Mercado de grãos acompanha câmbio e guerra tributária

Com embarques aquecidos e cenário externo incerto, soja e milho mantêm boas perspectivas para o Brasil

22.04.2025 | 15:47 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar

A semana foi marcada pelo avanço do plantio nos Estados Unidos, exportações aquecidas no Brasil e mudanças cambiais na Argentina que devem mexer com a competitividade no mercado internacional. O cenário do mercado de grãos foi abordado na Análise do Especialista Grão Direto, divulgado hoje (22/4).

Na soja, o Brasil projeta embarques de 14,5 milhões de toneladas em abril, enquanto a China reduziu as compras diante da guerra tarifária com os EUA. No milho, o plantio norte-americano avança em ritmo abaixo do ano passado e o Brasil, com safra robusta, segue com demanda interna sustentada. Apesar da volatilidade cambial e quedas pontuais nas cotações, o cenário geral permanece positivo para o agronegócio brasileiro. Confira a análise completa: 

Como o mercado de soja se comportou?

Safra norte-americana: nesta semana, o USDA divulgou o primeiro relatório sobre o avanço do plantio da safra 2025/26 nos Estados Unidos, indicando que 2% da área prevista já foi semeada.

Exportações aquecidas: a exportação de soja do Brasil em abril foi estimada em 14,5 milhões de toneladas, um aumento de 1,2 milhão de toneladas em relação à projeção da semana anterior, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec);

Fim do “dólar blend”: o governo argentino decidiu unificar o dólar, colocando fim ao “dólar blend”, que foi criado para ser usado  nas exportações. A medida deve trazer mais previsibilidade ao mercado e pode estimular a comercialização de soja e derivados.

Em Chicago, o contrato de soja para maio de 2025 encerrou a US$10,36 por bushel, com leve queda de 0,77% na semana. O contrato para março de 2026 teve um movimento inverso, fechando a US$10,45 por bushel (+0,58%). O dólar caiu 1,02%, encerrando a semana cotado a R$5,81. No mercado físico, a soja acompanhou o cenário externo fechando a semana com queda em diversas regiões ao longo da semana.

O que esperar do mercado de soja?

China vs. guerra tarifária: em março de 2025, a China adquiriu 3,5 milhões de toneladas de soja, de acordo com a Autoridade Aduaneira Chinesa (GACC). Esse número representa uma queda de 40% em relação a fevereiro e de 37% na comparação com março do ano anterior. A principal causa dessa retração nas compras foi o agravamento das disputas comerciais com os Estados Unidos, que levou Pequim a aplicar tarifas de 125% sobre produtos norte-americanos, incluindo a soja. Com uma safra robusta e o mercado norte-americano menos ofertado, a expectativa é de que os embarques brasileiros para a China aumentem de forma expressiva nos próximos meses.

Argentina mais competitiva: a unificação cambial na Argentina busca simplificar o sistema e atrair mais exportações, tornando os grãos argentinos potencialmente mais competitivos no cenário internacional. Essa mudança pode pressionar o Brasil, que enfrentará maior concorrência nas exportações de soja e farelo, especialmente em relação aos prêmios de exportação e preços globais. A Argentina, sendo líder em farelo de soja, pode influenciar diretamente o mercado, exigindo atenção redobrada do setor brasileiro.

Dólar volátil: nos últimos dias, o dólar caiu frente ao real, fechando em torno de R$ 5,80, influenciado por um ambiente externo mais favorável e expectativas positivas sobre o ajuste fiscal brasileiro. Para a próxima semana, a tendência é de estabilidade ou leve queda, dependendo de novidades no cenário internacional e das sinalizações do governo sobre o controle das contas públicas. A volatilidade deve continuar, mas o viés é de manutenção do patamar atual, salvo surpresas relevantes.

Após uma semana marcada pela indecisão, o mercado pode enfrentar maior volatilidade nos próximos dias. Ainda é esperada uma leve correção nas cotações em Chicago, após as fortes altas registradas recentemente. Mesmo assim, o cenário segue positivo e continua favorável para a comercialização.

Como o mercado de milho se comportou?

Plantio dos EUA: o plantio de milho nos Estados Unidos avançou, atingindo 4% da área prevista, um leve atraso em relação ao mesmo período do ano passado, quando o índice era de 6%.

Exportações aquecidas: de acordo com a Secex, em apenas 9 dias de abril de 2025, Brasil já exportou 55% mais milho do que em todo abril de 2024, totalizando pouco mais de 120 mil toneladas.

Em Chicago, o milho encerrou a semana cotado a US$4,82 por bushel, com queda de 1,43%. No Brasil, na B3, o contrato de milho para maio de 2025 também registrou queda, encerrando a R$76,75 por saca (-3,25%). Com isso, no mercado físico, os preços do milho recuaram, desestimulando as vendas por parte dos produtores.

O que esperar do mercado de milho?

Exportações ameaçadas: o Brasil deve colher a segunda maior safra de milho da história, superando 120 milhões de toneladas. Apesar da oferta elevada, o consumo interno — impulsionado principalmente pela crescente demanda das usinas de etanol — tende a sustentar os preços, especialmente em caso de impactos climáticos no fim do ciclo. Com o aumento do consumo interno, o excedente para exportação deve diminuir, o que pode ameaçar a posição do país como segundo maior exportador mundial do cereal. Esse cenário deve trazer mais interesse de produtores para o plantio de milho, podendo concorrer diretamente com a área de soja na Safra Verão.

Safra norte-americana: nos Estados Unidos, o plantio da safra 2025/26 avança em ritmo alinhado à média histórica, mas o clima mais frio no meio-oeste pode gerar atrasos nas próximas semanas. O mercado acompanha de perto essas condições, já que o clima pode trazer volatilidade aos preços, dada a expectativa de uma grande safra de milho. Paralelamente, a guerra comercial entre EUA e China segue influenciando a demanda chinesa, abrindo espaço para o Brasil aproveitar oportunidades no mercado internacional.

Milho 2ª Safra Brasil: de acordo com a Conab, as condições climáticas variam entre as regiões, com chuvas regulares favorecendo o bom desenvolvimento das lavouras em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. No Paraná e Tocantins, a escassez de chuvas e o calor excessivo afetam a produtividade. Em Mato Grosso do Sul, a irregularidade das chuvas no Centro-Sul causa perdas, enquanto no Norte as lavouras seguem bem produtivas, enquanto no Norte as lavouras continuam em boas condições. Já no Piauí, o desenvolvimento das lavouras é regular, refletindo condições mais desfavoráveis. Todo esse cenário leva o mercado a acreditar que o Brasil terá uma colheita significativa, fomentando a demanda interna do país.

O mercado interno de milho seguirá sustentado pela demanda, mas a recente queda nas cotações na B3 causou pressão negativa no mercado físico, sendo vista como uma correção de preços saudável. Apesar dessa correção, o cenário permanece favorável, com preços ainda favoráveis devido à manutenção da demanda.

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