Como manejar plantas daninhas em café

Manejo não comporta mais ações reativas como a tomada de atitude de modo tardio, somente quando as áreas já estão com alta infestação

21.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

A infestação de plantas daninhas na cultura do café normalmente resulta em efeitos negativos, causando interferência na produção e colheita da cultura. Esta interferência negativa ocorre quando as plantas daninhas convivem com a cultura principalmente durante o período de florescimento e frutificação, o que para a região Centro-Sul do Brasil coincide com o período chuvoso do ano (outubro a março).

O microclima proporcionado pelas lavouras de café, bem como o manejo reativo, somente com a aplicação de pós-emergentes, selecionou a flora daninha predominante de plantas resistentes ou tolerantes ao herbicida glifosato. Destacam-se como plantas daninhas importantes na cultura dicotiledôneas como a corda-de-viola (Ipomoea spp.), a trapoeraba (Commelina benghalensis) e a buva (Conyza canadenses), além de monocotiledôneas como o capim-amargoso (Digitaria insularis) e o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica).

O glifosato é um herbicida pós-emergente não seletivo, sistêmico, utilizado no controle de plantas daninhas anuais e perenes na cultura do café (Coffea arábica L.), sua aplicação deve ser realizada em jato dirigido, de modo a não atingir a cultura do café, evitando períodos de estiagem e calor excessivo.

O glifosato apresenta algumas características que favorecem a sua utilização em grande escala, como baixa toxicidade ao homem e ao ambiente; baixo risco de lixiviação, pelo fato de ser fortemente adsorvido aos coloides do solo; custo relativamente barato quando comparado com outros herbicidas.

Devido aos muitos benefícios que a utilização do glifosato propicia, tanto economicamente como ecologicamente, o glifosato é o herbicida mais utilizado para o controle de plantas daninhas em café.

Manejo integrado com utilização de braquiária nas entrelinhas do café
Manejo integrado com utilização de braquiária nas entrelinhas do café

A utilização frequente do glifosato em áreas de café faz com que aumente significativamente o risco de seleção de plantas daninhas tolerantes e resistentes a este herbicida. No caso de plantas daninhas resistentes, é possível citar a buva, o capim-amargoso e o capim-pé-de-galinha, cada vez mais observados causando problemas em áreas de produção.

Plantas daninhas como Commelina benghalensisRichardia brasiliensis e Ipomoea sp. são espécies que notadamente apresentam uma certa dificuldade de serem controladas eficientemente pelo glifosato, se aplicado em estádio avançado de desenvolvimento dessas espécies. Para isso, é necessária muitas vezes a utilização de outros herbicidas que auxiliem no controle.

Desta forma, nos últimos anos tem sido observada a perda de eficiência de controle do herbicida glifosato, o que justifica uma mudança drástica no manejo como é visto atualmente, ou seja, é preciso deixar de ser reativo e não apenas tomar atitude referente ao controle de plantas daninhas quando as áreas já estão com alta infestação. Passar a ser pró-ativos, tomando medidas de controle antes do problema instalado.

Sendo assim, a utilização de herbicidas pré-emergentes na cultura do café se torna extremamente importante no manejo pró-ativo das plantas daninhas. Uma vez que esses produtos vão agir de forma residual, o que pode durar de 30 dias a 120 dias, dependendo do herbicida, justamente no momento do ano em que o produtor está mais atarefado, que é a época chuvosa.

Atualmente, os herbicidas pré-emergentes registrados para a cultura do café são ametrina, clorimurom, diurom, flumioxazina, indaziflam, metibuzim, metsulfurom, oxyfluorfem, pendimentalina, pyroxasulfone e sulfentrazone. Sendo suas recomendações um pouco mais técnicas que as feitas para herbicidas pós-emergentes, para o estabelecimento de um bom programa de manejo em pré-emergência na cultura é importante que as espécies infestantes sejam devidamente identificadas e sua infestação quantificada, e quantificar também a matéria orgânica e a argila presentes no solo, para que medidas racionais de manejo sejam adotadas.

Área com e sem o uso de herbicidas pré-emergentes 90 dias após a aplicação
Área com e sem o uso de herbicidas pré-emergentes 90 dias após a aplicação

Outro fator importante que vale ressaltar diz respeito ao custo. Muitos produtores têm resistência em aceitar a tecnologia pré-emergente justificando o mesmo como um método de controle caro. A curto prazo, o argumento se justifica, mas se for dividido o valor do herbicida recomendado em pré-emergência pelo período residual de controle que o mesmo trará, o custo baixa significativamente, ficando assim mais barato que o tratamento pós-emergente, que não tem residual algum e tem de ser reaplicado várias vezes. Em resumo, em se tratando de manejo de plantas daninhas é importante diferenciar custo de investimento.

Em relação à maior efetividade no controle de plantas daninhas é importante ressaltar que o manejo químico muitas vezes não é o suficiente para a resolução do problema. Apesar das perdas ocasionadas pela matocompetição, quando bem manejadas as plantas daninhas podem se tornar uma aliada no manejo. Atualmente, com o advento da agricultura economicamente sustentável tem-se preconizado a utilização do manejo integrado das plantas daninhas, o qual é definido como a integração de diferentes medidas para minimizar a competição das plantas daninhas com a cultura de interesse. O método cultural é uma das formas de controle inseridas no manejo integrado, e seu emprego tem sido muito comum, principalmente na região do Cerrado mineiro, com a utilização de braquiária nas entre linhas do café.

Sistemas de manejo mais complexos tornam o controle simplificado e o inverso também é verdadeiro. Sendo assim, a utilização de herbicidas pré-emergentes tornou-se fundamental para que o manejo químico proporcione boa eficácia de controle na cultura do café, além de reduzir as perdas de produção decorrentes da matocompetição no início do ciclo da cultura.

Além disso, a associação de mais de um método de controle aumenta significativamente a eficácia de manejo e traz benefícios a médio e longo prazo. O manejo integrado, em que se faz a associação de diferentes práticas, tem por objetivo alta eficácia de controle de espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas, uma vez que proporciona melhor controle, além de dificultar o estabelecimento e, consequentemente, a reprodução das plantas daninhas na cultura e a médio e longo prazo oferecer maior sustentabilidade à atividade agrícola.

 

Gonçalves Neto alerta para necessidade de alterações no manejo de daninhas em café
Gonçalves Neto alerta para necessidade de alterações no manejo de daninhas em café

Acácio Gonçalves Netto, Agrocon Assessoria Agronomica

Cultivar Grandes Culturas Novembro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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