Cientistas contam com mobilidade e conectividade para a pesquisa em agricultura
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu, em parceria com colegas de instituições como a Esalq/USP, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Universidade Federal de Roraima e outras unidades da Unesp, criaram o Grupo de Pesquisa em Pós-Colheita e Processamento do Abacate, já cadastrado junto ao CNPq.
O principal foco das atividades do grupo está em duas variedades de abacate de pequeno porte, pouco conhecidas no Brasil, que são a Fuerte e a Hass. A produção brasileira dessas variedades é exportada, praticamente em sua totalidade, para a Europa e América Central.
A idéia de formar o grupo de pesquisa sobre abacate surgiu a partir da demanda de uma empresa localizada no município paulista de Bauru, a Jaguacy do Brasil, que trabalha com produção terceirizada e exportação. A empresa é responsável por cerca de 85% de todo abacate Fuerte e Hass exportado pelo Brasil.
Há alguns anos a empresa procurou o auxílio do professor Rogério Lopes Vieites, do Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial da FCA, para elucidar questões envolvendo pós-colheita e refugo de frutos que não tinham as características necessárias para a exportação.
A parceria deu origem a um projeto de pós-doutorado de uma aluna orientada pelo professor Vieites e suas ramificações renderam outros projetos de mestrado, doutorado e iniciação científica nos cursos de graduação em Agronomia e Nutrição da Unesp de Botucatu, sempre abordando dados relativos a pós-colheita e processamento do abacate.
Em 2010, após anos de trabalhos realizados em parceria, os pesquisadores envolvidos cadastraram o grupo no CNPq. “A partir de agora, atuamos oficialmente como grupo, o que deve facilitar a divulgação dos trabalhos que realizamos”, explica o professor Vieites. “Existem poucos grupos de pesquisa em abacate no Brasil. O abacate sempre foi considerado uma fruta de fundo de quintal e ainda pode ser melhor explorado economicamente”.
A aproximação dos pesquisadores com o setor produtivo resultou em estudos para o desenvolvimento de alguns produtos processados que podem funcionar como opções para o consumo do abacate. Os produtos processados agregam valor ao fruto e trazem vantagens econômicas aos produtores em relação a comercialização do abacate para consumo in natura.
Uma das linhas de pesquisa do grupo trabalha diretamente com produção e processamento de vários derivados do abacate utilizando frutos que não atendem o padrão mínimo de qualidade para a exportação. Dentre estes produtos processados destaca-se o guacamole, iguaria típica da cozinha mexicana. Espécie de “purê de abacate” temperado, a guacamole é hoje difundida em várias partes do mundo.
Há também uma linha de pesquisa com foco na verificação dos métodos de conservação e pós-colheita do abacate visando o aumento da vida útil do abacate e manutenção da sua qualidade, incluindo técnicas de armazenamento e tratamentos térmicos para evitar o escurecimento do fruto.
Por fim, há a linha de pesquisa voltada para a verificação do efeito da irradiação sobre a qualidade fisiológica, microbiológica, sensorial e enzimática doa abacate e seus derivados. “Os raios gama matam os micro-organismos e insetos e desaceleram o amadurecimento do fruto sem deixar resíduos”, explica o professor Vieites. “A grande vantagem é obter frutos mais duráveis e livre de doenças. Dessa forma, mais frutos podem alcançar o padrão de exportação”.
Os estudos mais recentes do grupo envolvem a liofilização, ou seja, um processo de desidratação do abacate para que o fruto seja comercializado em forma de cápsulas, como suplemento alimentar.
Em longo prazo, o grupo também espera que as informações obtidas em suas pesquisas colaborem para modificar alguns hábitos de consumo do abacate, considerados errados pelos pesquisadores. Segundo eles, o abacate é um alimento com muitas características nutricionais positivas, prejudicadas pelo hábito brasileiro de consumir a fruta com açúcar. “Pegamos um produto de ótima qualidade nutricional, rico em colesterol HDL, conhecido como “colesterol bom”, e adicionamos um aditivo questionável, como o açúcar. O ideal seria consumir o abacate na forma de salada. No mundo inteiro o abacate é consumido com sal, mas esse hábito ainda deve demorar para ser adotado no Brasil”.
Aline Grego
Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp - câmpus de Botucatu/SP
(14) 3882-6300
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