Em Bordéus, uvas colhidas à noite por causa do clima

Na região de Bordéus, na França, a colheita de uvas à noite tornou-se uma estratégia para enfrentar as mudanças climáticas e melhorar a qualidade do vinho. A prática pode gerar economia de energia. E já é comum em outras regiões produtoras de vinho como Austrália e Califórnia. As informações são da Agência France Press (AFP).

O motivo do novo modelo é duplo: qualidade das uvas e adaptação às mudanças climáticas. Loic Malherbe, motorista de uma colheitadeira, contou à AFP que a frescura e o sabor das uvas são preservados. A prática não é nova, mas está ganhando tração.

Kees Van Leeuwen, professor em Bordeaux Sciences Agro, vê vantagens econômicas. Uvas colhidas à noite não precisam ser refrigeradas durante o transporte. Isso economiza energia. Van Leeuwen projeta que a prática poderá se tornar comum, especialmente com o avanço das mudanças climáticas.

Stephane Heraud, proprietário de um vinhedo em Bordéus, também usa gelo seco para manter as uvas frescas. Ele atesta que a prática é antiga para uvas brancas e rosadas. Contudo, não descarta a possibilidade de expandir para uvas tintas. A cooperativa Vignerons de Tutiac, que Heraud dirige, é um dos maiores produtores de vinho da região. Eles se destacam pela produção de vinhos rosados.

O enólogo-chefe da Tutiac, Paul Oui, destaca a preferência do consumidor por rosas claros e transparentes. A colheita noturna ajuda a limitar a transferência da cor da casca para o suco. Naquela noite, meio milhão de garrafas de vinho seriam produzidas com uvas colhidas.

Finalmente, a mudança nas práticas de colheita reflete as alterações climáticas em curso. Temperaturas mais altas aceleram a maturação das uvas. Heraud relembra que, na sua infância, a colheita acontecia em novembro. No ano passado, terminou em 30 de setembro. A mudança climática, segundo ele, é inegável. A tendência de colheitas noturnas, portanto, é uma adaptação necessária e talvez um novo padrão na viticultura mundial.