Duração do conflito entre Rússia e Ucrânia ditará movimentos do mercado de grãos

Fórum Nacional da Soja realizado durante a Expodireto Cotrijal discutiu cenários para o setor e as mudanças climáticas e seus impactos na agricultura

08.03.2022 | 14:33 (UTC -3)
Rejane Costa e Nestor Tipa Júnior
Marcos Jank Fórum da Soja -- Foto:Nestor Tipa Júnior
Marcos Jank Fórum da Soja -- Foto:Nestor Tipa Júnior

Discussões e apresentações de especialistas da cadeia produtiva para ter uma visão de futuro e os desafios da cadeia produtiva. Foi assim que o presidente da Cotrijal, Nei Mânica, apresentou o Fórum da Soja, que chegou à sua 32ª edição e foi realizado de forma híbrida durante a programação da Expodireto Cotrijal na manhã desta terça-feira, 8 de março. Complementando, o presidente da CCGL, Caio Vianna, lembrou também que no fórum foram travadas lutas do setor agropecuário e demandas saíram do evento direto para as autoridades.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, em sua manifestação, frisou que o Fórum da Soja sempre foi um espaço para discutir questões da comercialização e precificação. "Desde então, a cada ano, tentamos fazer os temas mais pontuais possíveis no evento. E este ano optamos a dar mais significado às questões estruturantes. Uma questão já mexe com muita coisa, e tivemos nos últimos tempos uma estiagem, uma pandemia e uma guerra", observou.

Presencialmente no Fórum, o professor sênior de agronegócio global do Insper e coordenador do centro Insper Agro Global, Marcos Jank, abordou o tema “A inserção global do agronegócio brasileiro em tempos turbulentos (Guerra Ucrânia x Rússia)”. Disse que desde o início da pandemia houve muitas incertezas que paralisaram parte da economia, mas o agronegócio continuou produzindo. “A pandemia surpreendeu com uma demanda muito firme pelos nossos produtos. Em um primeiro momento achamos que a demanda cairia, haveria um excesso de oferta e queda nos preços. Porém, não foi o que aconteceu. Observamos que principalmente as nossas exportações atingiram níveis nunca antes vistos”, pontuou, colocando que em 2021 foram exportados U$ 120,8 bilhões, 20% a mais do que em 2020.

Segundo Jank, esse crescimento nos embarques brasileiros do agronegócio ocorreu especialmente devido à demanda aquecida na Ásia, com destaque para a China na compra de soja e milho. “Com isso, vimos vários preços subirem. Porém, houve um aumento também nos custos de produtos que adquirimos como glifosato, adubos, máquinas e equipamentos. Também tivemos problemas com suprimento de peças. E, agora, para fechar este ciclo temos esta guerra entre Rússia e Ucrânia”, ressaltou.

De acordo com o especialista, os produtos mais afetados com este conflito são o trigo e os fertilizantes. Em relação ao cereal, os dois países representam juntos 30% da exportação mundial do produto. Lembrou que o Brasil está cada vez mais dependente do mercado em relação aos fertilizantes, “já que não aumentou a sua produção doméstica e teve queda em termos relativos”. Conforme Jank, Rússia e Bielorrúsia são os nossos maiores fornecedores. “Tivemos um salto na importação de fertilizantes, portanto temos que trabalhar com outros fornecedores porque não tem agricultura sem adubo”, observou.

Para finalizar sua palestra enfatizou o que o produtor precisa pensar no seu dia a dia levando em conta questões como clima, comercialização, riscos institucionais e financeiros. Também citou os principais desafios internacionais para o desafio do Brasil no mercado mundial: competitividade, sustentabilidade, acesso a mercados, valor adicionado, melhoria de imagem e internacionalização. “Em relação ao acesso aos mercados, é preciso brigar para entrar na China, no Sudeste da Ásia, na África, na Índia, e brigar pelo fertilizante, pelo glifosato, ou seja, ter acesso aos suprimentos”, concluiu.

No formato virtual, o diretor do Instituto Ciência e Fé e pesquisador da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, falou sobre “A sustentabilidade da agropecuária frente às incertezas climáticas”, apresentou dados sobre as áreas preservadas em propriedades além das áreas protegidas no Brasil. "Quando juntamos as áreas conservadas pelos produtores e as áreas protegidas chegamos a 66,3% da área do Brasil, ou seja, 564.235.949 hectares, o equivalente à área de 48 países da Europa. Os produtores brasileiros devem ter orgulho", destacou.

Segundo Miranda, com base em dados da Embrapa, hoje a preservação em terras privadas de produtores estão dedicadas em 2,8 milhões de quilômetros quadrados em todo o Brasil, o que dá um total de um patrimônio de cerca de R$ 3 trilhões em investimentos em preservação nestas áreas. "Que categoria profissional do Brasil dedica do seu patrimônio privado R$ 3 trilhões para a preservação do meio ambiente?", questionou.

Conforme o especialista, os próprios relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o Brasil é o país que mais preserva áreas no mundo e a prática agrícola auxiliou neste desenvolvimento. "A nossa agricultura desenvolveu um modelo sustentável em que não existe paralelo no mundo, em especial de forma tropical", salientou, lembrando de exemplos como o plantio direto, fixação biológica do nitrogênio, integração lavoura-pecuária, entre outras atividades sustentáveis.

Sobre as incertezas climáticas, Miranda reforçou que o produtor pensa no passado, presente e futuro para fazer seu planejamento. "Temos incertezas até sobre os nossos próprios modelos, e não sabemos também qual a adaptação da agricultura a diversos cenários climáticos", ressaltou, finalizando que o produtor precisa ver quais as ferramentas tecnológicas deve adotar com as suas condições, a fim de se proteger destas incertezas, entre elas a irrigação. "A irrigação tem que se colocar como destaque", completou.

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