Como minimizar danos pelo atraso no plantio de algodão

Chuvas das últimas semanas dificultam a semeadura em Mato Grosso; há alternativas para lidar com os problemas

01.02.2025 | 05:55 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Fabiano Perina
Foto: Fabiano Perina

O atraso na semeadura do algodão em Mato Grosso pode trazer prejuízos significativos para a produtividade e qualidade de fibra e afetar o planejamento das safras subsequentes.

Segundo o pesquisador Sidnei Douglas Cavalieri, da Embrapa Algodão, a semeadura ideal ocorre em janeiro. Quando semeado a partir de fevereiro, o algodoeiro pode enfrentar estresse hídrico, aumento da presença de plantas daninhas e impactos negativos na rotação de culturas.

O atraso também pode gerar custos adicionais com herbicidas e afetar a destruição de soqueiras, interferindo na semeadura da soja da safra sucedânea.

Estresse hídrico

Mato Grosso concentra cerca de 70% da área cultivada com algodão, com aproximadamente 90% das lavouras cultivadas em segunda safra, após a colheita da soja. Cavalieri explica que, ao ser semeado em fevereiro, o algodoeiro tem menor disponibilidade de chuvas.

Em algumas regiões do estado, as precipitações cessam em abril, enquanto em outras, isso ocorre em maio. O menor período de chuvas pode comprometer o desenvolvimento da cultura e reduzir seu potencial produtivo.

Na safra 2024/25, o atraso no início das chuvas retardou a semeadura da soja, que, por consequência, é colhida mais tarde. Isso encurta a janela de semeadura do algodão. Se o produtor não reprogramar sua lavoura, mantendo cultivares de ciclo médio ou longo, pode haver um impacto direto na produtividade, pois as plantas terão menos tempo para se beneficiar das chuvas.

Estratégias para minimizar impactos

Para reduzir os efeitos do atraso, Cavalieri recomenda que os produtores utilizem cultivares de ciclo mais curto. Isso permite que o algodoeiro aproveite melhor as chuvas disponíveis.

Também cabe diminuir o espaçamento entre as fileiras de plantio, deixando o arranjo de plantas mais equidistante. Essa técnica pode ajudar a mitigar perdas causadas por matocompetição.

Sidnei Douglas Cavalieri
Sidnei Douglas Cavalieri

Desafios fitossanitários

O pesquisador alerta que a falta de chuvas pode dificultar o fechamento do dossel da cultura, favorecendo a infestação de plantas daninhas.

Algumas espécies, como capim-pé-de-galinha, caruru, e capim-amargoso, apresentam populações resistentes a herbicidas e podem comprometer o desenvolvimento da lavoura.

Para contornar o problema, pode haver necessidade de investir mais em herbicidas, o que aumenta os custos de produção.

Além disso, o atraso na semeadura pode aumentar a presença de patógenos e nematoides, tornando necessário um manejo mais rigoroso. Se o produtor precisar trocar a cultivar planejada por outra, a resistência da nova variedade a determinadas pragas pode ser diferente, exigindo ajuste no controle fitossanitário.

Foto: Valdinei Sofiatti
Foto: Valdinei Sofiatti

Impacto na rotação de culturas

O atraso na semeadura também interfere no planejamento da próxima safra. O algodoeiro é uma espécie perene, e seus restos culturais devem ser eliminados antes do início do cultivo da soja.

O controle da soqueira é feito de forma mecânica e química, com aplicação do herbicida 2,4-D. Esse produto tem residual no solo e, se a soja for semeada imediatamente após sua aplicação, pode haver impacto no estabelecimento da cultura.

Se a colheita do algodão for realizada mais tarde, o tempo para a destruição da soqueira diminui, reduzindo a janela de plantio da soja. Isso pode comprometer o ciclo da oleaginosa e afetar sua produtividade, prejudicando o sistema de produção soja-algodão, comum em Mato Grosso.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura