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Duas novas variedades de mandioca desenvolvidas pela Embrapa combinam alta produtividade no campo com elevado teor de amido (carboidrato utilizado em indústrias alimentícias, de mineração, exploração de petróleo etc.), atendendo aos interesses de produtores e da indústria. Batizadas de BRS Ocauçu e BRS Boitatá, as cultivares se destacaram na região Centro-Sul, responsável por 80% da produção nacional de fécula — o amido extraído da raiz da mandioca. Avaliados desde 2011 em uma rede de experimentos, os materiais, que foram inicialmente registrados para cultivo em São Paulo e atualmente estão sendo recomendados para os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná, apresentam alta produtividade tanto no primeiro ciclo (colheita aos 12 meses) quanto no segundo (18 a 24 meses).
Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) Marco Antonio Rangel, que hoje atua no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), é fundamental trabalhar na interface entre esses dois setores. "O preço unitário da mandioca é referenciado pela quantidade de amido, ou seja, quanto mais amido tiver a raiz, maior o preço. Existem variedades que apresentam excelente teor de amido, porém a produtividade por unidade de área é baixa. O alto teor de amido é bom para a indústria, mas se não tiver alta produtividade, não é bom para o produtor”, diz.
As cultivares BRS Ocauçu e BRS Boitatá serão lançadas no dia 2 de julho, durante o Dia de Campo da Mandioca, promovido pela Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul), em Naviraí (MS).
Esse evento reúne, anualmente, produtores de mandioca do Brasil e de outros países para apresentar novas tecnologias em termos de técnicas de cultivo, variedades de plantas e equipamentos, visando aumentar a produtividade e a eficiência da produção.
É realizado sempre no início da safra, de forma que os participantes possam aplicar o aprendizado de forma imediata.
Avaliações realizadas desde 2011, em uma rede de experimentos, mostram que a BRS Boitatá e a BRS Ocauçu se destacam por apresentarem alta produtividade tanto no primeiro ciclo (colheita aos 12 meses) quanto no segundo (18 a 24 meses). Em Naviraí, por exemplo, no primeiro ciclo, a BRS Boitatá e a BRS Ocauçu produziram acima de 33 toneladas por hectare de raízes, superando em 150% a variedade padrão local (13,22 t/ha) e mostrando aptidão para colheita mais cedo. No segundo ciclo, observou-se a mesma tendência: as cultivares produziram mais de 41 t/ha, enquanto a variedade utilizada como testemunha, 25,27 t/ha.
Em relação à produtividade de amido, a BRS Boitatá e a BRS Ocauçu registraram no primeiro ciclo, respectivamente, 11,64 e 13,46 t/ha, contra 4,17 t/ha da variedade local . No segundo ciclo, o desempenho foi de 19,32 e 16,88 t/ha contra 7,97 t/ha da testemunha.
Rangel lembra que a Embrapa já lançou para o Centro-Sul, de 2016 pra cá, duas variedades para indústria, a BRS CS 01 e a BRS 420, que têm um perfil mais precoce, ou seja, materiais para colher no primeiro ciclo. "As novas variedades, além de serem competitivas no primeiro ciclo, expressam o máximo potencial produtivo no segundo. Ou seja, caso o produtor prefira, ele pode deixar para colher mais adiante. A estratégia é formar um portfólio de produtos, de maneira que o produtor fique muito bem atendido", destaca.
O pesquisador Rudiney Ringenberg, que atua no campo avançado do Centro-Sul e está à frente do trabalho de validação das cultivares na região, acrescenta que as variedades se desenvolvem melhor em determinadas regiões do que em outras, dependendo também do perfil dos produtores. "Entre cinco e dez anos, os materiais vão se colocar onde melhor se adaptarem. Por exemplo, a BRS CS 01, que é precoce, já está em 70% da área plantada na Copasul, porque os produtores do Mato Grosso do Sul preferem colher com um ano. As que estão sendo lançadas aumentam as opções à disposição do produtor. A ideia é que ele possa plantar, por exemplo, 40% da BRS CS 01, e 60% de uma das que estão sendo introduzidas. Ou seja: além de todas as características do genótipo, tem a questão da estratégia de mercado. Quando o preço não está bom, o produtor pode deixar para o segundo ciclo, pois as variedades vão expressar bom potencial", afirma.
Os materiais vêm sendo testados e aprovados pelas indústrias mais exigentes, tanto de fécula quanto de farinha, do Centro-Sul. "São produtores que nos dão um feedback de alta qualidade. Temos um nível de relacionamento muito bom com eles, que atuaram também na validação das outras variedades já lançadas. O comportamento dos materiais está muito estável em termos de produtividade e de produção de amido por hectare, por exemplo", pontua Rangel. Um aspecto interessante é que as variedades para indústria lançadas pela Embrapa já vêm servindo como testemunhas, por exemplo, nos testes realizados no Mato Grosso do Sul. "A BRS CS 01 e a BRS 420 são variedades fortíssimas, o que eleva muito o nível", salienta.
Um diferencial da BRS Boitatá são as raízes com a cor externa branca, característica desejada tanto pela indústria de amido quanto pelas farinheiras. Ringenberg informa que, quanto mais branca for a casca, maior a garantia de dar uma farinha de alta qualidade. "A BRS Boitatá está entrando bem para suprir esse nicho de mercado. Como tem a casca branca, se em algum momento a casca agarrar um pouco, a farinha não escurece. Ou seja, não vai dar pigmentação nessa farinha. Apesar de as raízes da BRS Ocauçu terem cor externa marrom clara, a variedade também tem tido grande aceitação por parte das farinheiras", conta.
A BRS Ocauçu se destaca por produzir bem em solos de fertilidade mais baixa, o que é outra grande vantagem, de acordo com o pesquisador Vanderlei Santos, responsável pelo programa de melhoramento genético de mandioca da Embrapa Mandioca e Fruticultura à época da seleção das variedades, visto que os solos da região onde se concentra a produção de mandioca nos estados onde os materiais estão sendo recomendados são de arenito, mais empobrecidos.
Aliado a essas características, Santos ressalta ainda o porte reto das hastes dos materiais, o que torna a arquitetura da BRS Ocauçu e da BRS Boitatá favorável ao plantio mecanizado — predominante na região — e a produção de muitas folhas. "Ambas as cultivares produzem muitas folhas, que cobrem rapidamente o solo, dificultando o desenvolvimento do mato, trazendo assim economia no que diz respeito às capinas", explica. O pesquisador acrescenta que, assim como as variedades já lançadas, a BRS Ocauçu e a BRS Boitatá são adaptadas ao plantio direto, sistema que confere estabilidade produtiva e conservação ambiental, em expansão na região.
Considerando a bacteriose, o superalongamento e a antracnose, as principais doenças da mandioca no Centro-Sul, os dois materiais mostraram-se moderadamente resistentes, o que confere bom nível de segurança para sua recomendação. O critério relacionado às doenças é o primeiro observado no processo de seleção, como ressalta Santos. "A bacteriose, por exemplo, não é um problema relevante no Nordeste, em função do clima, mas na região Centro-Sul sim, é uma doença muito importante, por isso a necessidade de se observar esse aspecto nos ensaios", afirma o cientista.
Os dois clones originaram-se de cruzamentos realizados na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). "Esses campos de cruzamentos foram instalados em 2009 baseados em dois critérios: uma parte foi destinada ao plantio dos melhores materiais do nosso programa de melhoramento, que, à época eram majoritariamente do Nordeste; e a outra aos melhores materiais cultivados no Centro-Sul. Em 2010, obtivemos as sementes do cruzamento desses materiais", informa Santos.
As plantas resultantes das sementes oriundas desses cruzamentos foram enviadas à Embrapa Agropecuária Oeste (MS). Em seguida, os materiais selecionados foram avaliados em vários ensaios em rede, nos quais se destacaram os clones 2010 55-04 (BRS Ocauçu) e 2010 56-18 (BRS Boitatá), ambos registrados em 2022 e recomendados para o estado de São Paulo. Em 2024, as duas variedades foram registradas para cultivo nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná.
O melhorista conta que, somando os materiais enviados pelo programa de melhoramento genético da Embrapa Cerrados (DF), foram estudados cerca de 4 mil genótipos. Todos seguiram primeiramente para Dourados. "Depois de três safras na Embrapa Agropecuária Oeste, foram selecionados cerca de 100 genótipos, avaliados à luz de critérios como resistência a doenças, principalmente bacteriose, superalongamento e antracnose, porte adequado, produção de raízes e teor de amido, e enviados para outros locais dos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo", complementa.
O engenheiro-agrônomo da Copasul Cleiton Zebalho conta que recebeu o primeiro lote das duas cultivares em 2022 para experimentação. Com cerca de três anos de multiplicação das variedades em área de cooperado, ele destaca como principal aspecto o fato de serem cultivares para dois ciclos. "Hoje temos dificuldade de material com potencial produtivo para dois ciclos. Torna-se uma alternativa para os nossos produtores terem uma diversificação de cultivares."
Outra característica ressaltada por Zebalho foi que, até o momento, não se identificou o desenvolvimento de doenças. "Só o ataque de pragas, que é normal, no caso o mandarová (lagarta), principal praga da cultura. Mas com relação a doenças, nada até o momento", pontua.
Ele ressalta também a adaptação ao plantio direto, uma necessidade da região, que sofre com a erosão. Nesse sistema conservacionista, mantêm-se a palha e restos vegetais de outras culturas na superfície, garantindo cobertura e proteção do solo, e o plantio é realizado no solo não revolvido. “É um sistema mais sustentável. Procuramos incentivar nossos produtores a utilizar esse sistema, adotando plantas de cobertura.”
Zebalho diz que os dois materiais têm potencial para altas produtividades. "Com a tecnificação do produtor, fazendo correção de solo, boa adubação de base, plantando conforme orientamos, com espaçamento adequado, fazendo todo o manejo de plantas daninhas, certamente essas duas cultivares terão grande potencial produtivo, pensando em dois ciclos", acrescenta.
Por fim, o representante da Copasul destaca a importância da qualidade genética dos materiais. "Na minha dissertação de mestrado, desvendei quais são os fatores biofísicos de manejo que afetam a lacuna de produtividade de mandioca no Mato Grosso do Sul. E um dos pontos muito importantes foi a genética. Produtores que estavam trabalhando com determinadas cultivares, entre elas a BRS CS 01, estavam alcançando melhores produtividades", complementa.
O analista Helton Fleck, do Setor de Gestão de Transferência de Tecnologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura, gestor dos ativos relacionados à cultura da mandioca, salienta que a Embrapa trabalha para que as variedades desenvolvidas cheguem ao produtor com a sanidade e identidade genética preservada, além de alta qualidade e vigor. Para isso, licenciam-se parceiros multiplicadores. “Adquirindo mudas e manivas de licenciados da Embrapa, o produtor pode iniciar sua multiplicação com confiança em bons resultados. Seguindo os devidos cuidados nas lavouras, o material se manterá por algumas gerações com a qualidade desejada”, reitera.
No caso das BRS Boitatá e BRS Ocauçu, a Copasul é, por enquanto, a fornecedora de material de plantio. Ao longo do segundo semestre, novos parceiros serão incorporados ao rol de fornecedores.
O lançamento das variedades de mandioca BRS Ocauçu e BRS Boitatá está alinhado ao compromisso da Embrapa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015 com a missão de construir e implementar políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030 (Agenda 2030).
Atende ao Objetivo Número 2 - “Fome zero e agricultura sustentável”, que consiste em erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável. Em 2017, foi criada a Rede ODS Embrapa, que visa gerenciar a inteligência distribuída nas unidades de pesquisa e responder a demandas sobre a Agenda 2030.
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