Colheita de canola encerra com quebra na safra

04.11.2015 | 21:59 (UTC -3)
Joseani M. Antunes

A colheita da canola encerrou no final do mês de outubro no Brasil, registrando quebra no Rio Grande do Sul, maior estado produtor com 69% da área cultivada. Mesmo contabilizando os danos causados pelo clima instável, a estimativa da Conab é de produção de 61,4 mil toneladas no Brasil, um aumento de 69,1%, mesmo com a redução de 4,3% na área plantada. A média nacional de rendimento subiu de 812 kg/ha na safra 2014, para 1.544 kg/ha nesta safra.

Apesar da frustração com a safra de inverno para a maioria das culturas no Rio Grande do Sul, as primeiras colheitas de canola não apresentam produtividades muito distantes das estimativas iniciais, sem relatos de quedas significativas no rendimento final. De acordo com o analista de transferência de tecnologia da Embrapa Trigo, Paulo Ernani Ferreira, as geadas de setembro, que causaram prejuízos de até 30% no trigo na Região Noroeste, não tiveram o mesmo impacto na canola que já estava com as síliquas formadas. “O rendimento pouco abaixo dos 1.500 kg/ha não surpreendeu na colheita, já que foi dimensionado logo após a implantação da cultura, quando o excesso de calor na floração e a falta de luminosidade no desenvolvimento das plantas afetaram o potencial das lavouras naquela região”, avalia Ferreira. Na Região Noroeste do RS a média de rendimento ficou em 1.200 kg/ha, segundo avaliação da Celena Alimentos.

Na área de atuação da BSBios no RS, que abrange importantes regiões produtoras como Passo Fundo, Erechim e Esmeralda, a média de rendimentos ficou em 1.500 kg/ha, volume considerado bom frente às intempéries da safra, como o excesso de chuva, o vento e o granizo que causaram debulha nas síliquas. “Ainda não colhemos na região de Esmeralda, mas a geada de setembro com certeza deixou alguns danos nas lavouras”, conta o especialista da BSBios, Fabrício Bevilaqua Neri.

No Paraná, os números do Deral apontam para 1.550 kg/ha na média dos rendimentos, mas alguns produtores superaram os 2.500 kg/ha. Na região de Guarapuava e Candói a média ficou em 1.750 kg/ha, apesar do granizo que causou perdas acima de 300 kg/ha em Candói.

Nas demais regiões brasileiras, a canola avança ainda em fase experimental. Na área da COOPADAP (GO), os 300 hectares implantadas atingiram 1.800 kg/ha, com o acompanhamento técnico especializado na cultura. “Vemos o Centro-oeste do País como uma área potencial de expansão na cultura da canola, ainda com muitas deficiências na assistência técnica e na resposta a problemas com insetos, principalmente”, argumenta Paulo Ernani Ferreira.

Apesar da grande variação no rendimento de grãos nas mais diversas condições de cultivo de canola, tanto em função das oscilações climáticas quanto da, ainda, reduzida experiência com a cultura, a comercialização garantida (liquidez) e o preço (equivalente à soja) são os maiores incentivos para o produtor.

No Rio Grande do Sul, segundo a Emater/RS, o mercado neste final de safra oferece preços equivalentes ao da soja com bonificação de R$ 1,50/sc na Região do Planalto do RS, e superior em R$ 4/sc ao preço da soja na Região Noroeste do RS. No Paraná, segundo o agrônomo da Pordini Alimentos, Sidnei Camini, a canola foi comercializada a R$ 70,00 a saca, gerando lucro de R$ 1.000,00/ha.

De acordo com o pesquisador Gilberto Tomm, o menor gasto com insumos é um diferencial na canola em comparação com outros cultivos de inverno. “O dispêndio com a canola nesta safra foi de R$ 900,00 por hectare, devido ao menor custo das sementes híbridas com resistência às principais doenças da cultura, dispensando o uso de fungicidas que em outros cultivos de inverno tem ficado entre R$ 300 a R$ 800,00 por hectare”, esclarece Tomm. Ele lembra também que o risco financeiro pode ser eliminado pela contração de PROAGRO ou pela contratação de seguro privado. “Mesmo não obtendo lucros diretos, o produtor se beneficia da cobertura de solo e dos fertilizantes remanescentes para os cultivos de verão, os quais geralmente constituem mais de 40% do custo de produção, além dos potenciais benefícios de redução de doenças e pragas nos cultivos subsequentes”, conclui o pesquisador.

Levantamento realizado pela Embrapa Trigo junto a empresas de fomento mostra que a área semeada com canola no Brasil, em 2015, foi de 53.610 ha, expansão de 8% em relação à safra anterior. A produção de canola está distribuída nos estados do RS (69%), PR (22,9%), MG (3,7%), SC (2,8%), GO (0,6%), MT (0,5%), SP (0,3%) e MS (0,2%).

Esses números devem crescer ainda mais nos próximos anos. Em 2014, foi realizada a primeira produção comercial de sementes híbridas de canola no Brasil, em Uberlândia, MG. Segundo Gilberto Tomm, o objetivo é a produção de sementes em período seco, adverso a doenças fúngicas e bacterianas, visando disponibilizar sementes com qualidade sanitária crescente aos produtores brasileiros. “A importação e estocagem de sementes em câmara-fria e somada a produção de sementes no Brasil deverão aumentar a segurança no suprimento de sementes nas próximas safras”, afirma o pesquisador.

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