Mapa digitaliza mais de 80 serviços e gera economia para o produtor rural
Redução de custos para os produtores é estimada em R$ 43 milhões ao ano. A meta para 2021 é ter mais 77 serviços transformados em digitais
O bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella) é um microlepidóptero pertencente à família Lyonetiidae. Sua origem é africana, detectado no Brasil somente em 1851, devido à presença de mudas infestadas trazidas da Ilha de Bourbon e das Antilhas. Esse inseto possui tamanho aproximado de 6,5mm e coloração branca-prateada, sendo as asas anteriores constituídas de escamas escuras, com aspecto manchado na parte final. As fêmeas ovipositam aproximadamente 60 ovos durante seu ciclo de vida, principalmente no período da noite, onde depositam seus ovos (0,3mm de comprimento) na parte superior das folhas presentes geralmente no terço superior do cafeeiro. O período embrionário dura cerca de seis dias a oito dias, podendo haver variações de acordo com as condições climáticas, principalmente a temperatura. As lagartas abandonam os ovos e perfuram diretamente as folhas, se alojando no mesofilo foliar onde se desenvolvem, destruindo o parênquima e posteriormente dão origem às “minas”.
Quando as lagartas se desenvolvem totalmente (nove dias - 40 dias), atingem ao redor de 3,5mm de comprimento e tecem um fio de seda por onde se deslocam para folhas do terço inferior da planta. Geralmente, na parte inferior das folhas as lagartas tecem casulos de coloração branca e com formato característico de “X”, onde passam para a fase de pupa com duração de cinco dias a 26 dias. Após esse período, emergem as micromariposas na proporção de um macho para uma fêmea, cuja longevidade média é de 15 dias. O ciclo biológico pode variar de 19 dias a 87 dias e, em condições favoráveis, podem ocorrer oito gerações/ano a 12 gerações/ano.
Os sintomas causados por esses insetos são mais visíveis na parte superior da planta, ocorrendo intenso desfolhamento em casos de alta infestação. Pesquisas conduzidas no Sul de Minas Gerais demonstraram que o ataque do bicho-mineiro, na época de floração do cafeeiro, pode causar redução de mais de 50% na produção devido à desfolha.
Devido ao fato de a lagarta romper o córion do ovo pela parte inferior e penetrar diretamente no mesofilo foliar, e não ter contato com o meio externo, é preciso se atentar quanto à utilização de produtos para o seu controle, visto que o inseticida deverá alcançar a lagarta nesse local.
Existem duas formas de amostragem do bicho-mineiro, a comum e a sequencial. Na amostragem comum, recomenda-se dividir a lavoura em talhões de aproximadamente 5ha a 10ha, homogêneos, de acordo com tipo de solo, relevo e número de plantas. Deve-se começar as amostragens da praga no início do período de seca. O caminhamento deve ser feito em zigue-zague na lavoura e escolher 20 plantas ao acaso, de onde devem ser avaliadas três folhas no 3º par do ramo e 4º par do ramo, presentes no terço médio da planta.
Ao final serão 60 folhas observadas quanto à presença de pelo menos uma mina intacta por folha, ou seja, sem perfurações. Esses dados são anotados em uma planilha de campo simples e o cálculo da infestação é feito multiplicando-se o total de folhas com minas pelo valor fixo de 1,67 (Tabela 1).
O nível de controle do bicho-mineiro no Sul de Minas Gerais é de 30% de folhas com pelo menos uma mina intacta. Já no Cerrado esse nível pode ser menor em função das condições ambientais mais favoráveis ao seu crescimento populacional. Caso o nível de controle não seja atingido, deve-se realizar novas amostragens após 15 dias a 30 dias. A amostragem deve ser repetida durante todo o período seco do ano.
Outro tipo de amostragem é a sequencial, onde também é realizada a divisão dos talhões homogêneos, porém o caminhamento é realizado em espiral de fora para dentro do talhão. A escolha da folha é semelhante à amostragem comum. Contudo, na amostragem sequencial a amostra consiste em apenas uma folha/planta. Dessa forma, deve-se considerar que, por vezes, uma ou mais folhas do 3º par e do 4º par possam ter caído e para evitar uma amostragem tendenciosa, recomenda-se observar primeiramente as folhas do 4º par, e na falta dessas, observar as folhas do 3o par. Se no ramo a ser amostrado não houver folhas nos 4o e 3o pares, realizar a amostragem em outro ramo do terço mediano da planta.
Na amostragem sequencial adota-se a “nota acumulada” para medida do nível de infestação. Dessa forma, é atribuída a nota 0 para folha que possuir pelo menos uma mina intacta e nota 1 para folha que não possuir mina intacta. Essas notas deverão ser somadas de forma cumulativa e anotadas em uma planilha de campo (Tabela 2)
Exemplo: na Tabela 2 observa-se que a folha amostrada na primeira planta não estava minada e recebeu nota 1; a segunda estava minada e recebeu nota 0; portanto, o valor acumulado é igual a 1 (nota da 1ª planta + nota da 2ª planta); a terceira não estava minada e, assim, obteve-se o valor acumulado de 2 (nota acumulada + nota da 3ª planta); a 4ª estava minada e recebeu nota 0, permanecendo a nota acumulada igual a 2; a 5ª e a 6ª folhas, não estando minadas receberam nota 1, perfazendo notas acumuladas iguais a 3 e 4, respectivamente; a 7ª folha, estando minada, originou um valor acumulado igual a 4 (nota acumulada + nota da 7ª planta), e assim sucessivamente. A partir da 10ª folha amostrada, continua-se a amostragem até que uma das alternativas abaixo seja verdadeira:
1ª - Quando a nota acumulada for menor que a do limite inferior da tabela, interrompe-se a amostragem e recomenda-se o controle do bicho-mineiro.
2ª - Quando a nota acumulada for igual ou maior que a do limite superior, interrompe-se a amostragem e não se recomenda nenhum controle.
A amostragem sequencial dessa forma permite que a decisão seja tomada com antecedência, tornando a amostragem mais rápida e menos trabalhosa.
Plantas de cafeeiro cultivadas de forma mais adensada inibem o desenvolvimento e a multiplicação do bicho-mineiro, visto que maior umidade e menor penetração de luz e de ventos no interior da lavoura são condições contrárias às preferências dessa praga.
Correntes de ar (vento), muitas das vezes, são as responsáveis pelo transporte de insetos adultos até a lavoura. Desta forma, a utilização de cerca viva ou quebra vento com plantas de grevilha, bananeira, leucena ou sansão-do-campo impede que o vento chegue até os cafeeiros levando o bicho-mineiro. Além disso, as superfícies das folhas ficarão mais úmidas, o que é desfavorável à oviposição do bicho-mineiro.
Foi constatada menor porcentagem de folhas com minas intactas em cafeeiros protegidos por leucena quando comparado a outras três espécies de leguminosas como guandu, bracatinga e acácia (Reis, 2017), mostrando a importância da implantação dessa estratégia no manejo do bicho-mineiro.
O manejo do mato em lavouras cafeeiras deve ser realizado por meio de capinas nas linhas e roçagem nas entre linhas, mantendo essa vegetação na altura do joelho para a proteção do solo e servir como plantas hospedeiras para a manutenção de inimigos naturais.
A preferência no uso da adubação orgânica pode ser levada em consideração, pois melhora a absorção de nutrientes e aumenta a condutividade hidráulica, além de que uma planta de café bem nutrida fica mais tolerante ao ataque de pragas.
No mercado ainda não são encontrados predadores e parasitoides em grandes quantidades para serem adquiridos e liberados em lavouras cafeeiras para o controle do bicho-mineiro. Porém, existem algumas espécies que são encontradas naturalmente associadas a essa praga, destacando-se alguns parasitoides himenópteros das famílias Braconidae, como Colastes letifer, Eubadizon punctatus e Mirax sp., e Eulophidae, como Neochrysocharis coffeae, Tetratichus sp. e Horisnemus sp. Os parasitoides dessas duas famílias podem promover 16% a 30% de controle do bicho-mineiro, enquanto os predadores da família Vespidae podem causar reduções populacionais dessa praga de 33% a 69%. Isto demonstra a importância da manutenção desses organismos em lavouras cafeeiras com o objetivo de regulação do crescimento populacional do bicho-mineiro.
Ocorre por meio do uso de armadilhas tipo delta com feromônio sexual sintético acoplado a uma base adesiva. Esse tipo de armadilha vem sendo utilizado para o monitoramento populacional do bicho-mineiro para determinar o momento mais adequado para a tomada de decisão quanto ao seu controle. É recomendada a instalação de uma armadilha por hectare a cerca de um metro da superfície do solo. A inspeção das armadilhas deve ser realizada a cada três dias, sendo que o liberador de feromônio geralmente é trocado a cada 30 dias.
Os inseticidas podem ser aplicados no período seco do ano, de junho a meados de setembro, caso a densidade populacional da praga alcance o nível de controle. Pode-se realizar pulverizações com produtos de contato com ação de profundidade como organofosforados, que em geral possuem curto período residual (20 dias a 35 dias), associados a um piretroide que possui maior poder residual, além de que as pulverizações devem ocorrer na parte da manhã ou no final da tarde para evitar a evaporação do produto no ambiente e fitotoxicidade às plantas.
Existem 138 produtos comerciais registrados para o controle do bicho-mineiro do cafeeiro (Mapa, 2020), pertencentes aos grupos químicos dos organofosforados (clorpirifós e tebufós), carbamatos (cloridrato de cartape), piretroides (lambda-cialotrina, cipermetrina, deltametrina, fenpropatrina e beta-cipermetrina), avermectinas (abamectina), neonicotinoides (tiametoxam e imidacloprido), diamidas antranílicas (clorantraniliprole), espinosinas (espinozade), tetranortriterpenoide (azadiracthina) e benzoilureias (teflubenzurom, lufenurom e novalurom).
Salienta-se que o uso dos adjuvantes óleo mineral ou vegetal nas doses de 0,25% a 0,5% na calda química auxilia na fixação do inseticida junto ao tecido foliar, bem como contribui para menor deriva.
Aplicação de inseticidas sistêmicos como tiametoxam e imidacloprido via solo também pode ser realizada, seja via “drench” (esguicho) na região do colo da planta ou em filete próximo ao tronco. Esse tipo de aplicação é recomendado para o manejo preventivo em regiões com altas incidências dessa praga, e geralmente é realizada no período chuvoso, para que os produtos possam ser absorvidos pelas raízes da planta e levados para a parte aérea via xilema, onde irão proporcionar em torno de 50 dias a 100 dias de proteção.
Vale ressaltar que o preparo da calda química deve ser realizado com uso de água com pH de 5 a 6,5 e nunca alcalino.
Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na área do manejo integrado do bicho-mineiro-do-café buscando formas alternativas de controle como estudo de parasitoides para atuar no controle biológico, novas armadilhas utilizando feromônios para monitoramento, além de pesquisas com novas cultivares que objetivam a resistência genética contra essa praga.
Karolina Gomes de Figueiredo, Nathan Jhon Lopes, Gabriel Tadeu de Paiva Silva, Lara Sales, Geraldo Andrade Carvalho e Adriana de Paula Mendonça, Universidade Federal de Lavras – Ufla Lavras, Minas Gerais
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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