IAC 2019Maria é a primeira tangerina totalmente desenvolvida no Brasil

Ela causa menor impacto ambiental graças à resistência à mancha marrom de alternaria, principal doença das tangerinas

27.11.2017 | 21:59 (UTC -3)
Carla Gomes

A IAC 2019Maria é a primeira cultivar de tangerina 100% obtida no Brasil, desenvolvida em 20 anos de pesquisa no Instituto Agronômico (IAC). Esta nova tangerina é também a primeira cultivar de citros do IAC protegida no Sistema Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Apesar de as tangerinas formarem o grupo mais importante de frutas de mesa consumidas no mercado nacional, até então tudo que se vende nas gôndolas são cultivares introduzidas no Brasil ou originadas de mutação. A IAC 2019Maria resulta de melhoramento genético convencional, isto é, não se trata de cultivar transgênica. A tangerina recebeu este nome por ser bem representativo do País, diz Mariângela Cristofani-Yaly, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

“Estamos oferecendo um produto diferenciado para a citricultura paulista”, garante Cristofani-Yaly. Para o setor de produção, o principal destaque desta nova cultivar é a resistência à mancha marrom de alternaria (MMA), uma doença específica das tangerinas, que reduz significativamente a produção do pomar. Com essa característica de resistência, a IAC 2019Maria causa menor impacto ambiental, por diminuir ou até eliminar a necessidade de pulverização, e reduzir os custos de produção, além de melhorar a qualidade do fruto. Além dessas vantagens, suas características, como menor número de sementes, coloração intensa e tamanho do fruto, agregam valor ao fruto.

O manejo de mancha marrom de alternaria requer várias aplicações de fungicidas, em áreas com a presença do fungo. “Esta doença afeta as principais variedades de tangerinas comercializadas no Brasil — a Ponkan e a Murcott. Há registros de produtores que fazem, por ano, até 25 aplicações de fungicidas”, diz Cristofani-Yaly. Os citricultores que fazem esse número de pulverizações de controle são aqueles que atendem aos mercados mais exigentes, onde o fruto manchado é recusado. A doença inviabiliza a produção para exportação, justamente por danificar a imagem do produto.

De acordo com Marinês Bastianel, pesquisadora do IAC também responsável pelo estudo, no Estado de São Paulo, as tangerinas Murcott e Ponkan representam 80% dos pomares. “Sem controle químico, em locais onde as condições ambientais favorecem o desenvolvimento do fungo, os citricultores não conseguem produzir a Murcott”, afirma. Porém, como não é todo produtor que consegue fazer todas as aplicações necessárias, muitos amargam as perdas decorrentes da alternaria, que envolvem queda do fruto, secamento de galhos e prejuízos para a produção do ano subsequente. As pesquisadoras relatam já ter havido erradicação da tangerina Murcott em razão da incidência da MMA.

Alta produtividade

O citricultor também tem outro fator relevante para adotar a Maria: a alta produtividade. Ela produz de 2 a 3 caixas de 40,8 kg, por planta, com frutos de maior calibre, o que valoriza o produto. A planta da IAC 2019Maria também tem menor porte, quando comparada com a tangerina Murcott, permitindo a instalação de maior número de pés por hectare, o que contribui para ampliar a produtividade. “A ideia é produzir o máximo por hectare, com qualidade”, diz Bastianel. A IAC 2019Maria também é mais precoce do que a Murcott, chegando a produzir com cerca de dois meses e meio de antecedência.

A nova tangerina foi testada de Norte a Sul do Estado de São Paulo, incluindo os municípios de Cordeirópolis, Colina, Bebedouro, Matão, Itapetininga, Capão Bonito, Buri e Botucatu. Ela se adapta muito bem a todas as condições paulistas.

Para o consumidor, a IAC 2019Maria também tem várias qualidades: um sabor equilibrado entre o doce e a acidez, além da facilidade de descascar e ter poucas sementes, em média dez sementes por fruto, enquanto a Murcott tem mais de vinte. Testes com consumidores, realizados em 2015, mostraram uma boa aceitação da nova tangerina, que recebeu avaliações mais positivas do que algumas cultivares comerciais com as quais era comparada. Por isso, a expectativa é que ela tenha boa inserção no mercado. “Depende de o produtor acatar e plantar”, diz Cristofani-Yaly.

Segundo Bastianel, para uma variedade nova entrar no mercado demora um tempo. “Estamos oferecendo uma opção a mais para o produtor e para o consumidor”, diz. As pesquisadoras contam sobre um produtor do Estado de São Paulo que ficou cerca de dez anos oferecendo uma nova laranja de mesa, para só então conseguir que ela fosse aceita e se tornasse cativa. A persistência é necessária, segundo as pesquisadoras, para convencer os revendedores e os consumidores sobre as qualidades de um novo produto.

Cristofani-Yaly ressalta que o IAC está se empenhando para que a novidade possa chegar o quanto antes ao mercado. Em razão de o registro ter sido obtido recentemente, a variedade ainda necessita ter a sua produção de borbulhas registrada no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) e na Defesa Fitossanitária Estadual e, portanto, estará disponível dentro de seis a oito meses. Estas etapas precisam ser cumpridas antes de a Maria chegar às gôndolas. As mudas deverão ser obtidas junto aos viveiristas. O Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC disponibilizará somente borbulhas para formação de mudas através de viveiristas cadastrados.

“As novidades trazidas pela pesquisa paulista são determinantes para a manutenção da diversidade do agronegócio de São Paulo, como defende o governador Geraldo Alckmin”, diz o secretário de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim.

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