Embrapa mostra contribuições para o Cerrado em reunião na Câmara

17.04.2014 | 20:59 (UTC -3)

A contribuição da Embrapa para o desenvolvimento agrícola do bioma Cerrado foi o tema da reunião, na última terça-feira (15), da Frente Parlamentar de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação da Câmara dos Deputados. Presidido pelo deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), o encontro teve a participação de representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), do pesquisador aposentado Edson Lobato e de cerca de 80 empregados da Embrapa Cerrados.

A reunião foi preparatória para a audiência pública que ocorrerá, no dia 22 de abril, nas Comissões de Ciência e Tecnologia e da Agricultura para debater o projeto do governo do Distrito Federal de construir unidades habitacionais em área experimental da Embrapa Cerrados. Também estiveram presentes na reunião representantes da Agência Espacial Brasileira, do Fórum de Ciência e Inovação, do Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia e do Fórum de Desenvolvimento Econômico e Social.

A pesquisadora Ieda Mendes fez uma apresentação sobre a Embrapa Cerrados, que completa 40 anos em 2015. Ela destacou os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Unidade ao longo de quatro décadas, como manejo da fertilidade do solo, uso de inoculante em soja e outras culturas, sistemas de integração, melhoramento animal, desenvolvimento e adaptação de culturas agrícolas e pastagens, e projetos voltados à agricultura familiar, entre outros.

Ao falar dos impactos das pesquisas, como o efeito poupa-terra, a redução do preço da cesta básica para 20% do que representava em 1975 e o consequente aumento do poder de compra dos brasileiros, Ieda Lembrou que em 39 anos o Cerrado se transformou em importante produtor e exportador de alimentos. “Os trabalhos da Embrapa Cerrados têm impactos que vão muito além dos limites do Distrito Federal”, disse.

A pesquisadora também abordou o desafio da pesquisa agropecuária de promover o crescimento com sustentabilidade, destacando alguns trabalhos em andamento, como recuperação de áreas degradadas, aproveitamento econômico de plantas nativas, sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta e de consorciação de grãos, fruteiras e hortaliças, além da adaptação de culturas como cana-de-açúcar e dendê às condições de Cerrado. “Temos a grande oportunidade de ajudar o Brasil a aumentar a produção de alimentos em 40% nos próximos anos”, afirmou.

Terras - ao finalizar a apresentação, a pesquisadora mostrou a preocupação dos empregados da Embrapa Cerrados com uma área de 300 hectares dos campos experimentais que está sendo pleiteada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para a construção de cerca de 5 mil unidades residenciais. A área pertence ao GDF, mas há quatro décadas foi cedida à Embrapa para o desenvolvimento de pesquisas. Em 2009, o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) foi alterado, incluindo a área na malha urbana do DF.

“Se isso acontecer, será o fim da Unidade, não só pela perda das pesquisas como pelo fato de que o centro não suportará a pressão de 20 mil pessoas. A Embrapa Cerrados é um patrimônio dos brasileiros. Deveria ser estimulado, e não exterminado”, disse Ieda, acrescentando que o centro está localizado em uma zona de amortecimento estabelecida por lei e que tem por função amortecer o impacto das áreas próximas ocupadas pelo homem.

Para o pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados e ganhador do Prêmio Mundial de Alimentação em 2006, Edson Lobato, são os resultados de experimentos de longa duração, como os executados na área requisitada pelo GDF, que dão suporte ao discurso da sustentabilidade. “Para se falar em sustentabilidade, são necessárias décadas de estudos em campo. Os trabalhos em laboratórios e casas de vegetação são um suporte, mas são as interações no campo entre o clima, o ambiente físico e o homem, que vão determinar essa sustentabilidade”, afirmou.

Como exemplo da importância desses experimentos de longa duração, Lobato citou os trabalhos que permitiram mudar a história da química do fósforo no solo. Ele explicou que os resultados desses experimentos comprovaram ser possível recuperar todo o fósforo aplicado no solo e tornar as terras do Cerrado aptas à agricultura. “É com orgulho que nós ajudamos a transformar a agricultura brasileira. No entanto, esse sentimento de orgulho está sendo transformado em um sentimento de angústia”, lamentou o pesquisador.

A representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Beatriz de Bulhões, reforçou o apoio da instituição à causa da Embrapa Cerrados. Em março, a SBPC, as 112 sociedades científicas associadas e a Academia Brasileira de Ciência enviaram carta ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, com cópia para a Presidência da República, solicitando que fosse reconsiderada a escolha da área para implantação do empreendimento habitacional.

“Lutamos contra os obstáculos impostos para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Consideramos que a ruptura de anos de pesquisa neste campo experimental da Embrapa Cerrados causará enormes prejuízos ao avanço da ciência brasileira. Sabemos que ainda há muitos desafios a serem enfrentados e a Embrapa é fundamental neste processo”, declarou.

O coordenador geral de Biotecnologia e Saúde do MCT, Luiz Henrique Mourão Pereira, destacou a parceria do órgão com a Embrapa. Ele citou seis chamadas de editais de Fundos Setoriais, como o CT Agro, em que a Embrapa Cerrados teve aprovação de projetos de pesquisa. O representante do MAPA, Luiz de Almeida, enfatizou a importância das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados para o desenvolvimento agrícola do bioma.

O deputado Jésus Rodrigues (PT-PI) manifestou disposição em auxiliar no diálogo com o GDF. “Compreendo que seria necessário resistir e tentar manter a área para a pesquisa, ainda que seja em zona urbana, com toda a segurança possível”, disse.

No encerramento da reunião, Izalci Lucas lembrou que existem muitas áreas no DF que podem ser utilizadas para as políticas habitacionais, e que não faria sentido abrir mão de uma área há anos utilizada pela pesquisa. “Sabedoria é reconhecer o óbvio, e está faltando sabedoria. Esperamos que mais parlamentares se sensibilizem, entendam a importância da pesquisa nessa área e nos ajudem a convencer o GDF a mudar de posição”, finalizou.

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