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A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) reuniu quase 200 pecuaristas lesados pelo Frigorífico Independência na manhã desta quinta-feira (23/04) para discutir ações no momento de incerteza do recebimento.
O presidente da instituição, Ademar Silva Junior, pediu que o gado seja negociado à vista para evitar possíveis calotes de outros compradores. A conversa pode indicar uma mudança na forma de comercialização da carne, sem garantias aos pecuaristas. “Enquanto não houver garantias, não vendam seus animais ao frigorífico”, orientou Silva Junior.
A reunião é mais um esforço da instituição para reunir os produtores credores do Independência e ter mais poder de negociação no processo de recuperação judicial solicitado pela empresa em fevereiro. A juíza encarregada ainda não acatou o pedido, mas a decisão é dada como certa devido à necessidade de manter os postos de trabalho, também uma preocupação da FAMASUL que entende que a cadeia da carne depende tanto do pecuarista, quanto do trabalhador.
“Não é uma queda de braço, queremos ajudar nesta recuperação judicial e garantir o direito de recebimento dos pecuaristas. Sem eles, não há matéria-prima para continuar funcionando e gerando empregos”, garantiu Silva Junior.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada –CEPEA apresentados na reunião mostram a instabilidade do frigorífico. No último trimestre de 2008, mais de 86% do capital da empresa estava na mão de terceiros.
Desde o final de março, o Independência fechou 13 unidades, incluindo um centro de distribuição, e anunciou a demissão de aproximadamente seis mil funcionários, praticamente a metade de seu quadro total de empregados antes da crise. No último dia 5 de abril, no entanto, informou que iria retomar as atividades na unidade de Janaúba (MG), com recontratação de 300 empregados. Na última segunda-feira, dia 20 de abril, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Nova Andradina, Antônio Sérgio dos Santos, informou que o Independência retomaria as atividades no município.
O débito do Independência com pecuaristas sul-mato-grossenses é de aproximadamente R$ 50 milhões, cerca de 8% da dívida total da empresa, informa a Famasul. Produtores como Werner Busse, de Anastácio, que sempre confiaram no frigorífico, não viram o dinheiro cair na conta em pagamento ao gado vendido. “Esperei os R$ 83 mil que me devem por alguns dias e nada. Fiquei sabendo que eles já estavam demitindo quando fui conversar com o representante da empresa que me garantiu que a unidade seria reativada. Ainda estou esperando o pagamento”, conta Busse.
Adriano Rinaldi prefere segurar seu gado na propriedade a vendê-lo a prazo, sem nenhuma garantia de pagamento. “Enquanto isso eu vou tentando financiamento, fazendo outros negócios”, explica o pecuarista que tem mais de R$ 80 mil para receber do Independência.
O pecuarista também vê a necessidade de mudar a forma de comercialização do gado, sempre pendendo negativamente para o lado do produtor. “Você já foi ao açougue, comprou a carne e pesou na sua casa? Isso seria absurdo para o consumidor, por que deve ser normal para gente?”, reclamou Rinaldi.
A discussão está no começo, mas é possível que o caminho a seguir seja o mesmo do Rio Grande do Sul, que por sua vez se inspirou no modelo de venda do Uruguai. Nos dois lugares, o gado é vendido a peso vivo e à vista. Por aqui, negocia-se a carcaça do animal com prazo de pagamento de 30 dias.
A cadeia da carne não apresenta problemas só para pecuaristas. O pesquisador da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), Sergio de Zen, garantiu na reunião que vem mais problemas por aí se não houver mais transparência, responsabilidade e inovação no setor.
Carlos Henrique Braga
Sato Comunicação
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