Cajueiro-anão garante renda e resiste à seca no Semiárido

Tecnologia da Embrapa alia produtividade, sustentabilidade e adaptação às mudanças climáticas no Nordeste

16.09.2025 | 15:06 (UTC -3)
Verônica Freire, edição Revista Cultivar

O cajueiro-anão, desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical (CE), consolidou-se como alternativa viável para agricultores familiares do Semiárido nordestino. Resistente à escassez hídrica, a pragas e doenças como a mosca-branca, a cultura pode alcançar mais de 1.000 quilos de castanha por hectare, representando segurança de renda mesmo em períodos críticos de estiagem.

Entre 2012 e 2017, quando a seca comprometeu diversas culturas no Nordeste, a espécie demonstrou sua resiliência. Ao contrário de plantas que perdem as folhas para economizar água, o cajueiro mantém a folhagem verde, reduzindo a transpiração sem interromper a fotossíntese.

“Espécies como o juazeiro sobrevivem com raízes profundas. O cajueiro, mesmo com raízes menos extensas, consegue manter a produção durante a seca”, explica Marlos Bezerra, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical.

Além de sua relevância econômica, o cajueiro-anão contribui para a biodiversidade: seus pomares atraem abelhas, ajudam a reter umidade no solo e favorecem a presença de pequenos animais.

Melhoramento genético impulsiona produtividade

O Nordeste concentra praticamente toda a produção nacional de castanha de caju, com destaque para Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. Além da castanha, o pedúnculo é fonte de renda para sucos e outros derivados.

Para fortalecer a cadeia produtiva, o Programa de Melhoramento Genético da Embrapa já lançou 13 clones comerciais, sendo 11 de cajueiro-anão. O mais difundido é o CCP 76, que pode alcançar 9.600 quilos de pedúnculo e 1.200 quilos de castanha por hectare. Outros destaques são o BRS 226, com média de 1.200 quilos de castanhas, e o Embrapa 51, capaz de chegar a 1.650 quilos por hectare em condições ideais.

“No cenário de mudanças climáticas, onde a redução de chuvas tende a se intensificar, o cajueiro se mostra uma cultura resiliente e estratégica para os produtores”, avalia Gustavo Saavedra, chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical.

Resultados no campo

No Rio Grande do Norte, a produtora Najara Melo e seus irmãos replantaram 1.400 hectares após perderem os cajueiros gigantes para a seca e à mosca-branca. Em 2016, optaram por clones de cajueiro-anão e, com práticas de manejo como podas, nutrição equilibrada e mecanização, alcançaram produtividade de cerca de 2 mil quilos de castanha por hectare.

Situação semelhante ocorreu na região de Picos (PI), onde 165 famílias passaram a cultivar clones de cajueiro-anão. A estratégia elevou a produção sem necessidade de abertura de novas áreas, favorecendo a sustentabilidade.

Integração com outras culturas

Pesquisas da Embrapa mostram que a integração com capim para forragem em pomares de cajueiro pode gerar ganhos adicionais. Enquanto o cajueiro produz na estiagem, o capim garante alimentação para os animais durante o inverno. Além do benefício econômico, a prática melhora a qualidade do solo e protege o sistema radicular da planta.

“Estamos direcionando nossas pesquisas para fortalecer os sistemas integrados de produção com o cajueiro. Isso torna a cultura mais tecnológica, menos dependente de mão de obra e mais sustentável”, afirma Saavedra.

Conservação genética e futuro da cajucultura

Em Pacajus (CE), o Banco Ativo de Germoplasma de Cajueiro (BAG Caju) mantém há mais de 50 anos a maior coleção genética da espécie no mundo, com mais de 700 acessos. Para preservar esse patrimônio, as plantas são clonadas e cultivadas no campo e em vasos.

“Mais do que um acervo científico, o BAG é essencial para a convivência com o Semiárido, a preservação da Caatinga e a sustentabilidade da cajucultura”, destaca Ana Cecília de Castro, curadora do banco.

Instituições como Sebrae e Senar também apoiam a cultura, oferecendo capacitações em gestão e boas práticas de produção para fortalecer a rentabilidade dos produtores.

Caatinga no centro das discussões climáticas

A importância de espécies resilientes e a conservação da Caatinga está em debate hoje (16/9), em Fortaleza (CE), durante a sexta edição do Diálogos pelo Clima. O evento integra a Jornada Pelo Clima, promovida pela Embrapa em preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

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