Como o uso de plantas de cobertura auxilia no combate a nematoides

Qual o impacto do cultivo de soja em palhadas de milho e crotalária sobre populações de nematoides das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus e a produtividade da oleaginosa.

06.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

As perdas causadas por fitonematoides têm se destacado entre as doenças da cultura da soja, causa de crescente preocupação entre os produtores. A ocorrência de nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), em áreas agrícolas da região Centro-Oeste, encontra-se em densidade elevada. Esses microrganismos são especializados em se alimentar do sistema radicular, interferindo diretamente nos processos fisiológicos da planta, comprometendo o desenvolvimento da cultura.              

A rotação ou sucessão com culturas não hospedeiras, a limpeza de máquinas e implementos agrícolas, o cultivo de plantas antagonistas, o controle químico e o uso de plantas resistentes são os principais métodos de manejo de nematoides para a cultura da soja. Porém, para P. brachyurus existe uma ampla gama de hospedeiros e o emprego da rotação é dificultado. 

O uso de plantas de cobertura é visto com certa restrição pelos agricultores, já que não resulta em retorno financeiro direto e imediato. No entanto, os reflexos e entraves dos sistemas de produção atuais, baseados em sucessão de cultivos (ex.: soja/milho), indicam de forma clara o papel dessas espécies na diversificação e viabilidade dos agroecossistemas.

As plantas de cobertura se constituem em estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além do mais são essenciais para incrementos de matéria orgânica, indispensável à sua fertilidade. Ademais, as plantas de cobertura auxiliam no manejo de nematoides, um grave entrave da agricultura moderna.

Um projeto com objetivos de avaliar, em campo, as respostas de diferentes plantas de cobertura na produtividade da soja e seus efeitos na população de nematoides foi desenvolvido na fazenda Coqueiros do Rio Doce, propriedade de Robert Steve Warkenti e Kevin Dale Warkenti, em Rio Verde Goiás. O experimento teve início em fevereiro/2017. A área 1 foi cultivada com Crotalaria spectabilis; Área 2 recebeu Milho solteiro; Área 3, milho consorciado com Crotalaria spectabilis; Área 4, milho consorciado com Urochloa ruziziensis. Em outubro de 2017, a soja cultivar Monsoy 7110 IPRO foi plantada nas áreas onde estavam as plantas de cobertura.

O experimento

A semeadura foi realizada mecanicamente, no espaçamento entre linhas de 0,5 m, profundidade de 3cm, ficando a distribuição com 20 plantas por metro. A adubação foi de 180 kg/ ha de Fosfato monoamônico (MAP) na linha de plantio e 120 kg/ ha de cloreto de potássio (KCl) em cobertura (15 dias após a emergência da soja). Para verificação da dinâmica dos nematoides, foram amostradas a campo nos tempos zero, 30, 60 e 90 dias após a emergência da soja. Foram coletadas amostras de solo, na profundidade de 0 -20 cm e levadas ao Laboratório de Fitopatologia do Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, para as análises e contagens dos nematoides. Na colheita foi determinada a altura das plantas, número de vagem por planta e produtividade de grãos.

A soja cultivada sobre a palhada de milho apresentou maior número de grãos e vagens por planta e maior número de hastes no ramo principal (Tabela 1). As maiores altura das plantas foram constatadas quando cultivada sobre palhada de milho safrinha cultivado com U. ruziziensis. Vale ressaltar que tais características não se correlacionam com a produtividade da soja. Maiores produtividades de grãos de soja foram obtidas quando a cultura foi cultivada sobre palhada de milho safrinha ou milho consorciado com C. spectabilis (Tabela 1).

A densidade populacional de nematoides do gênero Pratylenchus spp. é demonstrada na Tabela 2. Verifica-se a relação dos diferentes tratamentos em relação ao tempo de cultivo da soja (0, 30, 60 e 90 dias). A população de Pratylenchus spp. no tratamento U. ruziziensis, não mostrou diferença significativa em relação ao tempo (Tabela 2). Santos et al. (2011), trabalhando com U. ruziziensis e Stylosanthes com objetivo de controlar Pratylenchus brachyurus, verificaram que U. ruziziensis foi considerada hospedeira favorável à reprodução do nematoide, com reação de suscetibilidade.

O principal mecanismo envolvido na supressão dos nematoides pela C. spectabilis é a capacidade em atuar como planta armadilha, permitindo a penetração dos juvenis em suas raízes, mas, impedindo o seu desenvolvimento até a fase adulta (Silva et al., 1989). Além desse mecanismo, C. spectabilis produz algumas substâncias com potencial nematicida, como a monocrotalina (Wang et al., 2002). Porém, neste estudo mesmo a população estando relativamente baixa após o cultivo de crotalária e milho, os nematoides remanescentes no solo foram suficientes para aumentar a população durante o ciclo da soja.

Visão geral do desenvolvimento da soja
Visão geral do desenvolvimento da soja

Desenvolvimento de soja na fase reprodutiva
Desenvolvimento de soja na fase reprodutiva

Os tratamentos milho consorciado com C. spectabilis e milho consorciado com U. ruziziensis se comportaram de forma semelhante em relação à densidade populacional de Pratylenchus spp., em que aos 30 e 60 dias da cultura da soja ocorreu crescimento populacional e redução aos 90 dias.

A redução da densidade populacional de P. brachyurus pode ser atribuída ao aumento da velocidade de degradação das raízes, em que o nematoide encontra abrigo (Inomoto, 2011). Isso mostra que, mesmo na ausência de hospedeiro vivo, os nematoides das lesões radiculares foram capazes de sobreviver nas raízes do milho em decomposição por um período de, no mínimo, 30 semanas.

As diferentes plantas de cobertura estudadas nesse projeto não reduzem a população de Pratylenchus spp. Pelo contrário, o nematoide aumenta com a safrinha de milho em sucessão à soja. No entanto, há incremento de produtividade de soja quando cultivada sobre palhada do milho com ou sem C. spectabilis ou U. ruziziensis.

 

Irumuara Interaminense Uliana, Mestre em Bioenergia e Grãos, Progresso Planejamento Agrícola Ltda; Adriano Perin, Ednalva Patrícia de Andrade Silva e Anísio Correa da Rocha, Instituto Federal Goiano; Fernando Almeida Pereira, Mestre em Bioenergia e Grãos, Progresso Planejamento Agrícola Ltda

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