Bionanotecnologia contra a aftosa
Temas cada vez mais em evidência na agricultura, tanto nacional como de outros países, foram discutidos em Belo Horizonte-MG durante o XVI CBA (Congresso Brasileiro de Agrometeorologia).
Pesquisadores, professores e especialistas debateram assuntos como mudanças climáticas e seus efeitos na atividade agrícola, uso de imagens de satélites para o aprimoramento da produção e a utilização eficiente de recursos hídricos.
M. V. K. Sivakumar, da Divisão de Meteorologia Agrícola da OMM (Organização Meteorológica Mundial), mostrou dados relativos às recentes mudanças pelas quais o mundo passou. Em relação ao aquecimento da Terra e dos oceanos, 11 dos 12 anos compreendidos no período de 1995 a 2006 foram classificados entre os 12 mais quentes desde 1850. Já a tendência linear de aquecimento nos últimos 50 anos, que é de 0,13°C por década, é cerca do dobro da tendência dos últimos 100 anos.
Alterações nos padrões de precipitação têm proporcionado importantes mudanças em relação a secas. De acordo com o representante da OMM, secas mais intensas e longas têm sido observadas em grandes áreas desde os anos 1970, particularmente nos trópicos e nos subtrópicos. Alterações na temperatura da superfície do mar e reduções das camadas e da cobertura de gelo estão ligadas à ocorrência de secas. "O aquecimento é inequívoco", resume Sivakumar, lembrando dos aumentos na temperatura atmosférica e nos níveis do mar e do gelo no Hemisfério Norte. Ainda segundo ele, "o desafio é se conseguir um manejo sustentável de um planeta em constante mudança".
O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP) Eduardo Assad falou sobre a nova geografia que está se formando no país por causa das recentes mudanças pelas quais o clima tem passado. Ele mostrou dados de diferentes culturas agrícolas e alertou que é necessário estudá-los melhor, já que se referem ao que pode acontecer em um curto período de tempo. Sobre o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, que vem provocando polêmica, o pesquisador disse que também é necessária mais discussão. Segundo dados mostrados por ele, é possível expandir o cultivo da cana no país sem avançar sobre biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica. Com mais área plantada, poderia se produzir cerca de 240 milhões de litros de etanol, o que atenderia a 20% da demanda mundial.
Os recursos hídricos também estiveram em debate no congresso. O professor Salassier Bernardo, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, destacou que é cada vez maior a pressão para que a irrigação seja conduzida com mais eficiência e de forma sustentável. E lembrou que órgãos internacionais já preconizam uma redução em torno de 10% do consumo mundial de água com agricultura.
Nesse sentido, o professor da UFV, Everardo Mantovani, defendeu a importância da gestão da irrigação, que, segundo ele, não pode ser confundida com manejo. “A gestão envolve o manejo, mas vai além. O manejo decide quando e quanto irrigar. A gestão considera solo, planta, clima, água, equipamentos, energia e estratégias de condução da lavoura”, explicou.
Mantovani apresentou softwares desenvolvidos para implantar sistemas de gestão de irrigação. Há programas para grandes propriedades e outros simplificados para atender ao pequeno e médio produtor rural. O professor listou como benefícios dos sistemas a diminuição do consumo de energia, aumento de produtividade da lavoura, redução de doenças e de perdas de nutrientes.
FUTURO - Na palestra de abertura do congresso, o senador Renato Casagrande, presidente da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal, defendeu a introdução de um novo modelo de desenvolvimento. Segundo ele, é preciso que haja "governança global, educação para a sustentabilidade, consumo responsável e reconhecimento econômico dos serviços ambientais". O senador destacou a importância da 15ª Conferência das Partes (COP 15) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que será realizada em dezembro deste ano em Copenhague, na Dinamarca. Casagrande afirmou que deveria haver um acordo entre países em desenvolvimento sobre a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa antes da COP 15 e o prazo para que isso ocorra está cada vez mais curto.
O presidente do XVI CBA e pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), Reinaldo Lúcio Gomide, destacou que "a possibilidade de mudanças climáticas tem chamado a atenção de autoridades e o conhecimento sobre possíveis cenários futuros pode ajudar a prever riscos e a pensar políticas públicas adequadas". O evento foi uma organização conjunta da SBA (Sociedade Brasileira de Agrometeorologia), da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e da Embrapa Milho e Sorgo. O próximo congresso nacional sobre o tema está marcado para o ano de 2011 e vai acontecer em Vitória-ES.
Clenio Araujo e Marina Torres
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)
/ (31) 3027-1272 / (31) 3027-1223
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