Estudo mostra que plantio em consórcio auxilia no controle de pragas

Pesquisa compilou resultados de 44 estudos de campo em seis continentes

09.04.2023 | 09:57 (UTC -3)
Cultivar

Estudo revela que o plantio em consórcio pode ser uma eficiente ferramenta de controle de pragas em todo o mundo, segundo pesquisa da Universidade da Flórida, publicada no Journal of Applied Ecology. O estudo analisou 44 estudos de campo realizados em seis continentes, focando em quatro tipos de cultivos - repolho, abóbora, algodão e cebola - plantados sozinhos ou em conjunto com outras espécies de plantas companheiras.

Os cientistas registraram 272 ocorrências de 35 espécies diferentes de insetos que se alimentam de plantas em cultivos, o que representa uma das avaliações mais abrangentes da eficácia do plantio em consórcio em todo o mundo.

"No geral, o plantio em consórcio provou ser muito eficaz contra as pragas, mas variou com base nas preferências alimentares de cada praga", disse Philip Hahn, professor assistente no departamento de entomologia e nematologia da UF/IFAS, que liderou o estudo.

O plantio em consórcio consiste na técnica de plantar cultivos em conjunto, para que as plantas companheiras possam ajudar a repelir ou interceptar pragas antes que danifiquem o cultivo principal. Os cientistas observaram que o plantio entremeado, como o dos "Três Irmãos" (milho, abóbora e feijão), torna mais difícil para as pragas localizarem sua planta hospedeira preferida e é mais eficaz do que os plantios em bordas.

Em relação ao tipo de cultivo, os pesquisadores notaram que repolho e abóbora apresentaram maior resistência a pragas, enquanto a resistência foi menor para cebolas e algodão. Os pesquisadores também observaram que o plantio em consórcio foi mais eficaz para pragas generalistas que se alimentam de uma variedade de cultivos. Já as pragas especializadas, que atacam apenas um tipo de cultivo, foram menos afetadas.

A pesquisa proporciona recomendações para combinações de plantas companheiras mais eficazes, enquanto destaca pares que parecem menos eficazes. Os resultados deste estudo provavelmente influenciarão investigações futuras, já que as seleções de plantas vizinhas podem ser a chave para o sucesso dos sistemas de plantio em consórcio. No geral, para os produtores interessados em métodos orgânicos, o plantio em consórcio parece ser uma ferramenta muito eficaz no controle de pragas.

Na conclusão do estudo, os cientistas apontaram que:

Nossa meta-análise reforça o uso de biculturas como uma ferramenta de manejo de pragas, embora com várias contingências. A maioria das culturas agrícolas tem relações bem resolvidas entre a abundância de pragas e os níveis de dano que são usados como 'limiares econômicos' para quando aplicar ações de manejo. Embora nossa meta-análise mostre claramente fortes benefícios de plantas vizinhas na redução da abundância de pragas, a variabilidade que encontramos sugere que a incorporação de AE em ferramentas de tomada de decisão econômica, como limiares econômicos, exigirá informações específicas do local e da cultura. Por exemplo, apenas duas de nossas quatro culturas focais se beneficiaram fortemente da redução de pragas em biculturas. As técnicas em que a planta vizinha foi plantada dentro dos limites da parcela foram mais eficazes do que as vizinhas plantadas ao redor do perímetro da cultura focal. O tamanho da parcela não afetou a força do AE, sugerindo que os benefícios das biculturas são escaláveis, pelo menos dadas as contingências descritas acima. Nosso uso de características de herbívoros e distância filogenética das plantas vizinhas fornece um quadro generalizável que pode ajudar na tomada de decisões para avaliar as potenciais compensações ecológico-econômicas da diversificação de culturas.”

O artigo completo pode ser lido aqui.

O que é alelopatia

Ao considerar os dados da pesquisa descrita acima, deve-se também ter em mente os efeitos alelopáticos.

Alelopatia é uma interação biológica entre plantas ou outros organismos, em que compostos químicos produzidos por um organismo afetam o crescimento, desenvolvimento e reprodução de outro organismo. Esses compostos químicos são conhecidos como aleloquímicos e podem ser produzidos pelas raízes, folhas, flores, frutas e outros órgãos das plantas.

Na alelopatia, os aleloquímicos liberados por uma planta podem ter efeitos positivos ou negativos sobre outras plantas e organismos, dependendo das concentrações e das condições ambientais. Por exemplo, algumas plantas podem produzir aleloquímicos que inibem o crescimento de outras plantas concorrentes, enquanto outras podem produzir aleloquímicos que promovem o crescimento de plantas próximas.

A alelopatia pode ter implicações importantes na ecologia, agricultura e na indústria de medicamentos naturais, uma vez que muitas substâncias bioativas podem ser encontradas em plantas e outros organismos.

O substantivo alelopatia foi criado pelo pesquisador austríaco Hans Molisch. Trata-se da união das palavras gregas "allélon" (mútuo) e "pathos" (prejuízo). Apesar do significado original dos termos gregos, usa-se o termo alelopatia como referência tanto a efeitos negativos como a efeitos positivos causados pelos organismos.

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