II Moderpec encerra com reflexões sobre mercado, crise e futuro da pecuária

03.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

A crise econômica que ameaça a sustentabilidade dos petroquímicos baianos não deve atingir da mesma forma a agropecuária. Segundo o economista e ex-secretário de Planejamento da Bahia, Armando Avena, para os pecuaristas ela pode ser até benéfica. Avena foi um dos destaques do segundo e último dia do II Encontro de Produtores do Programa de Modernização da Pecuária de Corte da Bahia, o II Moderpec, que hoje foi além das questões técnicas da bovinocultura, para discutir mercado e o futuro da atividade, a partir da crise mundial que ganhou força desde novembro.

Avena argumenta que o segmento de carne na Bahia, promotor do evento, por ainda não exportar, não sentirá o impacto da recessão com a mesma intensidade dos produtores de grãos do Oeste do estado, por exemplo, que são grandes exportadores de commodities agrícolas, como soja, milho e algodão. Segundo o economista, a falta de crédito e o aumento do custo dos insumos são os efeitos mais danosos para os pecuaristas, assim como uma possível oferta extra de aves e suínos no mercado interno, com a redução das exportações desses produtos. No entanto, o aquecimento no consumo, que, ao contrário das classes mais altas, se mantém na classe C, pode ser um fator positivo para o segmento.

Para driblar as consequências da turbulência econômica, o economista recomendou o investimento em tecnologia nos rebanhos para melhorar a produtividade, redução dos custos de produção e diferenciação dos produtos. Otimista, Avena arriscou números modestos, mas não alarmantes, para 2009. Ele prevê crescimento do PIB da ordem de 4,10%, dólar a R$2, juros em torno de 13,25% ao ano, inflação de 4,10% e crescimento das vendas no varejo em cerca de 6%.

A Bahia tem condições de, sem derrubar uma única árvore, aumentar seu rebanho de, aproximadamente, 11 milhões de cabeças para 23 milhões de cabeças, aumentando a lotação nos pastos de 0,54 unidade animal (UA)/ha para 1,28 UA/ha. Quem garantiu isso foi o agropecuarista e químico Nelson Pineda, que coordena um grupo de trabalho que há seis meses está mapeando a cadeia produtiva da carne na Bahia, em uma parceria entre a iniciativa privada, entidades de classe dos produtores e Governo.

Para mais que dobrar a população bovina, Pineda diz que o estado terá de investir em manejo de pastagem, genética, e no aporte de outras tecnologias para a pecuária. O gado bovino, uma vocação antiga do estado, hoje participa com 11% no PIB baiano, enquanto as lavouras respondem por 62%. “É preciso mudanças estruturais para alcançar os resultados que esperamos. Isso começa com a implementação de marcos regulatórios para a organização da cadeia produtiva, especialmente, no que diz respeito ao combate à clandestinidade, que no estado chega ao fantástico número de 42%”, alerta o consultor.

Pineda chama de “complexo”o cenário da pecuária de corte na Bahia, marcado pela desorganização da cadeia produtiva e pela informalidade não apenas na oferta de carne, como também nas transações comerciais. “Grande parte dos acordos jamais foram escritos!”, afirma.

Fazem parte do grupo de trabalho coordenado por Nelson Pineda, a Federação dos Agricultores do Estado da Bahia (Faeb), Secretaria de Agricultura (Seagri), Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração (SICM), Secteraria de Ciência e Tecnologia (SECT), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Sebrae, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e Associação Baiana dos Criadores (Abac). O objetivo do time é fazer um raio x da pecuária baiana em todos os seus aspectos, inclusive legais e ambientais, e produzir ao final um um diagnóstico e recomendações decisivas para desenvolvê-la e torná-la competitiva.

O último dia do Moderpec contou com a presença do recém-empossado secretário da Agricultura do Estado da Bahia, Roberto Muniz, que assistiu à palestra de Pineda. “Esse é um material riquíssimo e o Governo do Estado não poderia estar de fora. Serão esses dados que balizarão as políticas públicas para o desenvolvimento do setor”, afirmou o secretário. Muniz elogiou o evento, que, junto com a Fenagro, tornou a cidade de Salvador um ponto de convergência do agronegócio nos últimos dois dias.

A organização do II Moderpec comemorou com o secretário o sucesso do seminário. “Ele superou todas as nossas expectativas e revela a avidez do nosso pecuarista por informação. Mostra que o produtor tem consciência de seu papel de gerador de economia real e que a união é o melhor caminho para o desenvolviemento da cadeia, que é o objetivo diário do nosso trabalho”, comentou o presidente da FAEB, João Martins da Silva.

O II Moderpec leva a assinatura da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Sebrae.

Catarina Guedes

Moderpec

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