Missão Argentina busca cooperação técnica para desenvolver o trigo na América Latina

05.11.2010 | 21:59 (UTC -3)

A maioria dos pesquisadores em cereais de inverno que atuam na América Latina tiveram a base de sua formação no hemisfério norte, principalmente nos Estados Unidos. A experiência no desenvolvimento de cereais em clima temperado nem sempre é aplicável no clima subtropical dos países do hemisfério sul. Unir esforços através do intercâmbio de conhecimentos é a proposta da Missão Argentina que esteve na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) nesta quinta-feira, dia (4).

 

O Brasil e a Argentina são os principais produtores de cereais de inverno na América Latina. Apesar de ser o principal importador do trigo argentino, o Brasil se destaca pelo nível tecnológico, que pode ser comparado aos principais centros de pesquisa do mundo. Já o país vizinho, a Argentina, além de reconhecido também pelo corpo técnico-científico, possui regiões com solos mais férteis e mesmo produtores que têm no cultivo do trigo a tradição cultural, fatores que têm garantido melhores rendimentos na cultura.

 

A troca de conhecimentos na cultura do trigo entre os dois países é de longa data, com o treinamento dos pesquisadores da Embrapa Trigo junto com pesquisadores do INTA na década de 90, através de ações de capacitação promovidas pelo CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo) e um consórcio chamado Procisur, cuja finalidade é trocar experiência de pesquisa em trigo no Mercosul. "Temos problemas comuns com a Argentina, no que se refere a pragas, doenças, manejo de solo e até nos trabalhos de melhoramento e biotecnologia. Aproximar as instituições de pesquisa vai fortalecer a triticultura no Mercosul para fazer frente aos grandes países produtores no cenário mundial", avalia o Chefe-Geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto.

 

A missão argentina que veio ao Brasil consiste em um consórico de instituições de pesquisa, representado por quatro universidades: Universidade de Buenos Aires, Universidade Nacional de La Plata, Universidade Nacional de Río Cuarto e Universidade Nacional de Tucumán. Amparados por um projeto de cooperação educacional e tecnológica do Ministério da Educação da Nação Argentina, os visitantes argentinos buscam promover o intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores entre as instituições públicas e privadas que trabalham no desenvolvimento de cereais de inverno. "Vamos tentar resolver problemas comuns, como controle de pragas e doenças, resistência a seca e produtividade através de projetos conjuntos. Nossa proposta também visa qualificar nossos pesquisadores através de cursos ministrados por profissionais das próprias instituições participantes", explica o secretário de relações internacionais da Universidade de Buenos Aires, Gustavo Schrauf, reconhecendo a competência técnica dos profissionais de ambos países.

 

O fitopatologista (especialista em doenças de plantas) da Universidade de Buenos Aires, Marcelo Carmona, é um dos estusiastas da parceria: "Fui estagiário na Embrapa Trigo há cerca de 10 anos e sei o quanto esta parceria vai ser importante tanto para o desenvolvimento no meio acadêmico com iniciação científica na formação de novos pesquisadores, quanto na elaboração de projetos conjuntos".

 

Na visita da Missão Argentina os interesses são distintos. Na província de Buenos Aires, o trigo é a principal cultura, voltado para exportação, o que chamou a atenção para o trabalho da Embrapa Trigo com o uso de marcadores moleculares. Já na província de Córdoba, é o clima semi-árido que exige mais conhecimentos sobre adubação e sistemas de manejo no solo, com interesse pela cultura do triticale por ser mais apto a solos pouco férteis. A monocultura da soja na província de Tucumán trouxe os pesquisadores para avaliar estratégias que coloquem o trigo como atividade complementar.

 

Joseani M. Antunes

Embrapa Trigo

(54)3316-5800

joseani@cnpt.embrapa.br

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