Mercado da soja e do milho oscila com clima e política

Acordos comerciais, clima nos EUA e gripe aviária influenciam preços e projeções para as principais commodities agrícolas

19.05.2025 | 14:00 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar

Os mercados da soja e do milho registraram oscilações nos últimos dias, refletindo uma combinação de fatores como o avanço do plantio nos Estados Unidos, tensões comerciais entre China e EUA, mudanças na política de biocombustíveis e a confirmação de um caso de gripe aviária no Brasil. Enquanto a soja teve leve alta com apoio do câmbio e expectativa de exportações, o milho foi pressionado pela redução na demanda da avicultura e pela previsão de supersafra brasileira. Confira mais informações na Análise do Especialista Grão Direto desta semana. 

Como o mercado de soja se comportou?

Acordo entre China e EUA: o comunicado entre as duas maiores economias agitou os mercados globais, elevando os preços da soja, óleo e farelo, devido à expectativa sobre a demanda por soja dos EUA, em meio ao plantio da safra 2025/26.

Política dos biocombustíveis: possíveis mudanças na política de biocombustíveis dos Estados Unidos, que podem reduzir a demanda pelos óleos vegetais no curto prazo, somadas à pressão exercida pelos preços do petróleo, exerceram pressão negativa nas cotações da soja em Chicago.

Plantio da soja americana: o clima favorável e o ritmo acelerado do plantio nos Estados Unidos também pressionaram os preços da soja em Chicago. A semeadura, que avançou acima da média, aumentou as expectativas de uma safra robusta.

Em Chicago, o contrato de soja para maio de 2025 encerrou a US$10,51 por bushel, com leve alta de 0,67% na semana. O contrato para março de 2026 seguiu na mesma tendência, fechando a US$10,56 por bushel (+0,76%). O dólar ficou estável, cotado a R$5,67 (+0,35%). No mercado físico, os preços da soja tiveram bastante influência dos prêmios nos portos, refletindo a possível migração da demanda para os EUA, com o acordo comercial.

O que esperar do mercado de soja?

Brasil se destaca nas exportações: segundo a Secex, o Brasil vem registrando recordes nas exportações de soja, com 37,4 milhões de toneladas embarcadas entre janeiro e abril deste ano — um aumento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse avanço foi impulsionado principalmente pela guerra comercial entre China e EUA, que ampliou a demanda chinesa pela soja brasileira. Em abril, o país alcançou o segundo maior volume já registrado, com 15,3 milhões de toneladas, e as projeções para maio indicam a possibilidade de um novo recorde, com embarques próximos a 16,5 milhões de toneladas. Caso os EUA colham menos soja devido à redução de área, o Brasil poderá manter protagonismo

Safra dos EUA: o plantio de soja nos EUA avançou rapidamente, alcançando 48% da área prevista até 11 de maio, 14 pontos percentuais acima do ano passado e 11 pontos acima da média dos últimos cinco anos. Estados como Iowa (64%), Nebraska (62%) e Illinois (51%) lideram o ritmo. Cerca de 17% das áreas já apresentam emergência, superando a média histórica. Apesar do bom progresso, 23% da área ainda enfrenta alguma condição de seca, especialmente no centro-norte do Meio-Oeste. A previsão indica continuidade das chuvas, o que pode melhorar o quadro hídrico, embora também possa causar atrasos pontuais no plantio. A temperatura abaixo da média pode desacelerar o desenvolvimento inicial das lavouras. Esse cenário começa a trazer dúvidas em relação à expectativa de produção inicial, mas sem preocupações excessivas.

Dólar em queda: o câmbio continua sob pressão de fatores internos e externos. No cenário internacional, a perspectiva de juros altos nos EUA e a postura comercial do presidente Donald Trump tendem a manter a volatilidade do dólar. No âmbito doméstico, as incertezas fiscais persistem, apesar das sinalizações do ministro da Fazenda sobre o cumprimento da meta fiscal, o que contribui para a instabilidade da moeda. Ainda assim, o dólar pode seguir em trajetória de queda e romper o patamar de R$5,60.

O avanço consistente do plantio e da emergência da safra de soja nos Estados Unidos, aliado à melhora nas condições climáticas em importantes regiões produtoras, contribui para um cenário de maior pressão nas cotações da soja brasileira, que pode ser potencializada com a possível continuidade de queda no dólar.

Como o mercado de milho se comportou?

Relatório de oferta e demanda: para a próxima safra, a produção de milho dos Estados Unidos é estimada em 430,55 milhões de toneladas. As exportações devem atingir 72,8 milhões de toneladas, superando as da safra 2024/25. O departamento aumentou a expectativa da safra brasileira para 131 milhões de toneladas e para 53 milhões na Argentina.

Safra norte-americana: o ritmo de plantio continuou acelerado, com o plantio atingindo 62% da área, acima da média histórica. O USDA ainda reportou que 28% das lavouras já haviam germinado, gerando ótimas expectativas de desenvolvimento diante do clima favorável.

Caso de gripe aviária: o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a presença de gripe aviária, em uma granja comercial localizada no estado do Rio Grande do Sul. O caso trouxe alerta ao mercado com impacto direto e imadiato nas exportações das aves.

Em Chicago, o milho encerrou a semana cotado a US$4,43 por bushel, com queda expressiva de 0,45%. No Brasil, na B3, o contrato de milho para julho de 2025 também recuou, fechando a R$62,05 por saca (-3,33%). No mercado físico, os preços do milho seguiram em queda, pressionados pela fraqueza nos mercados futuros.

O que esperar do mercado de milho?

Impactos da Gripe Aviária: a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil levou à suspensão temporária das exportações de carne de frango para mercados importantes, como China, União Europeia, Argentina, México, Chile e Uruguai, sendo que a China bloqueou as compras por 60 dias. Estima-se que até 20% das exportações mensais brasileiras sejam impactadas nesse período. Como a cadeia avícola é uma grande consumidora de milho para ração, a redução nas exportações e na produção de aves deve diminuir a demanda por milho, pressionando para baixo os preços de frango e ovos no curto prazo. Caso a doença seja controlada e o embargo dure cerca de dois meses, o impacto tende a ser temporário e pontual. Porém, se a gripe aviária se disseminar, os efeitos podem ser mais severos e duradouros, prejudicando os produtores.

Safra norte-americana: até 11 de maio, 62% da área de milho nos EUA estava plantada, avanço de 22 pontos percentuais em uma semana, ficando 15 pontos à frente do ano passado e 6 pontos acima da média dos últimos cinco anos, com destaque para Iowa (76%), Nebraska e Minnesota (acima de 73%). Cerca de 30% da área ainda enfrenta seca, especialmente no centro-norte do Corn Belt, apesar de chuvas recentes que melhoraram algumas regiões. A previsão indica chuvas contínuas no Corn Belt, beneficiando áreas secas, mas podendo atrasar o plantio em Missouri, Illinois e Indiana, com temperaturas abaixo da média e risco de geadas pontuais no norte, sem previsão de danos generalizados.

EUA x China x Brasil: o mercado internacional de milho promete continuar agitado nos próximos meses, com destaque para a relação entre EUA, China e Brasil. Segundo o USDA, os Estados Unidos venderam 2,75 milhões de toneladas métricas de milho para a safra 2025/26, o maior volume registrado para esta época em três anos. Esse número se destaca especialmente pela ausência de compras significativas da China até o momento, país que historicamente representa uma parcela importante das exportações americanas. A situação se complica ainda mais com o Brasil, cuja segunda safra de milho, fortemente voltada para exportação, deve crescer 11% nesta temporada, com a colheita ganhando ritmo nas próximas semanas.

Com a expectativa de uma supersafra no Brasil e a possível redução na demanda por milho, causada pela desaceleração nas exportações devido à detecção da gripe aviária, a tendência é de queda nos preços do milho. Nesse cenário, os produtores precisam estar atentos para aproveitar as melhores oportunidades de venda.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Agritechnica 2025