Embrapa Cerrados realiza Dia de Campo sobre maracujazeiro silvestre

28.02.2014 | 20:59 (UTC -3)

“Não meçam esforços para implantar na propriedade de vocês, ele é uma pérola, é uma joia, e joia vale dinheiro”. Essa foi a declaração da produtora rural Leda Gama no Dia de Campo realizado nesta quinta-feira (27) sobre a produção do maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado. O evento reuniu 120 pessoas entre produtores rurais, técnicos, extensionistas, estudantes e pesquisadores na Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) e no Núcleo Rural de Sobradinho (DF) e foi realizado em conjunto com a Emater-DF.

Primeira cultivar silvestre registrada e protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a BRS Pérola do Cerrado foi lançada em maio de 2013 e desde então os viveiristas licenciados já venderam em torno de 30 mil mudas para diferentes regiões do Brasil. “Essa variedade é um sucesso e veio para ficar. Minha intenção é aumentar minha área de produção, já que a procura por esse maracujá está sendo muito grande. Tudo o que a gente leva para a feira, a gente vende”, contou dona Leda aos participantes do Dia de Campo. Segundo a produtora, o valor investido na implantação já foi retomado.

A programação do evento contou com uma visita à propriedade em que dona Leda cultiva, de forma orgânica, o BRS Pérola do Cerrado. Essa é a primeira safra do cultivo comercial implantado em 800 metros quadrados da propriedade. “Estou muito satisfeita e o retorno dos consumidores é o melhor possível”, relata.“Como não disponho de mão-de-obra, já que aqui trabalhamos apenas eu e meu sobrinho, tivemos que investir em algo que desse pouco trabalho e mais lucratividade. Deu certo”, comemora a produtora.

O cultivo do BRS Pérola do Cerrado dá pouco trabalho, pois se trata de uma variedade rústica, cuja ocorrência de doença é consideravelmente menor. “Isso faz com que ele se adapte muito bem aos sistemas de produção orgânicos, por exemplo”, destacou o pesquisador da Embrapa Cerrados Fábio Faleiro.

Em uma das estações do Dia de Campo, a pesquisadora Ana Maria Costa tratou do cultivo do Pérola do Cerrado em sistema de latada e espaldeira. “Os estudos com os dois sistemas são necessários, pois existem diferenças na forma de conduzir, cuidados específicos numa situação e outra e, ainda, vantagens e desvantagens”, afirmou Ana Maria. Em sistema de latada, por exemplo, há a necessidade de mais investimento na estrutura, mas a produtividade é um pouco maior, chegando a mais de 25 toneladas por hectare.

Segundo a pesquisadora, há ainda a possibilidade de o produtor adotar os dois sistemas e, assim, garantir produção de frutos o ano todo – já que em latada os maracujás começam a produzir um pouco antes. “Dá uma diferença de mais ou menos um mês. Isso proporciona uma janela entre um e outro, o que acaba equilibrando a produção”, afirmou. Nos dois sistemas, no entanto, essa variedade floresce e frutifica praticamente o ano todo, ao contrário do maracujá azedo que possui uma entressafra entre agosto e setembro nas regiões de maior latitude. Mas, o pesquisador Fábio Faleiro faz uma ressalva. “O BRS Pérola do Cerrado não veio para substituir o maracujá comercial. É uma opção a mais para o produtor”, ressaltou.

A pesquisadora Ana Maria Costa também falou da questão da produção de mudas do BRS Pérola do Cerrado. Não são vendidas sementes, apenas mudas, pois a germinação dessa espécie é diferenciada. “Para que a germinação seja possível, as sementes precisam passar por um tratamento com hormônios de plantas. Dessa forma, conseguimos elevar a taxa de germinação e viabilizar a comercialização e produção”, conta. Atualmente, dois viveiros estão licenciados para a produção e comercialização das mudas para todas as regiões do Brasil. A Embrapa, no entanto, vai abrir um novo edital para o licenciamento de novos viveiristas a fim de facilitar ainda mais a logística de comercialização e envio das mudas.

Cadeia produtiva - depois de um ano de lançamento do BRS Pérola do Cerrado, é grande a demanda pelo produto, inclusive do exterior. “A nossa perspectiva de que haja um crescimento dessa cadeia produtiva”, afirmou o pesquisador Fábio Faleiro. No Dia de Campo desta quinta-feira, esse assunto foi tratado pelo extensionista Geraldo Magela, da Emater-DF. Foi criada uma associação de produtores de maracujá e no dia 4 de junho será realizado o sexto encontro regional de produtores de maracujá do DF.

“Hoje o maracujá ocupa muito espaço no DF. Junto com os novos híbridos de maracujazeiro azedo da Embrapa (BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e BRS Rubi do Cerrado), houve introdução de tecnologia. Isso fez com que a produtividade de alguns produtores aumentasse três vezes mais em comparação à média nacional que é de 14 ton/ha”, afirmou. Ainda segundo Geraldo Magela, o maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado é mais uma alternativa e está conquistando os produtores da região. O pesquisador Fábio Faleiro enfatizou a importância da organização dos produtores em associações e cooperativas para que a produção seja feita em escala e com alta qualidade para atender as demandas do Brasil e do exterior.

Características do BRS Pérola do Cerrado – o diferencial de mercado do BRS Pérola do Cerrado é que se trata de uma cultivar com quádrupla aptidão: consumo in natura, processamento industrial, ornamental e funcional, já que é rico em sais minerais e antioxidantes. Os frutos, quando maduros, têm coloração verde-claro com seis listras longitudinais verde-escuras. É uma planta tropical e se adapta a diferentes tipos de solo, com exceção daqueles sujeitos à geada e a encharcamento. O principal polinizador das espécies sãos o morcegos herbívoros, mas se plantada num local sem ocorrência desses animais, a polinização pode ser feita de forma manual. Mais informações sobre o BRS Pérola do Cerrado podem ser obtidas no http://www.cpac.embrapa.br/lancamentoperola/

Diversidade genética – durante o Dia de Campo, o pesquisador Fábio Faleiro tratou também de toda a diversidade genética que envolve o maracujá. “Tem muito ainda para a pesquisa avançar em cima dessa biodiversidade”, contou. Segundo ele, 95% das plantações de maracujá no Brasil são com a Passiflora edulis, o maracujá azedo. Existem ainda plantações de maracujazeiro doce (Passiflora alata), mas ainda sem nenhum cultivar registrada. “Há pelo menos mais 70 espécies com potencial para produzir frutos comestíveis”, afirmou.

Para que cultivares de diferentes espécies sejam geradas e disponibilizadas aos agricultores, há um trabalho robusto de pesquisa, desenvolvimento e inovação sendo realizado. Os projetos atuais desenvolvidos pela Embrapa envolvem parcerias nacionais e internacionais e mais de 100 profissionais. Alguns produtos já foram lançados como as cultivares de maracujazeiro azedo, BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado, BRS Ouro Vermelho e BRS Rubi do Cerrado e o maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado. Há a previsão de lançamento para a sociedade no segundo semestre deste ano de cultivares de maracujazeiros ornamentais (BRS Estrela do Cerrado, BRS Rubiflora, BRS Roseflora, BRS Céu do Cerrado e BRS Rosea Púrpura). Os participantes do dia de campo tiveram a oportunidade de conhecer também esses novos maracujazeiros ornamentais.

Segundo Fábio Faleiro, o objetivo final dos projetos com o maracujá é disponibilizar para a sociedade novas cultivares e produtos tecnológicos de maracujazeiro azedo, doce, ornamental e funcional-medicinal como alternativas para geração de emprego e renda e, também, como opção de ampliação da base da alimentação e da ornamentação, utilizando, para isso, as pesquisas e a biodiversidade essencialmente brasileira.

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