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O crescimento da agricultura brasileira tem gerado um aumento no mercado de defensivos no País. Na safra 2018/19, conforme pesquisa realizada com produtores pela agência Kleffmann Group, apud SNA 2020, em volume, as vendas totais de defensivos aumentaram 7% em relação ao ciclo 2017/18, para 809.700 toneladas. Dentre os defensivos utilizados é possível destacar o uso de inseticidas, pois há aumento de incidência de pragas nas lavouras nas últimas décadas.
Inseticidas podem acarretar consequências ao homem e ao ambiente em geral, já que além de exterminar populações de insetos não alvos, causam o aparecimento de pragas resistentes. Portanto, esta prática deve ser reduzida, adotando-se alternativas mais seguras para o controle de pragas (Praça et al., 2004), dentre as quais destaca-se uma muito recorrente atualmente: o uso da biotecnologia com a transgenia.
Transgênico – organismo geneticamente modificado (OGM) – é um organismo que recebeu um gene de outro organismo. Vale ressaltar que essa técnica não foi inventada em laboratórios. Foi observando a natureza que se descobriu que alguns organismos têm a capacidade natural de transferir características genéticas, como é o caso, por exemplo, de uma bactéria do solo chamada Agrobacterium tumefasciens, que há milênios transfere genes naturalmente. Então, passou-se a utilizar essa bactéria para transformar as plantas, em laboratório, com o objetivo de promover uma agricultura mais saudável.
O avanço dessa tecnologia, denominada como biotecnologia, tem alterado o manejo de lagartas nas culturas da soja e do milho no Brasil. A tecnologia Bt na soja, também conhecida por tecnologia Intacta, caracteriza-se pelos genes utilizados, os quais têm origem na proteína da bactéria Bacillus thuringiensis.
No ano de 2013 foi lançada no mercado brasileiro a segunda geração de transgênicos, a soja Bt (Intacta RR2 PRO), com a expressão da proteína Cry1Ac. A tecnologia Intacta RR2 PRO controla quatro espécies de lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-da-maçã (Heliothis virescens) e broca-das-axilas (Epinotia aporema); e causa supressão às lagartas do gênero Helicoverpa (Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera) e à lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).
A pesquisa do BIP (Business Inteligence Panel) Soja Sementes detectou avanço da tecnologia Intacta na região Sul e no Cerrado brasileiro, consolidando quase 75% das áreas de soja, contra 65% do ciclo 2018/19, divulgado pela consultoria Spark Inteligência Estratégica. Segundo o coordenador de projetos da Spark, o economista Rodrigo Lorenzon, o BIP Sementes apurou ainda que 42% das propriedades visitadas pelos pesquisadores tinham 100% da área cultivada com as variedades Intacta.
No ano de 2017, em uma área da localidade de Chapadão do Céu, em Goiás, a Equipe Pragas e Plantas Daninhas da Fundação Chapadão, apud Gottems 2017, verificou H. armigera resistente à soja Intacta RR2 PRO. Uma ferramenta fundamental para evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO é a utilização de áreas de refúgio. Esta é uma medida preventiva que consiste na coexistência de lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros.
O aumento da área cultivada da soja com tecnologia Intacta provoca maior pressão de seleção de genótipos resistentes. A melhor prática de manejo é seguir o Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando o manejo conjunto com a biotecnologia.
A tecnologia Intacta não controla as lagartas do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. cosmioides, S. eridanea e S. albula). Além de polífaga, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) alimenta-se das plantas em diferentes estágios, fazendo com que a planta fique vulnerável por um longo período quando atacada em estágio inicial (SÁ et al., 2005).
O uso de inseticidas, com exceção dos inseticidas Bt, é necessário para evitar a formação de genótipos resistentes e também para controlar as lagartas do gênero Spodoptera e percevejos na cultura da soja, no entanto, a necessidade do uso de inseticidas deve ser determinada pelo monitoramento de pragas. Dentre as técnicas disponíveis, o uso do pano de batida na cultura da soja é uma excelente técnica de monitoramento de lagartas na lavoura.
Pesquisas realizadas comparando a eficácia do pano de batida, quanto à sua capacidade de extração de insetos em uma e duas fileiras de soja, mostraram maior eficiência de extração em apenas uma fileira de soja (Corrêa-Ferreira, 1993; Corrêa-Ferreira; Pavão, 2005; Ribeiro et al., 2006). Através da batida de pano em apenas uma fileira é possível determinar a quantidade de lagartas por pano de batida, e com o parâmetro nível de controle da praga, toma-se a decisão de aplicação de inseticidas.
O estudo anual BIP Milho, da Spark Inteligência Estratégica, apud Campos 2020, apontou que as cultivares de milho Bt+RR ocuparam aproximadamente 78% das áreas plantadas com o grão no País, o que representa um avanço de 4% na safra 2019-20 em relação à safra anterior.
A facilidade de utilização da tecnologia Bt, a não interferência nas demais práticas culturais e o fato de normalmente apresentarem compatibilidade com outros métodos de controle, como físico, biológico, químico, dentre outros, tornam esta técnica adequada para ser incorporada em programas de manejo integrado de pragas (Vendramim; Nishikawa, 2001).
A espécie Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta-do-cartucho, é considerada a praga-chave da cultura do milho no Brasil, por proporcionar perdas significativas na produção, especialmente pela voracidade das lagartas e pela sua ocorrência durante todo o ciclo da cultura, com capacidade de completar mais de oito gerações por ano em alguns sistemas de produção de cultivos do Brasil (Rosa et al., 2011; Barros et al., 2010).
Após o lançamento da tecnologia Bt no milho, em 2007, em poucos anos já foram reportadas a quebra da resistência e a consequente redução de eficácia das proteínas Cry1F e Cry1Ab à lagarta-do-cartucho e à S. frugiperda a essas tecnologias (Farias et al., 2014; Omoto et al., 2016).
Do mesmo modo como a cultura da soja, em milho é fundamental a utilização de áreas de refúgio para evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Bt, sendo também indicada a coexistência de lavouras com a tecnologia Bt ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros.
O uso de inseticidas não Bt também pode ser considerado uma ferramenta para evitar a formação de genótipos resistentes à tecnologia Bt. O uso do tratamento de sementes com inseticida tem se mostrado uma excelente alternativa para o controle de S. frugiperda, principalmente na fase inicial do desenvolvimento da cultura. O tratamento de sementes é mais seletivo que a pulverização, em função da formulação do produto e do modo de utilização (Embrapa, 2015). A seletividade de um inseticida ou do modo de aplicação tem relação direta com a preservação dos inimigos naturais das pragas. Isto comprova que o tratamento de semente é uma ótima alternativa para evitar genótipos resistentes no milho Bt. Outra alternativa reside na aplicação de inseticidas na parte aérea, quando aparecerem as primeiras raspagens nas folhas das plantas, ainda no período do desenvolvimento vegetativo da cultura.
Jonas Dahmer, Phytus Group/Elevagro, Coord. de Entomologia, Herbologia e Nutrição Vegetal • Sul
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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