Dependência externa de fertilizantes NPK é debatida em Audiência Pública

​O Brasil importa 79% dos fertilizantes NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) usados na agricultura, com uma taxa de aumento no consumo de até 6% ao ano

27.11.2017 | 21:59 (UTC -3)
Rose Lane César​

O Brasil importa 79% dos fertilizantes NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) usados na agricultura, com uma taxa de aumento no consumo de até 6% ao ano. Por esse motivo, a exploração de jazidas desses minerais em território brasileiro foi debatida em Audiência Pública, na manhã desta quarta-feira, 22, na Câmara dos Deputados, com a participação do chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos (RJ), José Carlos Polidoro.

De acordo com o deputado Reinhold Stephanes, que presidiu a Audiência, a produção de alimentos no Brasil é fortemente dependente do uso de fertilizantes a base de NPK, alcançando34 milhões de toneladas em 2016. Ele informou que o custo desses insumos na produção das principais lavouras do país, ou seja, da soja, milho, trigo e arroz, variam de 30% a 40% do total, dependendo da cultura e da região. Para Stephanes é necessário um plano nacional que objetive conter ou minimizar a dependência que, segundo ele, se transformou em um fator de diminuição da renda do produtor e da competitividade brasileira mas, principalmente, em riscos para a economia brasileira e a segurança alimentar.

O pesquisador Carlos Polidoro explicou que a maior parte dos solos brasileiros tem fertilidade natural baixa a muito baixa, o que justifica a necessidade do uso de fertilizantes, anualmente, para que o país mantenha sua produção agrícola. “É preciso que o Estado brasileiro mude o paradigma em relação ao uso desses insumos. O Brasil é capaz de alimentar 1.3 bilhão de pessoas no mundo inteiro. Esse é um grande negócio para o País, além da segurança alimentar”, defendeu. “Nós não conseguiríamos ter duas safras por ano sem uso de fertilizantes”, afirmou, concordando que é preciso estruturar uma estratégia nacional sobre o tema.

A logística de distribuição de fertilizantes foi um dos pontos críticos apresentados por Polidoro. Ele mostrou que não existe produção local no estado de Mato Grosso, maior consumidor desses produtos do país. Apontou também a falta de infraestrutura para garantir a produção e a distribuição desses insumos para os estados do Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará, considerados as novas fronteiras agrícolas do país, apesar da maior jazida brasileira de fósforo conhecida pertencer a este último. Para o chefe, essa deve ser uma preocupação para que haja incremento na produtividade e para que se evite novos desmatamentos.

Polidoro disse que atualmente os preços estão baixos, mas lembrou a crise provocada por problemas nas jazidas de potássio da Rússia que fez com que praticamente dobrassem os preços de todos os fertilizantes NPK em curto espaço de tempo. “Isso que aconteceu em 2008 deve ser tratado como uma advertência. Nunca foi um discurso produzir aqui todo o fertilizante. Se é mais barato comprar de Marrocos ou da Rússia que se compre. Mas temos que ter estratégias para prever os problemas. Temos poucas empresas produtoras no mundo e em países politicamente complicados”, alertou.

O pesquisador afirmou que o Brasil possui a maior rede de pesquisa, desenvolvimento e inovação do mundo em fertilizantes, a chamada Rede FertBrasil, liderada pela Embrapa Solos. “Esta rede contempla a indústria, o produtor rural e a pesquisa agropecuária e mineral. Ela está montada na base da cooperação entre as instituições, mas não faz parte das estratégias do Estado brasileiro. ” Segundo Polidoro a rede FertBrasil já conseguiu resultados importantes, melhorando a eficiência no uso dos fertilizantes e na busca de alternativas aos produtos à base de NPK, dentre outros estudos, mas tem sofrido com a redução de investimentos do País em pesquisas.

Ao finalizar sua apresentação o pesquisador alertou sobre alguns produtos que estão no mercado brasileiro à base de pós de rocha que não são viáveis. “Isso pode acarretar um problema muito sério na agropecuária brasileira. A Embrapa e parceiros estão avaliando muito bem algumas fontes viáveis de pós de rocha, mas estão vendendo outras fontes de pó de rocha, que não resolve o problema de fertilidade”, advertiu.

Também participaram do debate o Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Vicente Lôbo Cruz e o coordenador do Departamento de Fiscalização de Insumos Agropecuários do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Hideraldo Coelho.


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