Mercado de combustíveis poderá passar por crise sem políticas sérias

11.09.2012 | 20:59 (UTC -3)
Leticia Odilon

O setor sucroalcooleiro passa por um momento de desânimo, com as quedas dos preços do açúcar na Bolsa de NY e, mais ainda, com as propostas do Governo Federal. Em encontro entre porta-vozes do segmento e do governo para discutir os rumos do setor, o resultado é uma nuvem negra prenunciando uma forte tempestade de ciclones.

"Não é para menos. No momento em que o setor sofre enorme sangria no fluxo de caixa em virtude da fraca demanda do etanol - provocada principalmente pelo congelamento do preço da gasolina pelo governo federal, desde 2005 - e, quando tudo caminhava aparentemente para uma solução inteligente, eis que representantes do governo solicitaram aos produtores que apresentassem uma solução que pudesse, ao mesmo tempo, atrair investidores para o setor sucroalcooleiro sem alterar o preço da gasolina ao consumidor. Isso é impossível. Uma tarefa que Mandrake e David Copperfield rejeitariam de pronto, tal a sofisticação no quesito ilusionismo", adverte Arnaldo Corrêa, gestor de riscos e diretor da Archer Consulting.

De acordo com o consultor, essa proposta é como tentar dar um passo para frente e acabar dando dois para trás.

"Mergulhados ainda nos velhos vícios que perpetuam subsídios à custa do bolso do contribuinte em detrimento do mercado livre e sadio, que seduziria potenciais investidores, o governo pensa em incorporar ao preço do etanol um subsídio que atenderia aos desejos idem do governo federal e adiaria por limitadíssimo tempo o funeral do setor sucroalcooleiro. Como algo que é imposto de cima para baixo para aliviar as tensões pontuais, esse subsídio, ou 'externalidade', divide entre a sociedade o que apenas o consumidor de combustível deveria pagar", comenta Arnaldo.

A externalidade seria, segundo o gestor de riscos, benefícios invisíveis do etanol que nem sempre podem ser compreendidos ou incorporados na formação de preços. Um exemplo: cada percentual de acréscimo no consumo de gasolina joga na atmosfera um volume adicional de dióxido de carbono que causa problemas de saúde em um número tal de pessoas, que vão custar aos cofres públicos milhares e milhares de reais com gastos de saúde. Um valor tal que seria adicionado ao preço do etanol, por exemplo, por ser um combustível mais limpo e fazer o governo economizar um x com menores gastos na saúde.

"Imaginem a manchete dos jornais no dia seguinte: 'Governo abre o cofre para os usineiros'. Essa história de subsídio, se levada adiante, vai ser um tiro no pé do setor. Vai jogar a opinião pública, que nunca morreu de amores pela indústria sucroalcooleira, contra os usineiros. E, pior, não vai atrair novos investimentos, porque sem regras claras de mercado, não há investidor consciente que se aventure a botar dinheiro em um produto cuja formação de preço é manipulada pelo governo. Não vai ter cana suficiente para atender ao potencial de demanda que se avizinha nos próximos dois ou três anos, com esses recordes de vendas de veículos pela indústria automobilística. E advinha de quem vai ser a culpa? Dos usineiros que "receberam o subsídio" e não entregaram o produto", comenta Arnaldo.

Para ele, o setor caminha para uma crise sem precedentes na história dos combustíveis no Brasil. "E, desta vez, não estamos nem falando sobre os problemas logísticos que vamos enfrentar com a importação de gasolina, distribuição de diesel e outras mazelas decorrentes da profunda situação caótica que o Brasil tem por toda sua malha de infraestrutura", finaliza Arnaldo.

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