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A soja será a grande estrela da safra gaúcha de grãos de verão. A expectativa é que a produção da oleaginosa ultrapasse a casa dos 16,3 milhões de toneladas colhidas no Rio Grande do Sul. Se a expectativa é boa na lavoura, o mercado contraria essa realidade, evidenciando que o país não possui sistema organizado de produção. As tendências para o grão foram debatidas na Expodireto Cotrijal 2017, durante o 28º Fórum Nacional da Soja, nesta terça-feira, 7, em Não-Me-Toque, RS.
O Fórum foi aberto com a palestra do engenheiro agrônomo formado pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Dirceu Gassen, que falou sobre Manejo para Altos Rendimentos. Gassen afirmou que atualmente a produtividade da soja é de 2.739 quilos por hectare, com crescimento de 0,9% no ano, ao longo dos últimos 18 anos. Na sua avaliação, o ideal seria um crescimento de 3%. Ao contrário, o Rio Grande dos Sul cresceu 3,05%, o que demonstra a importância do sistema cooperativo.
Para o especialista, o aumento de produtividade está ligado diretamente ao conhecimento tecnológico, visto que o ciclo de semeadura da soja encurtou e não há mais espaços para erros. É preciso vencer o desafio de produzir com mais competitividade aliada à sustentabilidade. “O diferencial hoje na lavoura não é variedade, não é trator. É o jeito como o produtor trata a tecnologia embarcada na semente. E o perfil de agricultores que visitam a feira é muito bom. Isso é assistência técnica. Não é por acaso que o rendimento médio dos produtores da Cotrijal está acima da média do Estado”, disse.
Na avaliação do mestre em economia e finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Constantin Jancsó, a economia brasileira deverá voltar a crescer, mas de forma lenta. Já a inflação, segundo ele, tem surpreendido positivamente ao recuar fortemente nos últimos 12 meses. Jancsó acredita que isso reduza de forma mais acelerada o juro básico brasileiro.
“Hoje o PIB mundial está retornando à média histórica, em torno de 3,5% ao ano. A inflação está despencando. Em fevereiro, deverá cair para 4,8% próximo da meta do Banco Central. A taxa real de juros também deve cair com expectativa de fechar o ano com taxa de 8,5% ao mês”, adiantou. Por fim, o palestrante espera que o câmbio feche o ano ao redor de R$ 3,15 por dólar.
Chicago “financeirizado”
O engenheiro agrônomo, Fernando Muraro, apresentou tendências sobre o mercado da soja. Para ele, o mercado internacional da oleaginosa está totalmente “financeirizado”. Dito de outra forma, Chicago está sob forte influência, dos Fundos.
Ele citou também que a grande variação entre os preços mínimo e máximo dificulta fazer uma análise mais consistente de mercado. “A soja tornou-se um ativo financeiro. Tanto é verdade que em 2016 Chicago negociou 25 vezes a sua produção mundial. Isso exige cada vez mais que o produtor de soja faça média de comercialização”, pontuou.
O palestrante destacou ainda aspectos conjunturais do mercado, afirmando que a safra sul-americana deverá atingir a 176 milhões de toneladas neste ano (um recorde), após os 117,2 milhões dos EUA. No Rio Grande do Sul, o volume poderá chegar a 16,8 milhões de toneladas. Todavia, os produtores continuam perdendo na infraestrutura, a qual se mantém ruim no país.
Para ele, o produtor deve trabalhar com foco no aumento de produtividade, sendo a comercialização uma estratégia de formação de média, com vendas escalonadas no ano. Especialmente porque, em reais, o preço da soja deverá variar em mais de R$ 20,00/saco entre o mínimo e máximo neste ano.
Os agricultores não são os vilões
O pesquisador da Embrapa, Evaristo de Miranda, trouxe dados reveladores a respeito do gerenciamento de terra no país. Quanto à ocupação, 18% correspondem à vegetação nativa em unidades de conservação, enquanto 14% correspondem à vegetação nativa em terras indígenas. “Quando se olha hoje o mapa do país, 37% já tem dono. Essa distribuição de terras desordenada é preocupante. Precisamos planejar melhor”, alertou.
O mesmo problema não ocorre no Rio Grande do Sul, onde os agricultores preservam 3,56 milhões de hectares, ou seja, 13% da área do Estado, e 21% da área agrícola. No geral, 23% do total do Rio Grande do Sul está preservado, o que prejudica é a logística limitada. “Hoje a agricultura preserva 13 vezes mais. Não tem segmento que preserve tanto o meio ambiente como os agricultores”, concluiu.
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