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As mulheres são a força que, literalmente, transforma o algodão: desde a lavoura até o varejo, passando intensivamente pela confecção, estima-se que 75% dos empregos na cadeia produtiva da fibra sejam ocupados por elas. Sua presença está em toda parte, na produção, no escritório, e até naqueles postos que, não muito tempo atrás, eram considerados fortalezas masculinas, como a operação de máquinas pesadas. Aliás, o curso para tratoristas, exclusivo para mulheres, implementado em 2021, foi um dos mais concorridos na grade do Centro de Treinamento (CT) da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).
A entidade, por si só, é uma prova do girl power: tem na vice-presidência, na linha de sucessão, a agricultora Alessandra Zanotto, duas diretoras – Patrícia Morinaga e Suzane Piana –, uma ex-presidente, Isabel da Cunha, no Conselho Consultivo, além do fato de que 60% dos cargos de coordenação do quadro executivo pertencem a mulheres.
“Não há como conter a presença e a força da mulher em todos os cantos, onde ela quiser. Na cotonicultura, elas têm imprimido sua marca com brilhantismo. As mulheres já são a maioria em nossa instituição. Um mérito conquistado pela competência e pela seriedade que colocam em tudo a que se dedicam”, diz o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi.
Daniella Dias (foto acima) fez da estrada seu caminho, não apenas como passagem, mas como motivo para levantar-se da cama todos os dias. Inspirada no pai, cursou engenharia civil e se especializou em Projetos Rodoviários. Encontrou na Abapa uma oportunidade desafiadora: tocar o Patrulha Mecanizada, projeto de recuperação e pavimentação de estradas vicinais que tem revolucionado a logística no Oeste da Bahia. Sob seu comando, há um time de 75 pessoas, 100% masculino, com o qual ela aprendeu a lidar com estratégia, sabedoria e sensibilidade feminina.
“Sempre existe um pouco de resistência, mas descobri que a melhor maneira para quebrar estas barreiras é angariar o respeito dos mais velhos. São eles os líderes que fazem a ponte com os demais”, explica Daniella, que credita parte dessa habilidade ao fato de ser mulher. Ela conta que a equipe deve chegar a 100 funcionários este ano. Só com os operadores diretos, pois, contando com os profissionais que trabalham nos laboratórios, caçambas, cozinha, além dos terceirizados, serão ao todo 130. “Quando comecei na graduação, eu era uma das cinco mulheres, em nossa turma de 60 alunos”, lembra-se.
Roxana Nascimento (foto acima) também é do time da Abapa. Engenheira agrônoma, mestre em Produção Vegetal e doutora em Fitotecnia, a pesquisadora de 33 anos integra o Programa Fitossanitário da associação. Seu dia a dia inclui percorrer quilômetros e quilômetros de estradas, com o time do fito, para checar a sanidade das lavouras. Em parceria com a Embrapa Algodão e com a Fundação Bahia, ela participa de um projeto que investiga a incidência de fitonematoides – vermes que atacam diversas culturas, como algodão, soja e milho –, além de ajudar no monitoramento da ramulária e da ferrugem asiática, fungos que prejudicam, respectivamente, as lavouras de algodão e de soja. “As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço na agronomia. O trabalho exige muito esforço, mas é gratificante, e o algodão é uma cultura surpreendente”, diz.
Quem também se encantou com a cultura do algodão – com o privilégio de vê-la bem do alto! – foi a piloto de aeronave agrícola, Joelize Friedrichs (foto acima). A gaúcha de Não me Toque chegou à Bahia há um ano, em busca de oportunidade em uma área na qual é pioneira.
Quando começou, há dez anos, o setor de aviação agrícola computava apenas duas mulheres em todo o país. “Meu plano inicial era a aviação civil. A agrícola apareceu como uma opção, na qual eu pensava em me dedicar por uns dois anos, mas foi ficando cada vez mais interessante, e já estou nela há dez”, afirma. O algodão é uma novidade em sua vida, pois em seu estado de origem não há lavouras da cultura. “Vim para a Bahia porque a seca no Rio Grande do Sul tem tornado encurtado as possibilidades por lá. Esta é a minha segunda safra de algodão. Acompanhar o todo o ciclo, até o momento que as lavouras estão todas branquinhas foi surpreendente. Estou sempre mandando fotos para a família e os amigos”, confessa.
Resistências? Sim, a piloto encontrou algumas, mas, como piloto experiente, aprendeu a desviar a rota. “Não adianta bater de frente. Minha estratégia é investir onde acho que há chance. A partir daí, você ganha a confiança das pessoas e elas vão te indicando”, ensina.
Ser uma desbravadora em um segmento tão específico fez brotar em Joelize o senso de responsabilidade por abrir o caminho para outras mulheres, que também sonham trabalhar na aviação agrícola. “Quero, com meu trabalho, tornar mais fácil o acesso para outras mulheres que estão chegando agora. Essa é a minha contribuição”, conclui.
Dizem que a mulher é mais atenta aos detalhes; mais sensível às muitas nuances da vida ao redor. Usar esta habilidade no trabalho pode ser um grande diferencial quando se é classificador visual de algodão: uma tarefa que exige sensibilidade para identificar as características extrínsecas da pluma, como a cor, o brilho e o grau de impurezas. A classificação visual costumava ser um “bunker” masculino, onde as mulheres começam a pôr os pés. Neste caso, as mãos e os olhos.
Eliana Cardoso (foto acima) aprendeu a classificar algodão para ajudar o marido, Carlos, também classificador. Ela veio de Riacho de Santana, no Sudoeste da Bahia, para o Oeste, onde trabalha numa algodoeira. “Aprendi na prática, com meu marido, e, só recentemente, fiz a formação especial do Ministério da Agricultura, que foi executada pela Agopa, a Associação Goiana dos Produtores de Algodão. Dos 50 alunos, eu era uma das duas únicas mulheres”, diz.
“Acho que as mulheres têm bastante foco e atenção aos detalhes, o que é muito útil em nossa profissão”, pondera. Enquanto dava a entrevista, Eliana provou que, além dessas habilidades, ser multitarefas é outra vantagem competitiva das meninas, já que, ao mesmo tempo, ela usava seus sentidos e instintos para atender seu bebê, cheio de energia e disposição, a querer exclusividade da mamãe.
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