Tipos de pilotos automáticos para máquinas agrícolas
Sistemas de direcionamento automático nas lavouras estão evoluindo a cada safra, passando de equipamentos simples até a possibilidade de completa autonomia
Em um futuro breve a aviação agrícola, com certeza, estará sendo realizada com operações integradas. Utilizando-se aeronaves, sejam elas de asa fixa ou rotativa, associadas a outras modalidades de aplicação (aérea e terrestre), tais como a utilização de drones que começam a despertar grande interesse por parte de produtores, será uma realidade. Em áreas de difícil acesso, em determinados nichos de atuação, em locais pontuais de controle, a utilização destas máquinas representará uma importante ferramenta ao produtor rural, resultando em melhor controle fitossanitário com maior especificidade.
O emprego destas aeronaves (drones) será ampliado em número e capacidade operacional. Adotando-se eletrônicas embarcadas, proporcionando operações de aplicações em diferentes horários, seja durante o dia ou mesmo à noite, responderão por fatores que contribuirão de maneira significativa para ampliação e maior segurança na aplicação dos produtos fitossanitários.
A tendência também de adoção de aeronaves de maior capacidade de carga, com maior velocidade e maior faixa de trabalho, será no Brasil, algo que num curto espaço de tempo estaremos vivenciando, como o que já ocorre, por exemplo, nos EUA, onde 80% da frota operacional é caracterizada por aviões de grande porte, com maior capacidade de carga, maior faixa de trabalho e velocidade de deslocamento, resultando, consequentemente, em um maior rendimento operacional encontrado nas denominadas “aeronaves turbo”.
Entretanto, o emprego nas operações das aeronaves de pistão, que atualmente ainda representa o maior percentual da frota brasileira, será num futuro, direcionada para as áreas de menor tamanho, influenciada diretamente pela competição com as aeronaves de maior rendimento operacional, e que deverão atender às maiores áreas. Considerando o número destas aeronaves existentes no País, essa passagem será gradual, o que permitirá ainda observar seu uso nas grandes áreas. Objetivando proporcionar maior dinamismo às empresas, redução de custos e utilizando a equipe técnica existente, diversos empresários, aproveitando a sua estrutura operacional, têm adquirido aeronaves com maior desempenho, o que tem refletido no aumento da área trabalhada com a aviação agrícola. Isso pode ser verificado na Figura 1, onde se observa que nos últimos dez anos houve um crescimento significativo na frota brasileira de aeronaves, com cerca de 57,6%, sendo que, dentre elas, 19% adotam o querosene (empregado nas aeronaves turbo), 35% álcool e 46% utilizam a gasolina como combustível, concentrando, em sua maioria, nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste.
Do ponto de vista da tecnologia da aplicação, temos verificado também uma evolução muito rápida nos últimos anos e um aprimoramento no fornecimento por parte do empresariado fabricante de equipamentos, de melhoria nos acessórios eletrônicos para serem instalados nas aeronaves, garantindo uma aplicação mais segura, mais precisa, ao menor custo. Equipamentos de abertura e fechamento automático em pontos previamente plotados, ampliando a precisão na distribuição nos pontos desejados, determinando de forma automática a interrupção na aplicação em áreas de segurança/restritas, têm tido um forte crescimento.
Outras tecnologias já disponíveis, mas de custo ainda elevado, associadas aos sistemas de DGPS incorporando funções que permitem em tempo real (o que será algo bastante comum) o acompanhamento destas aeronaves e seus equipamentos de aplicação a distância, possibilitarão ao produtor, ou ao técnico responsável, fazer o monitoramento e trocar informações com ações imediatas e pontuais durante o processo de aplicação, resultando numa maior segurança na condução destas aeronaves e nos trabalhos realizados.
A instalação de sensores de identificação instantânea em aplicações controladas, quer de produtos líquidos e/ou sólidos, em conjunto com outros parâmetros, como a verificação das condições meteorológicas, risco de deriva, indicação de tamanho de gota nas diferentes taxas de aplicação, estará presente na maioria das aeronaves. No que tange à formação profissional, tem havido também um crescimento na procura de aperfeiçoamento profissional, visando mão de obra mais qualificada na área de tecnologia de aplicação aérea. Objetivando absorver estas novas tecnologias, recentemente o Ministério da Aeronáutica elaborou uma nova grade curricular dos cursos de formação de pilotos agrícolas, onde foram inseridos e/ou aperfeiçoados temas relacionados a legislação ambiental, produtos e técnicas de aplicação e cuidados ambientais.
Do ponto de vista da sociedade, teremos também uma mudança de paradigmas, com a maior exposição da aviação agrícola, haverá maior esclarecimento sobre o uso desta técnica, situação diferente do que vem acontecendo em algumas regiões do País, onde muitas das demandas contrárias ao uso destas máquinas têm sido pautadas por argumentos com cunhos ideológicos e não técnicos. Com a expansão das novas ferramentas de mídia cada vez mais presente, serão possíveis o acompanhamento e a verificação das aplicações aéreas e terrestres realizadas adotando critérios técnicos.
As perspectivas mundiais de crescimento da agricultura brasileira indicam que haverá uma necessidade cada vez maior de profissionais com conhecimentos técnicos, quer das máquinas aplicadoras, quer sobre os produtos fitossanitários utilizados, e a nova geração destes produtos tem se caracterizado por serem cada vez mais concentrados, mais técnicos, mais seletivos, menos agressivos, o que exigirá a adoção de tecnologias que permitam explorar todo o potencial destes produtos, o que exigirá mais cuidados na aplicação e cumprimento das boas práticas agrícolas. Somadas a isso, as ações regulatórias deverão ser mais participativas, menos impositivas e haverá uma integração de aprimoramento legal na utilização destas tecnologias.
Cada vez mais a aviação agrícola tem se consolidado com o crescimento no agronegócio. A aviação agrícola nos últimos anos tem ampliado sua participação e importância no desenvolvimento na produção e na produtividade de diversas culturas, em especial nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, arroz, citricultura e silvicultura, representando culturas importantes e estratégicas desenvolvidas no Brasil.
O crescimento não só da frota, mas da busca da qualidade operacional na adoção de boas práticas agrícolas, tem sido uma constante entre os operadores, que têm buscado informações sobre técnicas e equipamentos e a adoção de sistemas que permitam uma melhor qualidade na aplicação. Exemplo disso, o Programa de Certificação Aeroagrícola Sustentável (Programa–CAS), desenvolvido em parceria com três universidades, envolvendo professores/pesquisadores de renome no cenário nacional na área de tecnologia de aplicação, com o apoio de diversos órgãos (indústria, representações de classe, produtores), tem tido uma aceitação favorável por parte dos usuários que buscam qualidade e sustentabilidade nas suas produções, com objetivo de aumentar a responsabilidade ambiental nas aplicações através do controle dos fatores que levam a uma pulverização eficaz e segura de defensivos.
Isto pode ser observado no segmento da cana-de-açúcar, uma área importante estratégica na matriz energética, extremamente competitiva, em que se buscam qualidade, eficiência, redução de custos, preservação ambiental nos diferente processos de produção, que tem exigido que as empresas prestadoras de serviços adotem boas práticas agrícolas na aplicação dos produtos em suas áreas, refletindo a credibilidade atribuída aos participantes do programa.
O programa CAS possui basicamente três pilares de sustentação: 1) gestão da informação; 2) a contínua e pontual verificação das condições meteorológicas durante todo o processo de pulverização/aplicação e 3) a adoção e a colocação em prática de técnicas para a redução da deriva (TRD). Nela, as empresas e aeronaves participantes do programa recebem periodicamente uma inspeção para o cumprimento destas ações e são identificadas com um selo.
No ano de 2020, duas áreas de atuação da aviação agrícola se destacaram e foram amplamente divulgadas na mídia. Uma foi o efetivo uso de aeronaves no combate aos incêndios florestais em diferentes localidades do País, principalmente na regiões do Centro-Oeste, em grandes reservas biológicas e em áreas urbanas, contribuindo com as brigadas de solo de forma participativa e eficaz. Essa projeção possibilitou que muitos que desconheciam as ações e a amplitude de atuação da aviação agrícola pudessem ter uma ideia melhor sobre esta atividade.
Outro destaque foi o uso de aeronaves em alguns países da América do Sul, principalmente na Argentina e em algumas regiões do Brasil (MT e RS), no controle da praga do gafanhoto, que neste ano de 2020 ocorreu com grande intensidade. O gafanhoto se caracteriza por ser uma praga extremamente destruidora das plantações, destacando sua a capacidade de consumir o equivalente ao seu próprio peso/dia, proporcionando consideráveis prejuízos às lavouras.
Relacionados ao controle de vetores, em alguns países, tal como ocorre nos EUA, é comum estados e prefeituras contratarem empresas de aviação agrícola para frequentemente realizar aplicações controladas sobre cidades, uma prática que contribui para a redução de doenças (sem que haja contaminações). Entretanto, apesar de já existirem produtos biológicos disponíveis de alta eficiência de controle e produtos químicos de baixo impacto, similares aos utilizados nas pulverizações rotineiras terrestres nos grandes centros, ainda há uma barreira que tem impedido que estas operações possam ser desenvolvidas no Brasil.
A aviação agrícola é regida por normas bastante rigorosas nos âmbitos federal, estadual e municipal. Entre estas normas, se destacam as normativas do Mapa/Anac. Estes órgãos realizam constantemente inspeções dos relatórios, das aeronaves, das operações e determinam que os dados, além de serem armazenados nas empresas para efeito de conferência e fiscalização periódica, devem ser enviados obrigatoriamente como parte do relatório de atividades sob a responsabilidade de profissionais engenheiros e técnicos que executaram as operações.
A empresa de aviação agrícola, no seu organograma, é constituída por um engenheiro agrônomo (responsável técnico da empresa, denominado de coordenador de aviação agrícola); por um técnico agropecuário com a formação de executor em aviação agrícola e que acompanha as operações em campo, proporcionando um “suporte aos pilotos sobre o que está ocorrendo nas deposições” (por lei, para cada aeronave em operação deverá sempre haver um técnico na área); o piloto agrícola (o profissional piloto obrigatoriamente deverá possuir o curso de especialização para operações aeroagrícolas), e os colaboradores administrativos. Para esta qualificação, são oferecidos cursos para coordenadores, executores e pilotos agrícolas, que são realizados sob a delegação de competência e supervisão/inspeção expedida pelo Mapa e a Anac, com enfoque na gestão das empresas e operações, conhecimento e cuidados com os produtos fitossanitários, equipamentos, boas práticas agrícolas, o ambiente e a legislação específica agrícola, aeronáutica e ambiental.
No aspecto econômico, trabalhos e resultados obtidos por diferentes pesquisadores relacionados ao uso de aeronaves agrícolas destacando rapidez, eficiência, qualidade das pulverizações, a não compactação do solo e o amassamento das lavouras provocados pelos equipamentos terrestres. Na aplicação terrestre, os índices de perdas variam entre 2% e 5%, dependendo das condições de solo, do desenvolvimento da cultura, do tipo de equipamento terrestre utilizado, do tipo de rodado, da distância de passagem das máquinas aplicadoras, da disponibilidade operacional de rendimento de trabalho x momento da aplicação e da transmissão de pragas e doenças (contato da máquina na planta, transferindo de um ponto ao outro na lavoura). Estes fatores tornam a aplicação aérea extremamente competitiva, com custos reduzidos, proporcionando aumento de lucratividade ao produtor.
Neste contexto de previsões de necessidade de aumento de produção e produtividade, no fornecimento na cadeia alimentar humana e animal, as perspectivas de uma agricultura tecnificada, econômica e sustentável será o foco a ser conquistado, e os desafios exigirão determinação e comprometimento na preservação ambiental, cenário onde a aviação agrícola tem se consolidado.
• É mais que provado que a aviação agrícola é uma ferramenta importante na produção agrícola, com aplicações seguras e eficientes.
• Temos desafios ainda a enfrentar, entre eles a necessidade de reduzir a burocracia administrativa.
• Reduzir sombreamento de legislações nos âmbitos federal, estadual e municipal.
• Necessidade de mais valorização aos serviços prestados.
• Divulgação ao produtor e à sociedade geral dos benefícios da aviação agrícola, destacando que a atividade é uma aliada da produção e do ambiente.
• Ampliação e fortalecimento da formação profissional dos técnicos envolvidos e a disponibilização e cessão de aeronaves duplo comando e/ou simuladores às escolas de formação de pilotos.
• Criação de incentivos fiscais à atividade da aviação agrícola, redução de cargas tributárias a aeronaves e equipamentos.
• Maior interação entre os fabricantes, assistência técnica à comunidade da aviação agrícola – empresários, pilotos e técnicos.
• Aprimoramento nas bulas de produtos envolvendo a aplicação aérea.
• Reconhecimento do uso no Brasil da aviação para o controle de vetores na saúde pública e a liberação do emprego de retardantes biodegradáveis no combate a incêndios florestais.
Wellington Pereira Alencar de Carvalho, Ufla
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