Embrapa quer alimentos com melhor qualidade nutricional

01.07.2009 | 20:59 (UTC -3)

Alguns dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros, como a mandioca, a batata-doce, o arroz, o feijão, o milho e o trigo, já apresentam em sua composição os benefícios dos resultados dos programas de melhoramento em busca de uma melhor qualidade nutricional.

A cultivar de mandioca Jari, por exemplo, lançada em junho por duas Unidades da Embrapa – Mandioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas-BA) e Tabuleiros Costeiros (Aracaju – SE) – apresenta maiores teores de betacaroteno (precursor da vitamina A), micronutriente importante para a manutenção da saúde dos olhos.

Para a cultura do milho, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) estão investindo na avaliação de uma linhagem com até quatro vezes mais carotenóides precursores da vitamina A que os encontrados em cultivares comuns. Esta linhagem, segundo o pesquisador Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães, apresenta valores médios de pró-vitamina A da ordem de 7,6 microgramas/grama, enquanto as 20% melhores espigas apresentaram valores médios de 9,2 microgramas/grama nas últimas avaliações. "Estes valores são, respectivamente, cerca de 3,5 e 4,2 vezes maiores que os encontrados em milho de grãos amarelos", relata o pesquisador.

Segundo ele, se as avaliações quanto aos desempenhos agronômico e nutricional forem satisfatórios, esta cultivar poderá ser lançada a partir de 2010. Mesmo apresentando altos teores de pró-vitamina A – as melhores espigas atingiram valores de 9,2 microgramas/grama – o milho, para ser considerado pelos pesquisadores como biofortificado, precisa apresentar teores de, no mínimo, 15 microgramas/grama. “O material obtido dos cruzamentos na Embrapa Milho e Sorgo já possui cerca de 10ug destas substâncias por grama do grão. Estamos trabalhando para alcançarmos a quantidade alvo”, completa a cientista de alimentos Maria Cristina Dias Paes.

De acordo com ela, caso se obtenha sucesso na fase de desenvolvimento de uma cultivar biofortificada, começa então a fase de realização de testes biológicos. “Até 2010, o método in vitro para a avaliação da biodisponibilidade de carotenóides precursores da pró-vitamina A deverá ser implementado em nossos laboratórios”, antecipa. Após essa etapa, a eficiência da cultivar biofortificada em disponibilizar a vitamina A é testada em animais, quando um maior volume da nova cultivar tiver sido disponibilizado pela equipe de melhoramento genético. A previsão para o início dos testes de biodisponibilidade em animais, segundo a cientista, é 2011.

Transgenia e biologia molecular podem acelerar processo

O processo para se chegar a uma cultivar biofortificada exige tempo e investimentos. A cientista de alimentos Maria Cristina Dias Paes conta que a seleção de materiais precursoras da linhagem de milho com altos teores de pró-vitamina A teve início em 2004. “Somente nos anos de 2007 e 2008 tivemos avanço nos conteúdos de carotenóides através dos cruzamentos”, conta Cristina. Ainda segundo ela, a transgenia e a utilização da biologia molecular são ferramentas que podem antecipar os resultados. “Há possibilidade de obtermos ganhos no valor nutritivo ou tecnológico do milho e de outros cereais através da transgenia. O arroz dourado é um exemplo desse processo”, explica.

Sobre a utilização das ferramentas de biologia molecular para reduzir o tempo de desenvolvimento de uma cultivar, Maria Cristina antecipa que marcadores moleculares estão sendo testados na Embrapa Milho e Sorgo para a implementação da seleção assistida no processo de geração da cultivar de milho com alto conteúdo de carotenóide pró-vitamina A.

Entenda o programa de biofortificação

O desenvolvimento de cultivares com altos teores de vitaminas, ferro e zinco, nutrientes indispensáveis na alimentação dos seres humanos por combaterem a anemia, prevenirem a cegueira e conferirem maior resistência às doenças, compõem um programa de pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) denominada biofortificação de produtos agrícolas.

O programa, também conhecido como HarvestPlus, recebe recursos da Fundação Bill e Melinda Gates e tenta suprir a dificuldade de suplementação de vitaminas e minerais em regiões sem infra-estrutura adequada para a distribuição de alimentos processados com o uso de tecnologias que têm como base a semente de produtos agrícolas melhorados.

A biofortificação de alimentos no Brasil envolve 10 unidades da Embrapa, universidades, centros de pesquisa e empresas de extensão rural, além de prefeituras, associações de produtores e organizações não-governamentais. Em todo o mundo, são cerca de 700 pesquisadores e técnicos envolvidos com o propósito da biofortificação.

Guilherme Ferreira Viana

Jornalista / Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)

/ (31) 3027-1223

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