Manejo de pastagens em áreas de arroz pode diminuir em 50% o uso de insumos

A pesquisa com manejo de pastagens em Integração Lavoura-Pecuária (ILP) tem indicado possibilidade de redução de 50% no uso de fertilizantes para restabelecimento das lavouras de arroz na mesma área

09.10.2017 | 20:59 (UTC -3)
Francisco Lima​

A pesquisa com manejo de pastagens em Integração Lavoura-Pecuária (ILP) tem indicado possibilidade de redução de 50% no uso de fertilizantes para restabelecimento das lavouras de arroz na mesma área. O trabalho, desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) nas propriedades localizadas ao entorno da Estação Ecológica do Taim (Esec Taim), em Santa Vitória do Palmar/RS, é realizado desde 2014 na região e foi tema de um Dia de Campo realizado na Fazenda Santa Cândida no dia 05 de outubro.

Basicamente, a estratégia consiste na adubação das pastagens e do campo nativo, no ajuste de carga animal e na ressemeadura natural do azevém e das demais leguminosas para rotação com as lavouras após fim do ciclo médio de quatro anos. Segundo o pesquisador da Embrapa Jamir Silva, responsável pelo trabalho, a recuperação do solo na fase de pastagens estrutura melhor a área para, posteriormente, receber as lavouras. “A gente defende que a adubação seja de sistema e que venha para o solo na fase de pastagem”, afirma.

De acordo com Jamir, a redução de insumos, se atingir 50%, pode resultar em economia em torno de 600 reais por hectare nas lavouras. Isso, se somado ao plantio de arroz convencional – que utiliza herbicidas com menor fitotoxidade às pastagens – e ao plantio direto – que causa menos impacto no solo –, pode ainda agregar valor ao produto final por meio de certificação nacional de sustentabilidade.

Ganho animal No que diz respeito ao gado, o trabalho tem gerado incremento produtivo nas propriedades com manejo de pastagens e ajuste de carga animal. Na propriedade de Cláudio Silva, anfitrião do Dia de Campo, os animais atingem cerca de 310 kg até um ano de idade e 450 kg em torno de 18 a 24 meses. Em sistemas convencionais, a média é de 200 kg neste mesmo período. O ganho de peso vivo gira na média de 500 kg/ha. No sistema convencional a média é de 150 kg/ha.

Desde o início do trabalho a Fazenda abriga uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) para a pesquisa com manejo de pastagens. Com desconfiança no início, seu Cláudio dedicou cinco hectares à experiência. Mas, devido aos bons resultados, destina hoje 140 dos 460 hectares da propriedade às pastagens – azevém, trevo-branco e cornichão – para criação de gado de corte. O restante é dedicado ao campo nativo. Mas, a intenção é aumentar mais 60 hectares no ano que vem, chegando a 200 hectares dedicados às pastagens. 

Uma das orientações-chave do trabalho é saber quando colocar os animais nas pastagens e qual a carga animal por área. No Dia de Campo, ressaltou-se a importância de se colocar os animais mais jovens na melhor alternativa alimentar existente nas propriedades – nas melhores pastagens –, tendo em vista o menor consumo com maior ganho em peso vivo. Os animais mais velhos, prontos para a comercialização, devem ser colocados junto às áreas de pastagens mais antigas, com complementação de grãos. 

Na Fazenda, a experiência foi realizada com nove animais, gerando menores gastos e retorno mais rápido no engorde do rebanho e na ressemeadura, nos anos seguintes. “Prefiro que sempre sobre um pouquinho de pastagem. A gente tem que estar sempre olhando para frente. É semeadura garantida”, completa o produtor.

Dia de Campo Este é o quinto Dia de Campo realizado na propriedade desde que o trabalho teve início. No começo, a ideia foi orientar os produtores sobre como fazer o manejo correto das pastagens. Depois, buscou-se demonstrar as melhores técnicas para se estimular a ressemeadura natural. No momento atual, os pesquisadores estão trabalhando para preparar as áreas para retorno das lavouras.

No Dia de Campo foram abordadas a ressemeadura natural, adubação e desempenho animal nas pastagens de segundo ano; e o manejo das pastagens melhoradas (nativas) de terceiro ano e quarto ano, com preparo das áreas para possibilidade de retorno das lavouras. Segundo Jamir, para completar o ciclo de avaliação e dar mais densidade aos números, seria importante analisar ainda a lavoura de arroz já estabelecida e a retomada ao ano zero, cinco ou seis anos depois do início do trabalho. A análise, no entanto, depende de adesão dos lavoureiros parceiros, já que os produtores da região, geralmente, criam gado e arrendam as áreas para o plantio de grãos.

Para o coordenador da Esec Taim, Henrique Ilha, o trabalho representa soluções concretas para que o produtor pague suas contas no fim do mês e, ao mesmo tempo, preserve o meio ambiente, resolvendo um impasse entre produção e conservação. Por isso, reforça a necessidade de mais produtores aderirem ao processo. “Precisamos de mais gente apostando. Tem que vir nos Dias de Campo e incorporar, no seu ritmo, alguma dessas técnicas. Para que possamos falar de três, cinco, sete produtores. Agora está mais fácil apostar”, disse.

Ao todo, o Dia de Campo reuniu cerca de 40 pessoas, entre pesquisadores, técnicos e produtores da chamada Zona de Amortecimento do Taim – área em torno de 63 mil hectares e que abriga cerca de 50 propriedades ao entorno da estação ecológica. A atividade é uma realização conjunta da Embrapa, Emater/RS-Ascar, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)/Esec Taim, e Associação dos Produtores Rurais do Curral Alto e Albardão.

Após expansão no início deste ano, a Esec Taim conta hoje com uma área de 33 mil hectares conservados.


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