CNA orienta produtores sobre decisão em mecanização agrícola

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) lançou um estudo inédito para apoiar produtores de soja e milho na escolha da melhor estratégia de mecanização agrícola — seja pela compra, aluguel ou terceirização de máquinas e equipamentos. O levantamento, intitulado “Máquinas Agrícolas: alugar, comprar ou terceirizar? Tome a decisão certa”, compara os três modelos com base em dados do Projeto Campo Futuro.

De acordo com o produtor rural e presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, André Dobashi, o estudo foi elaborado para auxiliar os produtores na tomada de decisão e não oferecer uma recomendação única ou padronizada para todos os produtores rurais. “É uma recomendação para que cada produtor analise a sua situação, de acordo com sua realidade, módulo ou sistema de produção, baseando-se em dados econômicos”, explica.

O estudo abrange 12 regiões estratégicas do Sul, Centro-Oeste e Matopiba+PA, responsáveis por mais de 80% da área cultivada com soja no país. A análise considera fatores técnicos, econômicos e regionais, simulando cenários de fluxo de caixa, valor presente líquido (VPL), ponto de equilíbrio e sensibilidade.

Custo elevado e crédito restrito 

Entre 2019 e 2025, o preço das máquinas agrícolas subiu de forma expressiva. Os dados do Projeto Campo Futuro apontam valorização entre 131% e 225% nas plantadeiras, de 57% a 124% nas colheitadeiras e de 107% a 154% nos tratores.

Paralelamente, as taxas de juros das principais linhas de crédito agrícola também aumentaram significativamente. As taxas do Moderfrota para o Pronamp passaram de 6% para 12,5% ao ano, enquanto as do Moderfrota tradicional subiram de 7% para 13,5%.

Esse contexto de custos elevados e crédito mais restrito tem levado muitos produtores a buscar alternativas mais flexíveis, como o aluguel e a terceirização de serviços.

Terceirização se destaca na colheita

De acordo com o levantamento, a terceirização mostrou-se mais vantajosa para a colheita em todas as regiões estudadas. O elevado custo de aquisição e manutenção das colheitadeiras, somado à necessidade de operação concentrada em um curto período e à falta de mão de obra qualificada, tornam mais eficiente a contratação de serviços especializados.

A terceirização, contudo, também apresenta desafios, como a limitação na disponibilidade de prestadores durante os picos de safra, especialmente em regiões mais isoladas ou de menor escala.

No caso do plantio e da pulverização, a vantagem varia conforme as condições regionais. O plantio terceirizado foi mais viável em cinco das 12 regiões, principalmente onde não há segunda safra de milho. Já na pulverização, o estudo apontou melhores resultados com frota própria, pela necessidade de agilidade nas aplicações e resposta rápida a pragas e doenças.

Aluguel cresce, mas ainda é restrito

O modelo de aluguel ainda tem baixa adesão entre os produtores de grãos, concentrando-se em propriedades de maior porte e com perfil empresarial. O sistema permite acesso a máquinas modernas e redução do capital imobilizado, mas, na maioria dos casos, a compra da frota própria ainda se mostrou mais vantajosa nas simulações da CNA.

Práticas internacionais confirmam tendência

O estudo destaca que modelos mais flexíveis de mecanização já são realidade consolidada em outros países. Nos Estados Unidos, o aluguel e a terceirização de operações são comuns e contam com ampla oferta de prestadores e contratos de locação flexíveis. Já na Argentina, estima-se que cerca de 60% das operações mecanizadas sejam realizadas por prestadores de serviço, segundo a Federação dos Contratistas de Máquinas Agrícolas (Facma).

Essas experiências internacionais reforçam as conclusões da CNA, que apontam para o avanço de estratégias mais adaptáveis e financeiramente eficientes no Brasil, especialmente diante do encarecimento das máquinas e da limitação no crédito.

Ferramenta prática para apoiar decisões

Além do relatório técnico, a CNA vai disponibilizar uma calculadora online que permitirá ao produtor comparar, de forma personalizada, os custos e benefícios dos diferentes modelos de mecanização para operações de plantio, pulverização e colheita.

Com base em dados reais e parâmetros regionais, a ferramenta permitirá inserir informações como área cultivada, frota disponível e condições de financiamento, gerando uma análise visual e interativa dos resultados. Conforme a CNA, a calculadora será atualizada periodicamente com dados dos painéis do Projeto Campo Futuro e de mercado.