Cientistas revelam rotas do oídio no trigo europeu

Levantamento inédito de DNA mostra como o vento molda epidemias fúngicas e desafia programas de resistência no continente

09.05.2025 | 09:37 (UTC -3)
Revista Cultivar

Cientistas europeus mapearam o genoma de centenas de amostras do fungo Blumeria graminis f. sp. tritici (Bgt), revelando como ele se espalha, evolui e dribla os mecanismos de resistência adotados nos campos.

Foram analisados 415 isolados de Bgt coletados entre 2022 e 2023 em 22 países. Os resultados mostram um panorama dividido. O norte da Europa abriga uma única população fúngica ampla e homogênea. No sul, pequenas populações locais, geneticamente distintas, dominam. Essa diferença tem explicação: o vento.

Ao comparar dados genéticos com padrões climáticos e geográficos, os pesquisadores confirmaram que o vento é o principal vetor de dispersão do patógeno. As massas de ar facilitam a conexão genética no norte, onde os fungos percorrem grandes distâncias. Já no sul, cadeias montanhosas e o mar dificultam a migração dos esporos, criando populações isoladas.

O estudo também derruba hipóteses antigas. Ao contrário do que se pensava, o fungo não segue uma progressão norte-sul acompanhando a vegetação (a chamada “onda verde”). Em vez disso, dados sugerem um deslocamento predominante de oeste para leste ao longo de décadas — trajetória que coincide com os ventos dominantes da região.

Outro destaque está na reprodução. Ao contrário da ideia de que o Bgt se multiplica principalmente de forma clonal, os dados genômicos revelam reprodução sexual generalizada. Essa recombinação aumenta o potencial evolutivo do patógeno. E, com ele, a capacidade de escapar do controle genético e químico.

Os cientistas identificaram regiões genéticas sob forte seleção recente, incluindo genes que conferem resistência a fungicidas. Um caso emblemático é o do gene AvrPm17, que interage com a proteína de resistência Pm17, introduzida no trigo europeu no início dos anos 2000. Variantes do AvrPm17 capazes de evitar o reconhecimento pela planta já circulavam antes da adoção da Pm17. Um novo mutante, surgido mais recentemente, passou a escapar completamente da resistência, colocando em xeque a eficácia do gene.

Testes funcionais confirmaram que a mutação detectada no alelo H do AvrPm17 impede totalmente a ativação da defesa da planta. Essa nova variante já se espalha por partes do norte da Europa e Turquia.

Outro experimento revelou que até mesmo fontes de resistência ainda não adotadas comercialmente podem já estar comprometidas. Linhagens transgênicas contendo o gene Pm3e, nunca usadas em campo, foram infectadas por isolados europeus em laboratório. Três amostras, vindas da Suíça, Alemanha e Suécia, superaram completamente a resistência.

Esses achados mostram que a vigilância genômica pode antecipar falhas futuras. A presença prévia de variantes virulentas explica por que genes de resistência duram pouco tempo após sua introdução. Se a diversidade do patógeno for conhecida antes da adoção em larga escala, programas de melhoramento podem evitar investimentos em soluções fadadas ao fracasso.

A equipe sugere que novas estratégias considerem a estrutura populacional regional. No norte da Europa, onde a população é única e interligada, decisões sobre resistência devem ser coordenadas entre países. No sul, onde populações são isoladas, estratégias locais podem surtir mais efeito.

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1371/journal.pbio.3003097

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