ser utilizado é o conhecimento. A partir do conhecimento poderemos tentar aprimorar o que eles já fazem, respeitando as características destes produtores”, disse.

A reunião definiu, ainda, a constituição de um grupo de trabalho – formado por profissionais da SDR, Emater/RS-Ascar e Embrapa Pecuária Sul – para estudar a aplicação de políticas públicas específicas para o setor.

A agenda do secretário Pavan contou, ainda, com duas atividades realizadas em Candiota: a assinatura de um convênio – dentro do Programa Leite Gaúcho – com a Cooperativa de Produção Rural e Integração Mista Ltda. (Cooperamil) e a inauguração de 19 açudes do Programa Irrigando a Agricultura Familiar, construídos através de um convênio entre a SDR e a Prefeitura de Candiota. O mesmo contrato ainda prevê a entrega de mais 19 açudes, totalizando 38 reservatórios de água para o município.

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