Estudo aponta que etanol de milho não aumenta o preço do milho nos mercados doméstico e internacional

Artigo inédito foi publicado na revista internacional GCB Bioenergy

07.08.2024 | 10:58 (UTC -3)
Flavia Mendes

O artigo inédito “Did the entry of the corn ethanol industry in Brazil affect the relationship between domestic and international corn prices?” (a entrada das indústrias de etanol de milho no Brasil afetou a relação entre os preços do milho nos mercados nacional e internacional?),  derivado de um projeto de pesquisa desenvolvido pela Agroicone em parceria com os professores Marcelo Justus (Unicamp) e Luciano Rodrigues (FGV), recém publicado pela revista GCB Bioenergy, uma revista internacionalmente conceituada na área de  energia sustentável,  traz uma análise detalhada sobre a rápida expansão da produção de etanol de milho no Brasil e seus efeitos nos preços domésticos e internacional do milho. Os resultados geram implicações importantes sobre o debate alimentos versus energia, que atualmente limitam uma maior inserção de biocombustíveis na transição energética global.

Principais descobertas

O estado do Mato Grosso emergiu como o principal produtor de etanol de milho, representando 73% da produção nacional em 2017. A produção de etanol de milho no Brasil tem crescido exponencialmente e deve atingir 6 bilhões de litros em 2023/24, com projeções de chegar a 12,7 bilhões de litros até 2032.

Figura 1: preços do milho nos mercados internacional e do Estado de Mato Grosso – Brasil, em dólares americanos por tonelada métrica (US$/t); fonte: elaborado pelos autores com dados do Banco Mundial e da Conab (Brasil)
Figura 1: preços do milho nos mercados internacional e do Estado de Mato Grosso – Brasil, em dólares americanos por tonelada métrica (US$/t); fonte: elaborado pelos autores com dados do Banco Mundial e da Conab (Brasil)

A pesquisa mostra que, apesar do aumento na demanda por milho para produção de etanol, não há evidências que os preços domésticos de milho no Brasil foram impactados pelo aumento da produção de etanol e que os preços internos são impactados pelo preço internacional, porém o contrário não acontece. Isso se deve à melhoria na produtividade agrícola, com a adoção de novas tecnologias e práticas de colheita múltipla. O estudo destaca que a diversificação da matriz energética brasileira, incluindo o etanol de milho, contribui para a sustentabilidade e segurança energética do país.

Figura 2: preços domésticos do milho (Mato Grosso – Brasil) versus preços internacionais do milho e linha de regressão ajustada; fonte: elaborado pelos autores com dados do Banco Mundial e da Conab (Brasil)
Figura 2: preços domésticos do milho (Mato Grosso – Brasil) versus preços internacionais do milho e linha de regressão ajustada; fonte: elaborado pelos autores com dados do Banco Mundial e da Conab (Brasil)

Análise dos preços do milho: uma perspectiva internacional e nacional

Usando séries temporal de preços de milho mensal de maio de 2005 a agosto de 2023, nos mercados brasileiro e internacional, e controlando diferentes eventos que possam ter afetado os mercados agrícolas globais (guerra da Rússia e Ucrânia, Covid-19, quebras de safra, entre outros), o estudo empregou modelos econométricos de cointegração para estimar as relações de curto e longo prazo entre os preços do milho nos mercados doméstico e internacional.

Figura 3: respostas de impulso ortogonais e 95% Bootstrap CI.; fonte: calculado pelos autores utilizando os coeficientes impulso-resposta ortogonalizados do VAR
Figura 3: respostas de impulso ortogonais e 95% Bootstrap CI.; fonte: calculado pelos autores utilizando os coeficientes impulso-resposta ortogonalizados do VAR

Os resultados indicam que choques nos preços internacionais impactam os preços domésticos, porém o oposto não pode ser comprovado estatisticamente.  Estimou-se que uma variação de 1% na taxa de crescimento do preço internacional do milho resultará em uma variação de 0,4% na taxa de crescimento do preço do milho em Mato Grosso no curto prazo, e de 0,64% no longo-prazo. Além disso, que os choques de preço no mercado mundial são transmitidos para o mercado interno brasileiro se dissipando somente após, aproximadamente, seis meses. 

Figura 4: comparação da área de soja e milho segunda safra, estado de Mato Grosso – Brasil, por ano-safra (1.000 hectares); fonte: elaborado pelos autores com dados da Conab (Brasil)
Figura 4: comparação da área de soja e milho segunda safra, estado de Mato Grosso – Brasil, por ano-safra (1.000 hectares); fonte: elaborado pelos autores com dados da Conab (Brasil)

Discussões e implicações

Os resultados do estudo são um indicativo de que a produção de etanol de milho no Brasil não aumentou o preço internacional do milho e não comprometeu a segurança alimentar, conforme sugerem as relações estáveis de preço identificadas. A capacidade de expandir a produção de milho segunda safra, intensificando o uso de áreas de soja onde o milho segunda safra não era plantado anteriormente, resultou em uma maior oferta de grãos para as usinas de etanol sem afetar a área da primeira safra e a disponibilidade de grãos para alimentação os outros usos

A publicação deste estudo na GCB Bioenergy ressalta a importância para a sociedade, produtores de milho e para os formuladores de políticas públicas. A revista é reconhecida por sua abordagem rigorosa em temas relacionados à energia sustentável, na interface entre as ciências biológicas e ambientais e a produção de combustíveis e bioprodutos.

Mais informações em doi.org/10.1111/gcbb.13181

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