Laranjeiras transgênicas resistem à pinta-preta e ao cancro-cítrico

Pesquisa mostra que a redução do composto D-limoneno no fruto estimula produção de álcool monoterpênico

11.12.2025 | 08:38 (UTC -3)
Revista Cultivar
Sintomas de pinta-preta cítrica na casca de laranjas doces das linhagens geneticamente modificadas (GM) ‘Navelina’ AS1, AS5 (A)-(B) e do controle ‘Navelina’ não-GM (C); e sintomas de cancro-cítrico em frutos das linhagens geneticamente modificadas ‘Pineapple’ AS10, AS11 (D)-(E) e do controle ‘Pineapple’ não-GM (F) - doi.org/10.1002/ps.70421
Sintomas de pinta-preta cítrica na casca de laranjas doces das linhagens geneticamente modificadas (GM) ‘Navelina’ AS1, AS5 (A)-(B) e do controle ‘Navelina’ não-GM (C); e sintomas de cancro-cítrico em frutos das linhagens geneticamente modificadas ‘Pineapple’ AS10, AS11 (D)-(E) e do controle ‘Pineapple’ não-GM (F) - doi.org/10.1002/ps.70421

Trabalho conduzido no interior de São Paulo demonstrou que frutos de laranjeiras transgênicas ‘Navelina’ e ‘Pineapple’ apresentam resistência parcial às doenças pinta-preta (causada por Phyllosticta citricarpa) e cancro-cítrico (causada por Xanthomonas citri). As plantas avaliadas possuem um gene que reduz a produção de D-limoneno, composto abundante na casca, e aumentam a concentração de álcoois monoterpênicos, principalmente linalol.

Na cultivar ‘Navelina’, a severidade da pinta preta nos frutos foi reduzida em até 45% em duas safras consecutivas. Essa redução coincidiu com uma queda de até 98% nos níveis de D-limoneno e um aumento de até 7 vezes na concentração de linalol na casca. O composto apresentou potencial antifúngico, mesmo quando os sintomas da doença superaram 90% de incidência em todas as plantas.

Já na cultivar ‘Pineapple’, a incidência de cancro cítrico foi reduzida em mais de 68% nos frutos das linhas transgênicas AS10 e AS11. A concentração de D-limoneno nesses frutos foi reduzida em até 99%, enquanto os álcoois monoterpênicos dobraram. A menor incidência sugere que o acúmulo de linalol dificultou a adesão inicial da bactéria. No entanto, o número de lesões por fruto não diminuiu de forma consistente, indicando que outros mecanismos ainda precisam ser ativados para conter o avanço da infecção.

Modificação genética

Modificação genética foi feita no gene CitMTSE1, responsável pela síntese de D-limoneno. A inserção do gene em orientação antissenso reprogramou o metabolismo dos terpenos no fruto, sem alterar produtividade, formato, sabor, teor de sólidos solúveis ou vitamina C.

As plantas foram cultivadas em pomar experimental em Ibaté, autorizado pela CTNBio. Durante o desenvolvimento dos frutos, não foram aplicados bactericidas nem fungicidas, com o objetivo de favorecer a infecção natural. No caso da pinta-preta, foi feita inoculação artificial para garantir os sintomas.

Apesar das diferenças nos resultados entre as cultivares, os pesquisadores destacam que a resistência observada tem potencial para ser incorporada ao manejo integrado das doenças. As aplicações de cobre e estrobilurinas, atualmente essenciais, podem ser reduzidas com o uso de plantas transgênicas. Estudos anteriores apontam que o ajuste no número de pulverizações pode gerar economia de até US$ 14,3 milhões por safra apenas no cinturão citrícola paulista.

Acúmulo de linalol

Os autores sugerem que o acúmulo de linalol estimula a expressão de genes relacionados à defesa da planta, mesmo que o D-limoneno, por si só, não possua efeito antimicrobiano direto. Também indicam que o perfil de terpenos na casca pode ser mais determinante que a simples redução do D-limoneno na proteção contra patógenos.

Pesquisas futuras devem avaliar a durabilidade da resistência em outras regiões e cultivares, além de testar combinações com outros genes que ativem compostos de defesa, como flavonoides. A estratégia de modulação metabólica pode oferecer novas soluções sustentáveis para a citricultura, especialmente frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelo comércio internacional.

O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores Geraldo José Silva-Junior, Thiago de Aguiar Carraro, Rafael Angelo Gonçalves Smirne, Rafaele Regina Moreira, Nelson Arno Wulff, Leandro Peña, Rodrigo Facchini Magnani, Takehiko Shimada e Franklin Behlau.

Outras informações em doi.org/10.1002/ps.70421

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Background Newsletter

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura