Subcomissões da CTNBio liberam uso comercial de milho com o evento DP202216
Conforme a literatura, plantas que contêm esse evento têm maior potencial de rendimento de grãos; e expressam tolerância ao herbicida glufosinato
Cultivares com maior resistência à podridão de grãos e uso de fungicidas são opções de manejo para reduzir as perdas de produtividade, apontam redes de pesquisa que estudam o tema. Inicialmente chamado de anomalia da soja, o problema vem ocorrendo, com maior frequência, na região do médio-norte do estado de Mato Grosso e em Rondônia, desde a safra 2018/2019.
Diferentes espécies de fungos foram identificadas em vagens e hastes com e sem sintomas de apodrecimento de grãos, mas os fatores que desencadeiam o problema ainda são desconhecidos. Por isso, diversas redes multidisciplinares de pesquisa estão analisando dados como clima, fertilidade e física do solo, teor de lignina e outros que possam dar pistas sobre a doença.
A rede que avalia a eficiência dos fungicidas traz os primeiros resultados que poderão auxiliar nas estratégias de manejo da doença, com o lançamento da publicação “Eficiência de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja”.
A circular técnica “Eficiência de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja, na safra 2022/2023: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos” (Circular Técnica 197), é resultado da rede de avaliação de fungicidas formada pela Embrapa, Fundação MT, Fundação Rio Verde, Proteplan, Fitolab Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola, Centro de Pesquisa Celeiro do Norte (CPCEN), EPR Consultoria & Pesquisa Agronômica, MZ Consultoria Agronômica, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT-Sinop), Universidade Federal de Rondônia e Solo Fértil.
Em paralelo, outro grupo avaliou a reação à podridão de 54 cultivares de soja (42 transgênicas e 12 convencionais) e identificou cultivares com bom e médio nível de resistência e as que são suscetíveis ao problema.
Desde a safra 2018/2019, o problema vem causando prejuízos aos produtores, especialmente na região do médio-norte de Mato Grosso e de Rondônia, o que levou à formação de redes de pesquisa para identificar as causas do problema e definir estratégias de manejo. “Durante as visitas à região, observamos que o problema atingia as cultivares de maneira diferente e os sintomas respondiam ao tratamento com fungicidas, por isso, foram formadas redes de ensaios cooperativos para avaliar a sensibilidade das cultivares à doença e a eficiência dos fungicidas”, relata o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja (PR).
Os sintomas descritos inicialmente como anomalia correspondem principalmente à podridão dos grãos e das vagens. Diversas amostras foram coletadas nas quais foram encontradas, nas vagens, grãos e hastes, um complexo de fungos de diferentes espécies de Fusarium, Diaporthe e Colletotrichum. Em algumas safras, também observaram alta incidência de mancha-púrpura nos grãos, causada por Cercospora spp. “Esses fungos podem ser encontrados de forma latente na planta e nos grãos, (fungos endofíticos), sem causar sintomas aparentes: cada um associado a uma doença quando ocorrem os sintomas. Eles foram identificados mesmo em vagens e grãos sem sintomas”, diz a pesquisadora da Embrapa Cláudia Godoy.
A pesquisadora explica ainda que, no início dos sintomas, as vagens podem apresentar encharcamento, escurecimento ou ambos, sem abertura visível. Quando abertas, apresentam apodrecimento dos grãos. “A presença de vagens com sintomas e os grãos apodrecidos ocorrem de forma aleatória na planta e na vagem, respectivamente, não necessariamente acometendo todos os grãos”, conta.
Godoy avalia que os sintomas ocorrem principalmente a partir do enchimento de grãos (estádio R5), até sua maturação (estádio R8). Segundo ela, as condições de estresse relacionadas ao clima estimulam que os fungos latentes iniciem a infecção. “Os fatores que desencadeiam a maior frequência de apodrecimento de grãos por esses patógenos nessas regiões ainda estão em estudo”, explica Godoy.
Em ensaios realizados na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), diferentes espécies de fungos obtidos de vagens com sintomas de apodrecimento foram inoculadas em plantas de soja em casa de vegetação, mas até o momento, nenhum desses isolados reproduziram nas plantas os sintomas que ocorrem no campo.
A pesquisadora Dulândula Wruck explica que também estão sendo estudadas técnicas de inoculação, uma vez que alguns isolados matam a planta dias após inoculação quando se utiliza a técnica do palito. “Até agora com as informações que temos, é possível que outros fatores estejam envolvidos na manifestação dos sintomas, por isso que os projetos em andamento são multidisciplinares, analisando dados como clima, fertilidade e física do solo, teor de lignina, etc.
Praticamente todas as empresas de pesquisa localizadas no eixo da BR 163 no médio-norte do Mato Grosso estão estudando o problema. “Os resultados da rede de fungicidas e de cultivares da safra 2022/23 são uma fonte de informação para o produtor, para auxiliar no manejo do problema”, afirma a pesquisadora.
Para avaliar a eficiência de fungicidas, no controle da podridão de grãos na soja, foram realizados cinco protocolos na região do médio-norte do Mato Grosso e em Rondônia. Os tratamentos utilizaram fungicidas sítio-específicos (atingem um processo metabólico do fungo ou uma única enzima ou proteína necessária para sua sobrevivência) isolados e em misturas sem e com fungicidas multissítios (interferem em muitos processos metabólicos dos fungos). “Nesses experimentos, os fungicidas foram avaliados individualmente e em aplicações sequenciais”, explica Godoy.
Durante a safra 2022/23, a pulverização de diferentes fungicidas, nos ensaios realizados em rede, tiveram como resultado a redução dos sintomas da doença e o aumento de produtividade. “O uso de fungicidas favorece tanto a redução da incidência de sintomas da podridão, quanto o controle de outras doenças, como a mancha-alvo - predomina na região - o que reflete em melhoria de produtividade”, explica Godoy. “Entendemos que os fungicidas são uma relevante ferramenta de controle, devendo ser definido, de acordo com a sensibilidade das cultivares à podridão de grãos e a outras doenças”, revela. (veja mais detalhes no quadro abaixo)
Além do uso de fungicidas no manejo da doença, os pesquisadores orientam a adoção de diferentes estratégias antirresistência. Eles defendem, por exemplo, que as informações obtidas nesses estudos ajudem a determinar programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação. Eles alertam que as aplicações sequenciais com os mesmos ingredientes ativos devem ser evitadas para diminuir a pressão de seleção de resistência de fungos aos fungicidas.
Há cerca de um ano, a rede de avaliação de cultivares, formada por 12 institutos de pesquisa, universidades, cooperativas e fundações, busca compreender o impacto da escolha de cultivares no manejo da podridão de grãos. Os resultados obtidos em lavouras de Sorriso, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sinop e em algumas áreas em Rondônia totalizam 3 milhões de hectares.
A rede avaliou 54 cultivares de soja (42 transgênicas e 12 convencionais) e ainda realizou experimentos em três épocas de plantio. De acordo com o pesquisador Austeclinio de Farias Neto, da Embrapa Cerrados (DF), as cultivares foram caracterizadas quanto à reação à podridão: as que apresentavam bons níveis de resistência, médios níveis e as que são suscetíveis. “Com essas informações, os produtores terão ainda mais subsídios para o seu planejamento, frente ao enfrentamento do problema”, destaca Farias Neto. Os resultados detalhados serão divulgados em breve.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura