Encontro da IETHA debateu a logística para exportação de etanol

12.05.2009 | 20:59 (UTC -3)

O 1º Encontro de Especialistas em Logística para a Exportação de Etanol, promovida no dia 29 de abril, pela IETHA - International Ethanol Trade Association, foi palco de um debate sobre as principais dificuldades do setor sucroalcooleiro para efetivar as exportações brasileiras de etanol e consolidar o País como o grande nome da comercialização de álcool combustível no mundo.

Foram sete apresentações que revelaram as mais simples razões do porque o Brasil, mesmo sendo o grande detentor da tecnologia para etanol exportável, ainda trabalha na construção desse mercado internacional, a uma platéia de aproximadamente 300 executivos, formadores de opinião, técnicos e especialistas em várias áreas da cadeia logística.

"A infra-estrutura e a logística para a exportação do etanol, começando pelas negociações do contrato de exportação que determinam inclusive o formato de escoamento e recebimento no destino, até os processos logísticos e os procedimentos técnicos que implicam nesse escoamento em cada uma das etapas logísticas, é ponto fundamental para todo o setor mundialmente", comenta o diretor-executivo da IETHA, Joseph Sherman.

A primeira palestra, Negociação do Contrato de Exportação, apresentada pelo presidente da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, mostrou as faces operacionais para uma boa negociação no vários tipos de contratos (FOB, CIF, ex-Works), as exigências de documentações e licenças, evolução do mercado de fretes, movimentação de exportação de etanol no mercado mundial, fluxos de etanol por matéria-prima, entre outras questões que envolvem a decisão no momento de fechar um contrato, e que deve prever todo o caminho por qual será percorrido o produto.

"Há cerca de dois anos, a IETHA lançou o Contrato Padrão, como sugestão nas negociações de exportação de etanol, elaborado com base no FOB Pumped In, que está sendo amplamente adotado pelos grandes exportadores tanto no Brasil como fora do País", comenta Sherman. Todo contrato embasado em FOB (Free on Board) determina, por exemplo, que a responsabilidade de toda a formalização do processo logístico de exportação é do vendedor/exportador.

Em seguida, foram apresentadas todas as especificações técnicas, processos de transferência, garantias de qualidades e quantidades acordadas na negociação de exportação de etanol, desde a produção até a entrega no navio, na palestra Processos de Carregamento nas Usinas, realizada pelo diretor da SGS do Brasil, Caetano de Souza. "Esses procedimentos imparciais e independentes determinam a realização da venda do produto no mercado externo", lembra Sherman.

Na palestra Transporte Rodoviário ao Porto, Jordano Bessa, diretor da Transjordano Transportes, levantou os desafios que a rede rodoviária ainda tem pela frente, como a integração da cadeia logística brasileira, a infra-estrutura rodoviária nacional, citando exemplos como o Rodoanel, e por fim a infra-estutura nos portos para o recebimento da carga transportada por caminhões. Nessa apresentação, Bessa ainda comentou os entraves pertinentes ao setor rodoviário, desde contratos de fretes, formação de frotas, requisitos e documentações, rodízios, até mesmo legislações para carga perigosa, transportes e recomendações sindicais que devem ser atendidas.

"Apenas para se ter uma idéia, a entrega no porto de Santos de um lote de 4.500m³ de álcool anidro (negociado dentro dos padrões que devem ser exportados a Europa) saindo da região de Ribeirão Preto, envolve 40 veículos bitrens, com capacidade de 45m³ cada um. Atendendo a toda a regulamentação prevista, serão necessárias 100 viagens, numa cadência de 5 dias", completa. Considerando que o Brasil é um país de malhas rodoviárias, esse é um debate que deve permanecer nas pautas do setor.

Uma alternativa modal às malhas rodoviárias seriam os dutos. Para falar sobre esse assunto, Moacir Megiolaro, diretor de operações CentroSul (do Grupo Brenco), apresentou o projeto de alcoduto da empresa e que deverá entrar em operação em setembro de 2011. Numa das palestras mais comentadas do evento, Futuros Alcodutos, Megiolaro falou sobre toda a estruturação já adiantada do duto, que ligará o município do Alto Taquari, no Mato Grosso, passando pelos principais centros de produção, coleta e distribuição de etanol, até o Porto de Santos.

Segundo Moacir, o duto terá capacidade para escoar até 8 milhões de m³/ano até 2015, sendo metade destinado a exportação. "Fazendo uma breve comparação, o escoamento de 4 milhões de m³ representa 500 caminhões bitrens a menos circulando por dia e uma redução de 150 mil toneladas de CO2 por ano na atmosfera", relata.

Ainda como uma das questões mais complexas da logística, Aquiles Dias, vice-presidente da Copape, em sua palestra Terminais Portuários, falou sobre a atuação e responsabilidade dos terminais, conexões de descarga de caminhões em tanques, metodologias de controles e contratação dos terminais, infra-estrutura dos portos exportadores de etanol no Brasil e, sobretudo os grandes desafios para os portos brasileiros atenderem a demanda crescente do mercado de álcool carburante, que vão desde a utilização adequada dos modais logísticos existentes, a viabilidade do alcoduto, a integração dos agentes portuários, novas áreas e regulamentação para atracação, aprofundamento e adequação dos limites operacionais dos portos, e diretrizes comuns para investimentos em áreas de desenvolvimento dos portos.

Marcello Borelli, diretor da Brazilship/Scanbrasil, deu continuidade ao evento, com um tema muitas vezes até desconhecido para potenciais exportadores de etanol. Em sua apresentação Transporte Marítimo, Borelli mostrou desde os simples processos de contratação de frete marítimo, mercado de frete, até perspectivas de crescimento de navios para atender às exportações de etanol.

"Hoje são 2.110 navios disponíveis. A previsão de entrega ainda este ano é de 475 navios, porém devem ser descartados para sucata 109 navios, em 2009. A estimativa é de que serão entregues até o ano de 2012, 705 novos navios somente para a exportação de álcool carburante", revela o palestrante. Mas isso não significa que essa etapa da cadeia logística não tenha seus grandes desafios. Para Borelli, entre eles estão a operação portuária, a cadência de exportações constantes, além da possibilidade de navios de maior porte para atender a demanda desse setor.

Para finalizar os debates, o diretor da Vopak Brasil, Marcelo Villaça, mostrou o que chamamos de "contra-mão" de todos os processos apresentados durante o evento, ou seja, todo o processo ao contrário no destino do produto. Na palestra Procedimentos de Descarga no Destino, a partir do exemplo da operação do Porto de Roterdã, na Holanda (um dos maiores portos do mundo e principal porto de recebimento de etanol na Europa), Villaça destacou toda a estrutura e os processos desse porto, bem como os itens técnicos e comerciais que devem ser considerados no destino quando se fecha o contrato de exportação, no início das negociações.

O porto de Roterdã, para o setor de etanol, é um centro de distribuição para os principais mercados importadores europeus - Alemanha, França, Espanha, Escandinávia e Reino Unido, além de estar localizada em um raio de apenas mil quilômetros desses países.

O Encontro de Especialistas em Logística para a Exportação de Etanol cumpriu seu papel de trazer a tona os impactos da área logística sobre a produção e negociação do etanol, as várias soluções apresentadas pelos players da cadeia logística de abastecimento e exportação do álcool carburante, assim como os desafios que os setores sucroalcooleiro e de energias renováveis ainda têm pela frente.

"Além de ter sido um momento para iniciarmos debates mais aprofundados nessa área, também gerou novas oportunidades que possam permitir que o mercado de etanol cresça de forma homogênea e consistente, considerando todos os aspectos relacionados ao fortalecimento de um setor, inclusive a cadeia logística e de infra-estrutura para o escoamento do etanol comercializado internacionalmente", avalia Sherman.

Fonte: Esfera da Comunicação - (11) 3966-3524 / 3966-8168

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro