Semeadura do milho em diferentes superfícies

Como se dão desenvolvimento e crescimento em diferentes superfícies, em função da declividade do terreno e da exposição aos raios solares

29.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

A semeadura é uma das etapas mais importantes na implantação de uma lavoura. Muitos são os fatores, bióticos e abióticos, que interferem na produtividade do milho. O potencial de uso e de ocupação de terras depende das características ambientais do local. No caso do milho, os fatores edafoclimáticos são os mais importantes para o desenvolvimento da cultura.

O milho ocupa a segunda posição das culturas mais produzidas no Brasil, sendo precedido pela soja. Nas safras de 2019, foram mais de 17 milhões de hectares de área cultivada, representado aumento de 5,3% em relação à safra anterior. A produção estimada para o ano de 2019, de 99,984 milhões de toneladas, representou aumento de 23,9% em relação à produção anterior.

O milho é uma cultura de grande importância para a alimentação humana e animal, geração de energia com a produção de combustíveis e matérias-primas para outros fins. Analisar o espaço, baseado em informações de topografia do terreno e temperatura do dossel vegetativo, pode fornecer tecnologias de manejo acessíveis ao produtor rural.

O potencial de uso e de ocupação de determinada área depende bastante das características ambientais do local. O milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação pluviométrica e o fotoperíodo, atinjam patamares considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo.

Em áreas onde a declividade do terreno varia, a radiação total recebida durante um ciclo produtivo difere, podendo haver interferência no desenvolvimento da cultura. Os processos fisiológicos são influenciados por fatores climáticos (precipitação, radiação solar e temperatura) e parâmetros físico-químicos do solo (disponibilidade hídrica e nutrientes), fatores estes que geram parâmetros para serem correlacionados em diferentes terrenos, observando a alteração na produtividade.

A deficiência hídrica pode limitar o funcionamento das atividades das plantas, como redução da absorção e acúmulo de nutrientes, alteração na proporção raiz/parte aérea e produção de massa seca total; devido à redução do crescimento radicular e à água servir de meio pelo qual os nutrientes minerais se deslocam do solo solução para as raízes da planta.

Com o objetivo de avaliar o crescimento do milho em diferentes superfícies, em função da declividade do terreno e da exposição aos raios solares incidentes nas plantas, um trabalho foi realizado no Departamento de Engenharia e Ciências Exatas da Unesp/FCAV, Campus de Jaboticabal, São Paulo, Laboratório de Instrumentação, Automação e Processamento (Liap).

O trabalho foi conduzido em estrutura que simula superfícies com exposições aos raios solares (Norte e Sul) e declividades (0%, 10%, 30% e 50%), com 10,5m2 (3,5m x 3m).

As superfícies foram preenchidas com solo previamente homogeneizado, classificado como Latossolo Vermelho Escuro, Eutrófico. O clima da região é do tipo Cwa, precipitação média anual de 1.400mm, temperatura média anual de 22°C e umidade relativa média do ar de 70%.

O trabalho foi realizado no período de safra 2018/19. Irrigadas, foi utilizado turno de rega de três e quatro dias durante o ciclo da cultura. A reposição de água no solo, no turno de rega, foi realizada de acordo com a soma da evapotranspiração da cultura.

O híbrido de milho utilizado foi o Pioneer P4285VYHR, que possui gene Roundup Ready e tecnologia Leptra. Foi realizado revolvimento manual do solo na linha de semeadura.

A semeadura foi realizada de forma manual, com auxílio de régua graduada, (Figura 1), sendo depositada uma semente por cova a cada 0,4m, totalizando sete plantas por linha, respeitando a população de 55 mil plantas por hectare. O espaçamento entre as linhas foi de 0,45m.

Figura 1 - Régua graduada. Jaboticabal, SP, 2018
Figura 1 - Régua graduada. Jaboticabal, SP, 2018

Na semeadura foi utilizada adubação de 250kg/ha do formulado 08-28-16. Foi realizada adubação de cobertura 20-00-20 aos 30 dias após semeadura (DAS). Por fim, realizou-se adubação nitrogenada aos 60 DAS.

Os dados meteorológicos referentes ao período de condução do experimento foram fornecidos por Estação Meteorológica Automatizada, marca Davis Instruments, instalada próximo à área experimental, com abrangência do ciclo da cultura do milho. A estação foi equipada com sistema de aquisição de dados Vantage Pro Plus Wireless, onde foram mensuradas radiação solar global; temperatura e umidade relativa do ar; velocidade do vento e precipitação pluviométrica e a evapotranspiração de referência (ETo).

Foram instalados, no centro de cada superfície, dois tensiômetros com vacuômetros tipo Bourdon. Estes foram calibrados em relação a tensiômetros de mercúrio, sendo um instalado a 20cm e o outro a 40cm de profundidade (Figura 2). A irrigação foi realizada por gotejamento com seis mangueiras, gotejadores espaçados a 20cm, vazão de 90L/h.

Figura 2 - Tensiômetros com vacuômetros tipo Bourdon. Jaboticabal, 2019
Figura 2 - Tensiômetros com vacuômetros tipo Bourdon. Jaboticabal, 2019

Componentes meteorológicos

Na Figura 3, são apresentadas as temperaturas máxima, mínima e média do período de condução do experimento. Observou-se que a maior temperatura foi de 36,11°C aos 14 dias após a semeadura e a temperatura mínima foi de 14,6°C, aos 40 dias após a semeadura.

Figura 3 - Temperatura máxima, média e mínima do período de condução do experimento. Temp. Méd= Temperatura média; Temp Máx= Temperatura máxima; Temp Mínima=Temperatura mínima
Figura 3 - Temperatura máxima, média e mínima do período de condução do experimento. Temp. Méd= Temperatura média; Temp Máx= Temperatura máxima; Temp Mínima=Temperatura mínima

Na Figura 4, foram apresentados os valores de umidade máxima, média e mínima do ar. Observou-se, em vários dias, umidade máxima de 100% e a mínima, próximo à colheita do experimento, de 24%.

Figura 4 - Umidade máxima, média e mínima do ar durante o período de condução do experimento. Umid. Méd= Umidade média; Umid. Máx= Umidade máxima, Umid. Mín=Umidade mínima
Figura 4 - Umidade máxima, média e mínima do ar durante o período de condução do experimento. Umid. Méd= Umidade média; Umid. Máx= Umidade máxima, Umid. Mín=Umidade mínima

De acordo com a literatura, os valores obtidos neste trabalho de temperatura e umidade estão dentro do recomendado para o correto desenvolvimento do milho, onde a temperatura ideal está em torno de 35°C e a umidade acima de 50%.

Na Figura 5 observam-se os valores de radiação solar global durante a condução do experimento. Observou-se que a quantidade de radiação incidente no dossel da cultura do milho foi diferente nos tratamentos. As superfícies horizontais (0) acumularam maior quantidade de radiação global, 2212,91 MJ m -2 d-1 e, consequentemente, maior quantidade de radiação fotossinteticamente ativa, 911,91 m -2 d-1. Seguida das superfícies horizontais, o tratamento 10%S recebeu 2201,3 MJ m -2 d-1 de radiação global e 907,1 MJ m -2 d-1 de PAR. Os demais tratamentos acumularam valores entre 2203,0 e 1989,5 MJ m -2 d-1 e 907,9 e 819,2 MJ m -2 d-1 para radiação global e PAR, respectivamente.

Figura 5 - Valores de Radiação Global e Radiação fotossinteticamente ativa durante a condução do experimento. Rad Global = Radiação Global; Rad PAR= Radiação fotossinteticamente ativa
Figura 5 - Valores de Radiação Global e Radiação fotossinteticamente ativa durante a condução do experimento. Rad Global = Radiação Global; Rad PAR= Radiação fotossinteticamente ativa

Para a variável altura de plantas, Figura 6, foram encontradas maiores médias nas superfícies 30S, 10S e 30N, respectivamente. Observou-se que os valores não acompanharam os maiores valores de radiação. Pela quantidade de radiação recebida ser bastante próxima, estimam-se valores de altura de planta próximos também.

Figura 6 - Valores para altura de plantas obtidos no experimento, em cm
Figura 6 - Valores para altura de plantas obtidos no experimento, em cm

Componentes fitotécnicos

Para a variável massa de matéria seca de plantas (MMS) foram observados maiores valores 10N, 30S e 10S, respectivamente (Figura 7). Maior quantidade de MMS é interessante para o produtor, seja qual for a finalidade da produção do milho: alimentação animal, cobertura do solo. Aumentar a quantidade de MMS sem reduzir a massa de grãos é tarefa a ser seguida, pois os grãos têm maior valor agregado e maior valor nutricional para alimentação humana e animal.

Figura 7 - Valores para massa de matéria seca de plantas obtidos no experimento, em t/ha
Figura 7 - Valores para massa de matéria seca de plantas obtidos no experimento, em t/ha

Para a variável produtividade (Figura 8), observaram-se maiores médias nas superfícies 30N, 10S e 50S. A maior média de produtividade, 13,2t/ha, foi obtida na superfície 30N, seguida de 12,5t/ha na superfície 10S. Estes valores estão acima da média dos encontrados no Brasil, que é de 5,35t/ha.

Figura 8 - Valores para produtividade de grãos obtidos no experimento, em t/ha
Figura 8 - Valores para produtividade de grãos obtidos no experimento, em t/ha

Esses valores foram obtidos devido aos tratos na condução da cultura, onde foram realizados adubação, irrigação e controle de plantas daninhas. As condições do solo da região, onde predomina maior quantidade de argila, quantidade de radiação, umidade e temperatura, também podem ter influenciado no correto desenvolvimento da cultura. Como já mencionado neste trabalho, o conjunto das condições edafoclimáticas faz com que a cultura atinja o máximo do potencial genético.

Considerações finais

A exposição a que as plantas foram submetidas pode influenciar no desenvolvimento da cultura do milho. Neste experimento foi encontrada maior produtividade quando as plantas foram expostas ao Norte, a 30% de declividade do terreno. As condições geográficas do terreno devem ser levadas em consideração para implantar culturas em campo, a fim de que se possa aproveitar melhor os insumos disponíveis e os que serão ofertados.

Jean Lucas Pereira Oliveira, Marcelo Rodrigues Barbosa Júnior, José Eduardo Pitelli Turco, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Armando Lopes de Brito Filho Unesp

Cultivar Grandes Culturas Novembro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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