Luz ultravioleta combate podridão de melão

22.09.2015 | 20:59 (UTC -3)
Verônica Freire

A aplicação de flashes de luz ultravioleta (UV) pode evitar que cerca de 15% da produção nacional de melão se perca entre a colheita e a mesa do consumidor. Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) observaram que a UV pulsada pode controlar o fungo Fusarium pallidoroseum, o principal agente da podridão do melão.

A infecção pode ocorrer no campo, logo após a colheita ou na empacotadora. Mesmo sob baixas temperaturas, necessárias para a exportação, o patógeno continua ativo. O grande problema é que existe apenas um agroquímico registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o tratamento da podridão pós-colheita do melão, o Imazalil.

Conforme explica o pesquisador Ebenezer Silva, da Embrapa Agroindústria Tropical, há uma preocupação com as dosagens recomendadas do agroquímico, bem como com o período de carência (compreendido entre a última aplicação e o consumo). A falta de rigor na aplicação pode resultar na presença de resíduos acima dos limites máximos permitidos pela legislação.

O desafio dos pesquisadores é encontrar tecnologias limpas para combater o problema. Entre as alternativas estudadas, estão a termoterapia; a aplicação de compostos naturais, como óleos essenciais de espécies botânicas; e o uso de luz ultravioleta.

A luz ultravioleta contínua já é utilizada no controle de microrganismos em alimentos, água e ar. Diferente da luz aplicada de forma contínua, no modelo pulsado, a luz ultravioleta é armazenada em um capacitor e é liberada em flashes intermitentes, o que aumenta de forma instantânea a intensidade de energia. Por isso, o ultravioleta pulsado é mais efetivo e mais rápido na inativação de microrganismos. "O método não apresenta efeitos nocivos à saúde, não deixa resíduos e ainda pode aumentar o poder antioxidante das frutas", completa o pesquisador.

Os pesquisadores da Embrapa observaram que o tratamento com luz ultravioleta pulsada pode apresentar um efeito prolongado de proteção dos melões. Isso ocorre porque a luz afeta o metabolismo do fruto e aumenta o teor de compostos fenólicos (substâncias antioxidantes) que atuariam como uma espécie de vacina contra o ataque de microrganismos.

Os cientistas ainda estão analisando a intensidade adequada de luz para o tratamento das frutas, mas os primeiros resultados são animadores. "Serão necessários novos projetos para finalização da tecnologia", explica o pesquisador. Também participam dos trabalhos especialistas da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) e Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ).

"Já se sabia que este tipo de tratamento físico era eficiente durante a aplicação, mas foi observado efeito prolongado, pois a luz afeta o metabolismo e induz a síntese de compostos que continuam colaborando para a proteção da fruta contra novas contaminações", revela o cientista. Os pesquisadores observaram também que com a UV pulsada o melão pode demorar mais a amadurecer, o que é uma grande vantagem para os produtores, pois aumenta o tempo de transporte e prateleira. Isso ocorre porque a luz reduz o efeito das enzimas que atuam no amadurecimento.

A pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical Andréia Hansen Oster defende que o estabelecimento de todos os parâmetros para aplicação do método na cultura do melão será extremamente útil para os produtores. "Os consumidores têm interesse em produtos oriundos de cadeias produtivas que utilizam tecnologias limpas", afirma. Após a finalização, a tecnologia poderá ser usada por cooperativas ou grandes fruticultores para agregar valor aos melões e aumentar a qualidade.

575,39 mil toneladas (1,8% da produção mundial) de melão foram produzidos no Brasil em 2012 (FAO).

181,77 mil toneladas (32% do total produzido) foram exportadas, gerando US$ 134,11 milhões (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC) - o que representou a segunda colocação na pauta de exportações brasileiras de frutas frescas.

23 mil hectares foi a área ocupada com plantações de melão no Brasil em 2012 (FAO).

A região Nordeste foi responsável por 93% da área total cultivada (IBGE) e por 99,12% do total exportado pelo Brasil (MDIC) – com destaque para os Estados do Ceará (55,73%) e do Rio Grande do Norte (43,39%). Os números referem-se ao ano de 2012

A radiação ultravioleta corresponde a cerca de 9% de toda a energia do Sol que chega à superfície da Terra. É um tipo de radiação eletromagnética com comprimento de onda de 200 a 400nm (nanômetro) e de frequência maior que a luz visível (o nome ultravioleta se dá porque violeta é a cor de maior frequência que a visão humana consegue enxergar).

A radiação ultravioleta é classificada em UVA, UVB e UVC, dependendo das faixas de radiação. Os raios UVC, que apresentam um comprimento de onda menor que 280nm, são aplicados, por meio de fontes artificiais, na esterilização de materiais cirúrgicos e em processos de tratamento de água. É este tipo de radiação a ser utilizada no tratamento de frutas. É um tipo de esterilização considerada segura, sobretudo porque não apresenta efeito residual.

Denomina-se pós-colheita o conjunto de técnicas aplicadas na conservação de produtos agrícolas, entre a colheita e o consumo ou o processamento. Essa fase é crucial, porque grãos, hortaliças, tubérculos e frutas continuam com seu metabolismo ativo entre a produção e a mesa dos consumidores.

Foto: Claudio Noroes

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