Brassica rapa impõe novo desafio ao campo argentino

Detectado no sudeste de Buenos Aires o primeiro caso mundial de resistência do nabo silvestre à flurocloridona

19.05.2025 | 08:22 (UTC -3)
Revista Cultivar
<i>Brassica rapa</i> - Foto: Aapresid
Brassica rapa - Foto: Aapresid

Uma planta comum nas lavouras argentinas cruzou uma fronteira inédita. Pela primeira vez no mundo, um biotipo de Brassica rapa — o conhecido nabo silvestre — mostrou resistência efetiva à flurocloridona, herbicida residual amplamente usado em pré-emergência.

A confirmação vem da Faculdade de Agronomia da Universidade Nacional do Centro da Província de Buenos Aires. O caso ocorreu em Tandil, região já marcada por resistência múltipla da planta a outros três mecanismos de ação.

O cenário preocupa produtores e técnicos. Trata-se do quarto mecanismo vencido pela espécie. Os outros já comprometidos: glifosato, inibidores da acetolactato sintase (ALS) e herbicidas hormonais como o 2,4-D.

Os pesquisadores Víctor Juan, Lucía Ledesma e Federico Núñez Fré assinam o primeiro relatório oficial sobre o caso.

Os ensaios ocorreram em estufa, com sementes de dois biotipos. O de Tandil, exposto por oito anos seguidos à flurocloridona, resistiu à dose comercial padrão (1X, ou 250 g i.a./ha) com 45% de sobrevivência. Já o biotipo de Olavarría, que teve contato limitado com o produto, morreu quase por completo com metade dessa dose.

Até então, não havia no mundo qualquer relato de resistência de Brassica rapa à flurocloridona, segundo a base de dados do HRAC e da WeedScience. Outros casos de resistência a inibidores de fitoeno desaturase (PDS) existiam, mas com outros ativos e em outras espécies da família Brassicaceae, como Raphanus raphanistrum e Sisymbrium orientale, sobretudo na Austrália.

Brassica rapa&nbsp;- Foto: Aapresid
Brassica rapa - Foto: Aapresid

A flurocloridona atua como inibidora da biossíntese de carotenoides. A planta perde cor, seca e morre. Até aqui, a molécula servia como rota de escape para combater populações resistentes a outros herbicidas.

Desde 2018, virou padrão de manejo em pré-emergência de trigo, cevada e girassol na Argentina. Inclusive no milho, em alguns casos. O uso contínuo, porém, criou pressão de seleção. O caminho da resistência ficou aberto.

Na prática, os agricultores começaram a observar falhas de controle já na safra 2021/22. Reagiram elevando a dose, até dobrar a quantidade recomendada. Isso não impediu que parte das plantas sobrevivesse, florescesse e deixasse descendentes. O ciclo se completou. A resistência se consolidou.

A Red de Manejo de Plagas (REM), da Aapresid, já havia mapeado um avanço preocupante dos nabos resistentes entre 2019 e 2023. Hoje, todos os partidos do centro e sudeste da província de Buenos Aires enfrentam o problema. O caso agora confirmado insere mais uma molécula no quadro nacional de resistências, que chega a 49 biotipos.

O resultado dos ensaios é claro. A população de Tandil representa um novo patamar. Resiste não só à flurocloridona, mas acumula quatro mecanismos superados. E mais: a DL50 do biotipo resistente ficou em 171,2 g i.a./ha, contra apenas 28,5 g i.a./ha no sensível.

Os pesquisadores defendem medidas imediatas. Rotação de herbicidas e cultivos. Monitoramento constante das lavouras. Combinação de estratégias químicas com práticas agronômicas. E atenção aos primeiros sinais de escape.

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