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Três grandes iniciativas da FAPESP, que estabeleceram uma nova abordagem em termos de organização científica, foram apresentadas à comunidade científica internacional no “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, realizado esta semana no Rio de Janeiro: o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), o BIOTA-FAPESP e o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
O fórum, organizado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU, na sigla em inglês), tem o objetivo de debater uma nova agenda científica internacional para o período que se seguirá à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), após seu encerramento no dia 22 de junho.
De acordo com Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN, os temas ligados ao clima, energia e biodiversidade envolvem questões-chave para a construção de uma sociedade sustentável. Por isso, os cientistas envolvidos com os três programas realizaram em março, em São Paulo, um workshop preparativo para a conferência com o tema “Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20”.
“Entre as principais conclusões do workshop, identificamos uma grande necessidade de promover a participação da comunidade científica no debate sobre as políticas socioambientais globais. A RIO+20 é uma oportunidade privilegiada para isso”, disse Souza.
O workshop definiu também a importância de promover projetos que integrem as três áreas focais dos grandes programas da FAPESP, a fim de estimular a formação de equipes interdisciplinares e transdisciplinares. Os debatedores concluíram ainda que é necessário aumentar a massa crítica de pesquisadores e de conhecimento sobre essas áreas estratégicas.
“Outra questão levantada foram os mecanismos de mercado associados à transição para uma economia mais verde. Precisamos reduzir os subsídios a atividades que trazem prejuízos socioambientais”, disse Souza.
O BIOEN possui diferentes linhas de pesquisa, com foco em desenvolvimento de novos cultivares para produção de bioenergia, novas tecnologias para processamento de biomassa, produção de combustíveis, desenvolvimento de sistemas de biorrefinaria, motores e impactos socioambientais.
“O objetivo do programa é realizar um investimento sério em pesquisas sobre energia renovável, estimulando a cooperação internacional, com abordagem interdisciplinar e transdisciplinar dos problemas que temos em foco”, disse Souza.
No Brasil, 20% dos combustíveis utilizados foram substituídos por bioetanol de cana-de-açúcar, segundo Souza. Essa é a principal razão para que 47% da matriz energética do país seja renovável. A projeção para 2013 é que o país produza mais de 570 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e 23,9 bilhões de litros de bioetanol. A cogeração de energia a partir da queima de bagaço contribui com 4,7% da eletricidade do país.
“Esse contexto gera uma demanda muito grande para a produção de biocombustíveis no Brasil. O etanol de cana-de-açúcar – que tem eficiência energética reconhecida pelas principais agências regulatórias – só utiliza 2% das áreas disponíveis para uso agrícola atualmente e há 60 milhões de hectares com potencial para expandir a produção sem tocar nas florestas. Com tamanha demanda, é fundamental investir na pesquisa”, disse Souza.
Paulo Artaxo, membro da coordenação do PFPMCG, contou que o programa da FAPESP foi concebido desde o início, em 2008, para ser uma iniciativa de longo prazo, com duração mínima de dez anos.
“Levamos dois anos para desenhar e focar o programa em suas prioridades. Hoje, uma das principais prioridades é construir até 2013 um modelo brasileiro do sistema climático com foco em questões regionais fundamentais, como os impactos das mudanças climáticas na Amazônia, no Cerrado e no Atlântico Sul”, explicou.
Uma das prioridades estabelecidas para o PFPMCG é estudar as consequências das mudanças climáticas globais sobre o funcionamento dos ecossistemas, com ênfase na biodiversidade, nos ciclos de carbono, nitrogênio, nos corpos d’água, no balanço de radiação na atmosfera, aerossóis, gases-traço e nas mudanças de uso da terra.
“Outras prioridades são o impacto das mudanças climáticas globais na agricultura, na produção de energia e na saúde humana. Também temos foco nas respostas à vulnerabilidade social e econômica, incluindo iniciativas de adaptação”, disse Artaxo.
Carlos Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP, destacou que a FAPESP fez um investimento significativo no programa criado em 1999, somando recursos de cerca de US$ 122 milhões.
“Em 12 anos, o programa BIOTA-FAPESP publicou mais de 1 mil artigos científicos em 260 periódicos, sendo 180 deles indexados na plataforma ISI, incluindo revistas como a Science e a Nature. O programa também gerou mais de 20 livros”, disse.
O programa criou uma base georreferenciada com 102 mil registros de 1.100 espécies, identificando 34 tipos de vegetação nativa no Estado de São Paulo. O sistema integrado utiliza softwares livres. Em 2002, o BIOTA-FAPESP lançou um projeto voltado para descobertas de moléculas da biodiversidade brasileira que possam ser usadas como modelos na indústria.
Entre os principais produtos do programa, segundo Joly, está a produção de uma série de mapas da biodiversidade que foram aplicados em políticas públicas de conservação e restauração da biodiversidade.
“O Estado de São Paulo tem 19 instrumentos legais – entre leis, decretos e resoluções – que foram elaborados com base em resultados do programa BIOTA-FAPESP”, afirmou.
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