Estudo revela novo perfil da agricultura no nordeste paulista
Nos últimos 30 anos, pastagens, grãos e citros deixaram de ocupar cerca de 1,5 milhão de hectares nas bacias dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, no nordeste do estado de São Paulo
A safra de trigo entra na reta final na Região Sul, momento que pode definir os resultados da lavoura, com produtores em alerta para as variações climáticas da primavera. A fase de espigamento aumenta a sensibilidade das plantas, com maior risco para doenças de espiga e problemas na pré-colheita. O tema “Proteção de Plantas” foi discutido durante o 5º módulo da capacitação Embrapa e Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), realizado de 25 a 27/09, na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS.
Um dos principais obstáculos à alta produtividade de trigo na Região Sul do Brasil é a ocorrência de um grande número de doenças de origem fúngica, favorecidas pelo clima subtropical úmido, com primavera quente e chuvosa que, geralmente, coincide com o espigamento das plantas na lavoura. Doenças de difícil controle, como a giberela e a brusone, deixam produtores e assistência técnica em alerta para prevenir danos no momento que pode definir a produtividade e a qualidade das lavouras.
No Paraná, o trigo está em fase de maturação, com 60% das lavouras apresentando o chamado “grãos leitoso” (Deral, set2018). De forma geral, o risco de doenças de espiga já passou, principalmente com a brusone que costuma atacar nas regiões mais quentes. “O trigo sofreu muito com a seca ainda na implantação da lavoura. A falta de chuva também exigiu grande esforço no controle de insetos, que afetaram o desenvolvimento inicial”, conta o engenheiro agrônomo Luciano Scheibel, do departamento técnico da Frísia, cooperativa com sede em Carambeí, PR. “As colheitas começaram agora na região de Ponta Grossa, mas a expectativa é chegar aos 4 mil quilos de trigo por hectare na média entre os cooperados”, conta Scheibel.
No Rio Grande do Sul, 27% das lavouras de trigo entraram na fase do espigamento (Emater/RS, set2018). Com a elevação das temperaturas e maior ocorrência de chuvas, existe o risco do trigo ser contaminado pelo fungo causador da giberela desde o espigamento até a fase final de enchimento de grãos. Para minimizar os danos com giberela, a pesquisadora Maria Imaculada Pontes Moreira Lima recomenda acompanhar diariamente as previsões climáticas: “A ocorrência de giberela depende de precipitações pluviais elevadas, ou seja, dias consecutivos de chuva. Temperaturas entre 20 e 24ºC, típicas de primavera, deixam a porta aberta para a doença”, alerta a pesquisadora, lembrando que o controle com o uso de fungicidas não tem eficiência por completo, resolvendo em 50 a 70% no combate ao fungo em aplicações preventivas. “Se chover logo após a aplicação, a chuva lava o defensivo e deixa o trigo desprotegido novamente”, diz Imaculada.
Controle no momento certo
A principal dúvida dos profissionais no campo é quanto ao controle das doenças no momento certo. Para o pesquisador João Leodato Nunes Maciel, acompanhar o clima é o ponto de partida para o monitoramento de doenças, já que a combinação de temperatura e umidade são determinantes para ocorrer a infecção. “É preciso entender que não estamos falando apenas ao volume das precipitações, mas relacionando a umidade ao período de molhamento da planta, ou seja, o tempo em que as espigas ficam molhadas, favorecendo a instalação dos fungos”, esclarece Maciel, lembrando que este é um dos motivos para a não recomendação das aplicações calendarizadas de fungicidas que podem ser realizadas antes do fungo atacar ou depois do dano acontecer.
Para ajudar na tomada de decisão sobre o adequado uso de fungicidas, a Embrapa Trigo e a Universidade de Passo Fundo desenvolveram o SISALERT (Sistema de previsão de risco de epidemias de doenças de plantas), uma plataforma que coleta dados meteorológicos de curto prazo para simular o risco de epidemias de brusone e de giberela no trigo, a partir de informações inseridas pelo usuário, como local e data de espigamento da lavoura. O acesso é gratuito através do site www.sisalert.com.br.
Germinação na espiga
O final do ciclo do trigo também é afetado pelo risco de chuva na colheita que pode resultar na germinação dos grãos ainda na espiga. Este fenômeno é mais frequente nas regiões mais quentes, onde as temperaturas elevadas diminuem a dormência dos grãos. Além de diminuir o rendimento, a germinação afeta diretamente o PH do trigo, reduzindo a qualidade tecnológica e o valor comercial dos grãos.
Segundo o pesquisador João Leonardo Pires, muitas coisas estão envolvidas com o processo da germinação pré-colheita em trigo. Começando com a suscetibilidade genética da cultivar, passando pela morfologia e estrutura da espiga, pelo estágio de maturação da lavoura e, finalmente, pelas condições de ambiente. Porém, acima de tudo, está o controle fisiológico associado com a dormência (período que as sementes, ainda que sob condições ótimas de temperatura, de umidade e de luz, não germinam). Todavia, as condições de ambiente, particularmente de temperatura, durante a fase de enchimento de grão, exercem uma forte influência na duração do período de dormência. Portanto, a interação entre as características genéticas das cultivares e as condições de ambiente, principalmente meteorológicas, é que define a ocorrência ou não e a magnitude do problema de germinação pré-colheita em trigo.
A recomendação do pesquisador Eduardo Caierão, é escolher cultivares mais tolerantes à germinação pré-colheita e às doenças relacionadas ao clima, além de escalonar a semeadura, observando sempre o zoneamento agrícola que estabelece as épocas de semeadura com menor risco para cada município. Mas a recomendação só é válida na implantação da lavoura, a partir de agora o produtor precisa monitorar o desenvolvimento da lavoura, o risco de doenças e acompanhar as previsões climáticas até a colheita. “Em caso de previsão de excesso de chuva próximo à colheita, a antecipação da operação, levando em consideração os aspectos fisiológicos da planta, é uma das estratégias para evitar a germinação pré-colheita. Por vezes, vale a pena colher o trigo com maior umidade ao invés da lavoura ficar sujeita a mais chuvas na maturação. Entretanto, é preciso considerar as questões práticas da colheita, como a debulha mecânica, e os custos da secagem dos grãos. O produtor deve avaliar em faixas de lavoura se o trigo já pode realmente ser colhido e considerar a relação custo/benefício da antecipação”, alerta Eduardo Caierão. Ainda, mediante ocorrência de germinação pré-colheita, a recomendação é separar os grãos germinados dos não germinados para evitar a desqualificação de todo o lote colhido.
Giberela
A giberela é uma doença causada por fungo que ataca a espiga dos cereais de inverno e pode comprometer o rendimento e a qualidade dos grãos. Na alimentação, o grão com giberela pode estar contaminado com micotoxinas, que comprometem a saúde humana e causam complicações digestivas nos animais. Atualmente, não existem cultivares de trigo resistentes à giberela, apesar de diversas opções moderadamente resistentes. A rotação de culturas também não tem se mostrado eficiente para o controle dessa doença. A redução dos danos causados reside na adoção de cultivares menos suscetíveis, associada ao escalonamento de semeadura, diversificação de cultivares com ciclos distintos ao espigamento, e ao uso de fungicidas que devem ser aplicados preventivamente, ou seja, antes que ocorram condições climáticas favoráveis à infecção das espigas pelo patógeno (fungo). A proteção conferida pelo fungicida varia de 15 a 20 dias.
Brusone
Epidemias de brusone acontecem em anos chuvosos, quando a alta umidade e temperaturas entre 25 e 28ºC coincidem com a fase de espigamento do trigo, causando queda no rendimento em função dos grãos deformados e de baixo peso específico. Este cenário é típico de regiões de trigo no Centro-Oeste (GO e MG), no Norte do Paraná, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Nas regiões mais frias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a brusone ocorre, eventualmente, em microclimas mais favoráveis, sem causar danos significativos. Em 2014, ocorreram registros na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, ainda no mês de setembro, onde as lavouras estavam mais adiantadas.
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