Congresso de Agrometeorologia chega ao fim

25.09.2009 | 20:59 (UTC -3)

Modelagem, sensoriamento remoto e sistema de informação geográfica na agrometeorologia. Temas aparentemente complexos, mas de grande utilidade para a agricultura, desde que bem empregados.

Estes foram os temas da última mesa-redonda do XVI CBA (Congresso Brasileiro de Agrometeorologia), que terminou sexta-feira (25/09), em Belo Horizonte-MG.

Maurício Alves Moreira, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), lembrou o crescimento exponencial que a população mundial teve nas últimas décadas e, ao contrário, o crescimento linear da produção de alimentos no mesmo período. Apenas no Brasil, segundo ele, há um consumo médio diário de 90 mil toneladas de alimentos, o que dá um consumo próximo de 33 milhões de toneladas por ano. E como se chega a uma produção deste porte? "Só mesmo através de uma agricultura moderna e com sustentabilidade", defende.

Neste sentido, o uso de imagens de satélites para mapear e monitorar a produção agrícola pode contribuir. "É no mínimo uma decisão inteligente o uso deste recurso", opina, acrescentando que, através das imagens, é possível se ter uma boa noção do local e uma visão mais ampla da área. Maurício comentou que há várias opções de satélites que geram imagens que podem ser aproveitadas na agricultura. Conforme a área trabalhada, o chamado tempo para a revisita (período que o satélite gasta para retornar ao mesmo ponto e gerar nova imagem) é diferente. Quanto maior a área, menor é o tempo; há satélites que passam pelos mesmos pontos todos os dias e há outros, que trabalham com faixas menores de área, que demoram dezenas de dias para retornar ao mesmo ponto.

Um exemplo de uso de imagem de satélite na agricultura vem do Sul do país. A professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Denise Fontana, explicou o trabalho que tem sido feito com o auxílio do sensor Modis, mostrando que é possível acompanhar as diferentes fases de uma cultura agrícola (desde o plantio, passando pelo manejo e chegando à colheita). A professora fez questão de destacar que este é um trabalho simples, mas que vem atendendo à demanda gerada no estado. Há, portanto, várias possibilidades de trabalhos mais complexos, que devem ser elaborados a partir da necessidade que se constata.

Denise comentou sobre o LEAA (Laboratório de Estudos em Agricultura e Agrometeorologia), do qual faz parte. O principal objetivo do grupo é atender às atividades de pesquisa relacionadas ao desenvolvimento de metodologias para previsão de safras. Para isso, o laboratório trabalha com mapeamento de áreas e modelagem agrometeorológica do rendimento de culturas agrícolas e de pastagens. Com as chamadas "máscaras de cultivo" geradas, é possível se quantificar as áreas de cultivo, localizando-se as lavouras e realizando-se estudos sobre elas.

A professora explicou que, hoje, esse tipo de trabalho é feito com duas culturas agrícolas no Rio Grande do Sul: a soja e o arroz. O objetivo agora é também fazer o trabalho com trigo. Mas há necessidade de se trabalhar ainda com o milho. Um fator limitante, de acordo com Denise, é a grande variedade de épocas de plantio, já que esta cultura pode ser plantada em mais da metade do ano sem grandes complicações ou dificuldades quanto ao manejo. "A gente vai ter que trabalhar com o milho, que é uma grande demanda da Conab", finalizou.

O XVI Congresso Brasileiro de Agrometeorologia foi uma organização conjunta da SBA (Sociedade Brasileira de Agrometeorologia), da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e da Embrapa Milho e Sorgo (que fica em Sete Lagoas-MG).

Mais informações no

. O próximo congresso nacional sobre o tema está marcado para o ano de 2011 e vai acontecer em Vitória-ES.

Mudanças climáticas na agricultura foram discutidas em congresso

No terceiro dia do XVI CBA (Congresso Brasileiro de Agrometeorologia), as discussões giraram em torno de mudanças climáticas e de seus efeitos na agricultura, tanto mundial como brasileira. O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP) Eduardo Assad falou sobre a nova geografia que está se formando no país por causa das recentes mudanças pelas quais o clima tem passado. Ele mostrou dados de diferentes culturas agrícolas e alertou que é necessário estudá-los melhor, já que se referem ao que pode acontecer em pouco tempo.

Assad rebateu o que vem sendo divulgado em relação ao café. De acordo com o pesquisador, a cultura não vai deixar de existir no Sul de Minas Gerais e na região Mogiana de São Paulo. O que é certo, segundo ele, é que, mantidas as atuais cultivares disponíveis no mercado, há uma tendência de deslocamento da cultura mais para o Sul do país. Para contornar esta situação, é preciso que se trabalhe questões relacionadas ao manejo da cultura. E novas espécies de café podem ser testadas em outras regiões: "o café robusta é uma boa opção para os estados de Minas Gerais e São Paulo", afirma.

Sobre o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, que vem provocando polêmica recentemente, Assad disse que também é necessária mais discussão. Segundo dados mostrados pelo pesquisador, é possível expandir o cultivo da cana no país sem avançar sobre biomas como a Amazônia e a Mata Atlântica. Com mais área plantada, poderia se produzir cerca de 240 milhões de litros de etanol, o que atenderia a 20% da demanda mundial. Entre as soluções que amenizariam os danos causados pelas mudanças climáticas na agricultura, o pesquisador citou o plantio direto, "desde que bem feito", e a integração lavoura-pecuária. E arrematou que a agricultura não é a vilã da história: ao contrário, "é a única atividade que pode, em um curto espaço de tempo, virar o jogo".

M. V. K. Sivakumar, da Divisão de Meteorologia Agrícola da OMM (Organização Meteorológica Mundial), também mostrou dados relativos às recentes mudanças pelas quais o mundo passou. Em relação ao aquecimento da Terra e dos oceanos, 11 dos 12 anos compreendidos no período de 1995 a 2006 foram classificados entre os 12 mais quentes desde 1850. Já a tendência linear de aquecimento nos últimos 50 anos, que é de 0,13°C por década, é cerca do dobro da tendência dos últimos 100 anos.

Alterações nos padrões de precipitação têm proporcionado importantes mudanças em relação a secas. De acordo com o representante da OMM, secas mais intensas e longas têm sido observadas em grandes áreas desde os anos 1970, particularmente nos trópicos e nos subtrópicos. Alterações na temperatura da superfície do mar e reduções das camadas e da cobertura de gelo estão ligadas à ocorrência de secas. "O aquecimento é inequívoco", resume Sivakumar, lembrando dos aumentos na temperatura atmosférica e nos níveis do mar e do gelo no Hemisfério Norte.

Para o futuro, algumas projeções podem ser feitas. Entre elas, a de que a temperatura média da superfície da Terra pode aumentar entre 1,8°C e 4°C no período de 2090-2099 em relação a 1980-1999. Na mesma comparação entre épocas, o nível médio do mar global está projetado para aumentar de 18cm a 59cm. Eventos de extremo calor, ondas de calor e precipitação intensa devem se tornar mais frequentes, assim como os ciclones tropicais (tufões e furacões) devem ser mais intensos e com maiores velocidades do vento. Segundo Sivakumar, "o desafio é se conseguir um manejo sustentável de um planeta em constante mudança".

Clenio Araujo

Embrapa Milho e Sorgo

(31) 3027-1272 /

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro