Modelo de produção consorciada gera maior rentabilidade no campo

24.01.2014 | 21:59 (UTC -3)

Clima, qualidade de solo, competitividade do setor, variação de preços são alguns dos fatores que pressionam a produção de alimentos na agropecuária. Para evitar grandes solavancos e assegurar a viabilidade econômica do sistema produtivo, o produtor deve procurar medidas que fortaleçam a rotina de trabalho de sua propriedade. Na opinião de especialistas uma poderosa alternativa para fugir da corda bamba é o consórcio de cultivares.

A implementação do consórcio de cultivares beneficia a produção em diversos pontos. Aumenta a eficiência da propriedade elevando os níveis de produtividade, modifica o padrão de solo da região, melhora sua composição física e a fertilidade, bem como, reduz perdas ocasionadas por mudanças climáticas ou degradação de solo. Como um todo, o consórcio promove maior estabilidade da produção.

De acordo com o pesquisador da Fundação MS, André Luís Lourenção, o consórcio aplicado na produção de grãos serve como um seguro agrícola natural, no qual o produtor compra sua apólice ao investir no solo. Esse investimento é o resultado de benefícios como a produção de palhada que é utilizada no revestimento do solo, favorecendo o plantio da soja, e o combate à proliferação de plantas daninhas como a buva, por exemplo.

“O consórcio é uma tecnologia que veio para somar no sentido de garantir a estabilidade da produção de soja. Embora seja uma tecnologia complicada, pois o produtor passa a trabalhar com mais de uma cultura dentro do sistema, o consórcio promove um aumento na resistência da produção contra plantas daninhas e eleva o percentual produtivo da soja, em média se produz 20 a 25 sacas a mais, considerando o período de estiagem devido à seca”, comenta Lourenção.

Para o pesquisador da Fundação MS, adotar o consórcio significa proteger a produção de contratempos. O aumento sinalizado por ele está ligado a duas situações: o incremento de produtividade observado pela melhora da qualidade do solo, aspecto sentido a longo prazo, e a redução de perdas durante o inverno.

Apesar de vantagens, aplicar o consórcio em uma propriedade requer alguns cuidados. Lourenção explica que o produtor deve começar com parcelamentos pequenos, definir bem a escolha do híbrido de milho e do capim a ser plantado, cuidar da densidade de semeadura da planta para evitar desajustes de modo que aja um ponto de equilíbrio nas culturas evitando concorrências no interior do sistema produtivo.

Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ademir Hugo Zimmer, a implantação do consórcio necessita de um aprimoramento no modelo de gestão da produção para haver um salto de eficiência produtiva na propriedade.

Em tese, o sistema de consórcio lavoura-pecuária é bastante similar ao consórcio voltado para grãos. A principal diferença é a incorporação do componente animal que aumenta o intervalo entre o plantio e o replantio da soja. Conforme Zimmer, o sistema voltado para a produção animal garante ganhos de produtividade nos dois elementos, animal e vegetal. O aumento na produção acompanha a melhoria na qualidade do solo, porém frisa o pesquisador, é a médio e longo prazo.

“A integração lavoura-pecuária é uma tecnologia que dá retorno ao produtor em quatro anos de implantação. A principal vantagem está na estabilidade e no aprimoramento da dinâmica produtiva do sistema, uma vez que se notam mudanças na condição do solo, solo mais fértil e melhor ciclagem de nutrientes, além do aumento de resistência contra pragas”, fecha Zimmer.

Sob a ótica estatística e econômica, por exemplo, os dados de experimentos desenvolvidos pela Embrapa, entre outubro de 2011 a verão de 2012/2013, apontam que o milho consorciado com braquiária forneceu uma receita de 8.415 reais/hectare, levando-se em consideração o preço da semente da braquiária, a um custo de 6.117 e uma renda de 2.299. O safrinha solteiro com soja obteve receita e custo próximos, 8.017 e 6.031 reais/hectare, mas a renda caiu para 1.986. “São informações que ratificam a eficiência dos sistemas consorciados, nunca esquecendo que cada propriedade tem suas peculiaridades e isso não pode e nem deve ser desconsiderado”, reforça Alceu Richetti, economista rural da Embrapa.

Novas forrageiras - A Empresa lançou duas novas forrageiras que acrescentam a seleção de braquiária e panicum disponíveis no mercado, que podem ser incorporadas ao modelo consorciado de produção. A Zuri é uma espécie de panicum que possui características similares ao capim Tanzânia, qualidade de forragem, entretanto, é resistente a ferrugem; a outra é a BRS Paiaguás, indicada para outono e inverno, que possui alta produção de palhada e bom rendimento de ganho de peso na seca. Sua suscetibilidade às cigarrinhas é um fator de alerta.

Para o analista da Embrapa, Haroldo Pires de Queiroz, zootecnista da área de Transferência de Tecnologia, as novas forrageiras entram no mercado para otimizar a rentabilidade do produtor. “A competitividade na agropecuária brasileira é decisiva. O produtor que não buscar mais eficiência exercitando a sagrada fórmula de reduzir custo de produção e aprimorar a dinâmica produtiva não garantirá sua sobrevivência. As novas forrageiras chegam justamente para oferecer melhores soluções tecnológicas ao produtor”, comenta Haroldo.

As variedades estão presentes nos plotes da vitrine tecnológica da Embrapa durante esta edição do Showtec, em Maracaju-MS, assim como os consórcios. Promovido pela Fundação MS, entidade de pesquisa agropecuária sul-mato-grossense, o evento congrega instituições de pesquisa e empresas mais atuantes na produção de alimentos e energia do Brasil e do mundo, entre elas, a Embrapa, representada por suas Unidades - Agropecuária Oeste (Dourados-MS), Gado de Corte (Campo Grande-MS), Pantanal (Corumbá-MS), Suínos e Aves (Concórdia-SC), Soja (Londrina-PR), Pecuária Sudeste (São Carlos-SP) e Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG).

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