Microrganismos serão chave para biocombustíveis e químicos renováveis

13.04.2012 | 20:59 (UTC -3)
Vivian Chies

Quaisquer que sejam as matérias-primas que substituam o petróleo no futuro, os microrganismos serão peça-chave para a fabricação de biocombustíveis e produtos químicos renováveis. Essa foi a conclusão dos debates do “Simpósio Nacional de Microrganismos: da prospecção aos bioprocessos”, realizado pela Embrapa Agroenergia com apoio do Mapa, nos dias 11 e 12 de abril, em Brasília.

No encerramento, o coordenador do evento e pesquisador da Embrapa, João Ricardo Almeida, pediu aos participantes que voltassem às suas empresas e instituições de pesquisa com o propósito de trabalhar para vencer os desafios apresentados durante as discussões. O chefe-geral de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Guy de Capdeville, salientou que o centro de pesquisa está “de portas abertas para estabelecer parcerias em benefício da sociedade brasileira”.

O aproveitamento da celulose e da hemicelulose constituintes de toda biomassa vegetal foi enfatizado por vários palestrantes do Simpósio como etapa essencial para mudanças substanciais nas rotas de obtenção dos biocombustíveis e produtos “verdes”.

Bruce Dien, pesquisador do National Research Center do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), apresentou resultados de trabalhos realizados com um tipo de capim abundante naquele país (“swichgrass”), mostrando que o etanol lignocelulósico pode ser economicamente compensador em muito pouco tempo, dado o aumento do preço do barril de petróleo. Dien ressaltou que no desenvolvimento do processo de aproveitamento dos materiais lignocelulósicos é fundamental uma estreita interação entre os microbiologistas e os engenheiros encarregados de projetar e operar a planta industrial. “Essa interação deve ser considerada desde o início das pesquisas, para que não se busquem soluções de difícil execução prática e para que os engenheiros contribuam continuamente com feedback para a otimização das etapas laboratoriais e de escala piloto” disse o pesquisador norte-americano.

Para o engenheiro de processos da Petrobras, Efabiano Andrade, essa foi a principal mensagem que ele vai levar do Simpósio. “É o desafio da engenharia: integrar-se com a pesquisa para fazer o conhecimento chegar à indústria”. Outra preocupação que observou no simpósio diz respeito ao impacto ambiental dos subprodutos gerados nos processos. “É preciso balancear custo, rendimento e subprodutos”, ressaltou.

O professor da Universidade Tecnológica de Viena (Áustria), Bernhard Seiboth, apresentou os resultados do trabalho com modificação genética do fungo Trichoderma reseii para produção de enzimas capazes de degradar a celulose de diversas plantas, como a palha do trigo e espécies florestais. Por sua vez, a pesquisadora Danuza Moysés, do grupo de biotecnologia do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobrás, mostrou um processo de produção de etanol lignocelulósico a partir de bagaço de cana-de-açúcar. O estudo, que conta com a parceria de uma empresa americana, está em fase de teste em planta piloto. Danuza informou que o aproveitamento do biogás obtido por biodigestão da vinhaça (subproduto da destilação do etanol) está sendo estudado para complementar a energia térmica empregada no processo.

Durante o segundo dia do evento, empresas mostraram soluções que estão encontrando para converter biomassa em matéria-prima que substitua o petróleo na fabricação de produtos. A LS9, empresa americana que está se estabelecendo no Brasil, investiu no melhoramento genético de microrganismos para geração de insumos com aplicação em diversos segmentos industriais. “As nossas bactérias fazem, durante a fermentação aeróbica, todo o processo de uma refinaria de petróleo”, afirmou o diretor da empresa Michael Rinelli. A ideia é usar diversos tipos de biomassa para produzir moléculas para a fabricação de detergentes, lubrificantes, fragrâncias, biocombustíveis, entre outros.

Já a Reverdia está utilizando leveduras geneticamente modificadas para gerar ácido succinico, que atualmente é obtido por rota petroquímica. O produto, que deve ser fabricado no Brasil, é utilizado atualmente nas indústrias de alimentos, tintas e plásticos, por exemplo. A expectativa do diretor da empresa no País, Frank Nadimi, é que a produção desse ácido em grande escala contribua para equilibrar a balança comercial da indústria química brasileira, que hoje é negativa.

Para o professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Gonçalo Pereira, o Brasil vive um momento único de capacidade científica para aproveitar a biomassa no curto e médio prazo. No futuro, outra rota tecnológica para substituir o petróleo pode incluir as microalgas. O professor justifica a necessidade de investimento em pesquisas para utilização de matérias-primas verdes: a natureza demora 3 milhões de anos para produzir o volume de petróleo que consumimos em 12 meses.

O professor João Lúcio de Azevedo, da Universidade de São Paulo (USP) elogiou a organização e a programação o Simpósio. “Tivemos palestras bastante focadas na produção industrial, o que é muito importante para integrar o setor empresarial e a universidade”, ressalta.

Para realizar o Simpósio, a Embrapa Agroenergia e o MAPA contaram com o apoio da Fundação Eliseu Alves e das Sociedades Brasileiras de Microbiologia (SBM), Genética (SBG) e Micologia (SBMy). As empresas Analítica, Bruker Daltonics e Sinc do Brasil patrocinaram o evento.

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