Ferramentas virais falham em arroz

Métodos de silenciamento e superexpressão gênica usados com sucesso em trigo não funcionam em Oryza sativa

09.12.2025 | 14:46 (UTC -3)
Revista Cultivar

Pesquisadores testaram dois vetores virais amplamente utilizados em genética reversa, o vírus do mosaico estriado da cevada (BSMV) e o "Foxtail mosaic virus" (FoMV). E concluíram que eles não funcionam no arroz (Oryza sativa). Os métodos, que servem para ativar ou desativar genes de forma transitória sem alterar o DNA da planta, são eficazes em trigo e outras gramíneas. Mas falharam em seis cultivares de arroz.

A equipe aplicou protocolos de inoculação com diferentes técnicas (fricção, agulhamento, imersão e injeção) e em diversas condições ambientais. Mesmo com ampla otimização, os resultados não mostraram os efeitos esperados. O silenciamento de um gene envolvido na produção de clorofila não causou o branqueamento típico das folhas. Da mesma forma, o gene de uma proteína fluorescente não provocou luminescência, como ocorre em trigo e capim-seta.

Plantas inoculadas

No total, foram inoculadas 286 plantas de arroz e 105 de trigo. No trigo, os métodos funcionaram: 77% das plantas tratadas com o vetor FoMV expressaram fluorescência verde e mais de 91% das tratadas com BSMV apresentaram branqueamento. Já no arroz, nenhuma planta, entre todas as cultivares testadas, mostrou qualquer resposta visível à manipulação genética.

Segundo Guilherme Turra, doutorando da UFRGS e autor principal do estudo, a ausência de efeito não decorre de falhas técnicas. “Testamos variações dos protocolos com rigor científico e diferentes tipos de arroz. Os dados mostram que essas ferramentas simplesmente não funcionam nessa espécie”, afirmou.

Para Dana MacGregor, pesquisadora sênior da Rothamsted, a publicação dos resultados negativos é essencial. “Compartilhar esses dados evita que outros grupos repitam experimentos malsucedidos e permite focar em soluções específicas para o arroz.”

Os pesquisadores sugerem que mecanismos de defesa do arroz contra vírus podem impedir a infecção necessária para que os vetores modifiquem a expressão gênica. Apesar de não terem investigado em detalhes os processos moleculares, os autores acreditam que a ausência de resposta visível indica falhas na infecção ou no transporte do vírus dentro da planta.

Embora existam relatos isolados na literatura de sucesso com vetores virais em arroz, como o uso de vírus do mosaico do bromo (BMV) e de "Rice Tungro Bacilliform Virus" (RTBV), poucos estudos deram continuidade a essas abordagens. O grupo destaca a necessidade de desenvolver novos sistemas virais compatíveis com o arroz, especialmente para aplicações em genômica funcional.

A equipe que realizou o estudo é composta por Guilherme M. Turra, Aldo Merotto Jr. e Dana R. MacGregor.

Outras informações em doi.org/10.1111/aab.70087

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