Benefícios do uso de substratos no tomateiro

Uso de diferentes substratos com proporções específicas se mostra alternativa viável para a produção de mudas de tomate

10.11.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

Um fator determinante na olericultura em todo o processo produtivo é a produção de mudas. Uma muda de boa qualidade, quando levada ao campo, terá melhores condições de sobreviver e se desenvolver. Assim, são recomendados certos cuidados com o manejo do viveiro, como adubação, irrigação e utilização de substratos adequados que garantam a nutrição das mudas durante o período de viveiro (Resende e Vidal, 2007).

A qualidade na produção de mudas é determinada por diversos fatores e a composição dos substratos está entre os mais importantes, pois a germinação, a iniciação radicular e o enraizamento estão diretamente ligados às características químicas, físicas e biológicas do substrato (Caldeira et al., 2000).

Substratos para a produção de mudas olerícolas vêm sendo estudados intensivamente, de forma a proporcionar melhores condições de desenvolvimento e formação de mudas de qualidade (Silva Júnior, 1991). As características consideradas ideais para a composição de um bom substrato estão relacionadas à capacidade de proporcionar retenção de água e nutrientes suficientes para a germinação, permitindo a emergência das plântulas com elevado desenvolvimento inicial e livres de organismos saprófitos (Diniz et al., 2006).

Atualmente, muitos substratos, em diferentes proporções, são utilizados para a produção de mudas, contudo ainda existem dúvidas e lacunas relacionadas à forma mais eficiente tanto na utilização isolada de cada um deles quanto no uso combinado. Diante deste contexto, é necessário o estudo que avalie o efeito de diferentes substratos em proporções distintas no desenvolvimento inicial do tomateiro.

Um experimento foi realizado para avaliar a influência de diferentes substratos no desenvolvimento inicial do tomateiro com o intuito de recomendar a maneira mais eficiente de utilização de substratos na produção de mudas e definir qual substrato ou combinação deles seria mais recomendado para a produção de mudas de tomateiro. O trabalho foi realizado em condições de ambiente protegido em estufa coberta por plástico e telada nas laterais no setor de Horticultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO), localizado no município de Araguatins, Tocantins, apresentando as coordenadas geográficas de aproximadamente 05º 39’ 04,64” S e 48º 04’ 29,24” W e 103m de altitude a 612km da capital Palmas (Figura 1). O clima característico da região, segundo a classificação de Köppen-Geiger, é do tipo Aw, ou seja, clima tropical com estação seca de inverno. A localização apresenta precipitação média anual de 1.500mm, temperatura média de 28,5ºC e altitude de 103m (Inmet, 2016).

Figura 1 -  Mapa de localização do município de Araguatins-TO
Figura 1 - Mapa de localização do município de Araguatins-TO

O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados (DBC), constituído de seis tratamentos e quatro repetições, totalizando 24 parcelas experimentais. Cada unidade experimental foi representada por uma bandeja de isopor com 56 células, e volume da célula de 12,5ml e 5cm de altura. Os tratamentos foram devidamente identificados e distribuídos aleatoriamente na área experimental, seguindo o princípio da casualização (Figura 2).    

Figura 2 - Disposição dos tratamentos com diferentes substratos
Figura 2 - Disposição dos tratamentos com diferentes substratos

Os tratamentos testados foram determinados a partir da seleção dos principais substratos utilizados na produção de mudas para a espécie, combinando diferentes proporções volumétricas (Tabela 1).

A semeadura foi realizada de forma manual, sendo depositadas três sementes por célula na profundidade 0,5cm e cobertas com substrato. Após dez dias da germinação, as mudas já estavam prontas para a realização do desbaste (Figura 3). Na coleta dos dados, foi considerada como parcela útil apenas as células centrais das bandejas, desprezando as plantas das extremidades (bordadura), sendo consideradas somente em relação à velocidade de germinação. Utilizou-se a cultivar de tomate grupo Santa Cruz Kada Gigante, caracterizado pelo hábito de crescimento indeterminado, ampla adaptação climática, rusticidade e sabor acentuado, tolerante a podridão apical e rachadura, que produz frutos de peso variado entre 120g a 140g com a finalidade industrial e mercado fresco (Clemente, 2016).

Figura 3 -  Mudas prontas para serem desbastadas
Figura 3 - Mudas prontas para serem desbastadas

Foi utilizado um sistema de irrigação de microaspersão na área experimental, com periodicidade de três vezes ao dia durante cinco minutos.

O controle de plantas daninhas para a redução de perdas por competitividade, principalmente aos primeiros dias após a germinação, foi realizado de forma manual.

As análises foram realizadas aos 30 dias após a semeadura, em nove plantas na área útil de cada parcela experimental, totalizando 216 plantas analisadas. A análise desses componentes foi realizada baseando-se na metodologia descrita por Oliveira et al. (2012), Tabela 2.

Os resultados obtidos em função dos diferentes substratos em suas respectivas proporções testadas foram significativos ao teste F, apresentando diferença significativa em todas as variáveis avaliadas, exceto o número de folhas e a taxa de germinação. A altura das plântulas aos 30 dias após a semeadura (DAS) (Figura 4) diferiu-se em função dos tratamentos utilizados na sua produção, respondendo assim de forma significativa aos tipos de substratos e às proporções avaliadas.

Figura 4 - Médias da altura da planta de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)
Figura 4 - Médias da altura da planta de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)

O tratamento que combinou o uso do substrato comercial, a cama de frango e o composto com “Pau-Babaçu” triturado e peneirado, nas proporções de 30%, 40% e 30%, respectivamente (T4), apresentou resultados superiores quando comparados aos demais tratamentos utilizados, com 19,44cm de altura.

Silva Júnior et al. (2014), avaliando diferentes substratos na produção de mudas de tomateiro cultivar Caline IPA 6, verificaram diferença significativa na altura das mudas em função dos substratos utilizados. Em outros trabalhos, como os desenvolvidos por Liz et al. (2003) e Medeiros et al. (2013), a eficiência da utilização de materiais orgânicos no aumento da estatura de plantas de tomateiro também foi comprovada.

É possível inferir que as plantas produzidas na combinação de substratos do tratamento 4 (30% de substrato comercial (SC) + 40% de cama de frango (CF) + 30% de “Pau-Babaçu” triturado e peneirado (PB), possivelmente terão maior índice de sobrevivência após a realização do transplantio por apresentarem média de diâmetro superior (2,7302mm) às plantas dos demais tratamentos (Figura 5).

Figura 5 - Médias do diâmetro do caule (DC) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)
Figura 5 - Médias do diâmetro do caule (DC) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)

Trabalhos realizados por Silva et al. (2012) e Freitas et al. (2013), em que foi avaliado o desenvolvimento de mudas de tomate cultivar Santa clara e alface cultivar Elba, respectivamente, sob diferentes proporções de substratos formulados com compostos orgânicos naturais, afirmam em comparação ao uso de substratos comercias, que é possível obter maiores valores de diâmetro do caule com o uso de materiais orgânicos.

O diâmetro do caule é considerado um bom indicador da qualidade da muda para a sobrevivência e crescimento após o transplantio para o local definitivo, pois além de atuar como suporte das folhas, partes florais e frutos, serve como órgão de reserva de fotoassimilados para a planta em condições de alta demanda por nutrientes (Silva et al., 2012).

Na fase inicial do desenvolvimento das plântulas, não foi observada diferença significativa em relação ao número de folhas do tomate. Resultados opostos foram apresentados por Medeiros et al. (2013), que comparou um substrato orgânico e um comercial na produção de mudas de tomate cereja cultivar Samambaia, onde foi verificado que o uso de compostos orgânicos na formulação dos substratos promoveu maior emissão de folhas das plântulas em relação ao substrato comercial.

Na avaliação da massa fresca e seca da parte aérea (Figura 6) foi possível notar que a combinação de substratos e proporções contidas na formulação do tratamento 4 (30% de substrato comercial (SC) + 40% de cama de frango (CF) + 30% de “Pau-Babaçu” triturado e peneirado (PB)), apresentou diferença estatística significativa em relação aos demais tratamentos.

Figura 6 - Médias da massa fresca e seca da parte aérea (MFPA e MSPA) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)
Figura 6 - Médias da massa fresca e seca da parte aérea (MFPA e MSPA) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)

A combinação de substratos comerciais a compostos orgânicos pode ser uma alternativa viável para otimizar a produção de mudas em condições de viveiro, pois além de proporcionar maior fertilidade é economicamente mais viável. Essa viabilidade econômica irá depender de alguns fatores, tais como disponibilidade de substrato na região ou propriedade, valor, frete, mão de obra, entre outros.

Observou-se que não houve efeito significativo em função dos substratos e proporções utilizadas em relação à germinação. Este efeito, possivelmente pode ser justificado pelo potencial germinativo ser uma característica específica da semente, que foi comum para todas as unidades experimentais. Santos et al. (2013), encontrou resultados semelhantes em estudo, testando a influência de substratos e bandejas na produção de mudas de tomate rasteiro.

A utilização de combinações de diferentes substratos com proporções específicas é uma alternativa viável para a produção de mudas.

O tratamento 4 (30% de substrato comercial (SC) + 40% de cama de frango (CF) + 30% de “Pau-Babaçu” triturado e peneirado (PB)) proporciona melhor desenvolvimento inicial das plântulas do tomateiro nas condições avaliadas. Isso mostra a importância do uso de materiais orgânicos muitas vezes encontrados nas pequenas propriedades rurais que podem ser aproveitados como fonte de produção sustentável.

Figura 7 - Médias da massa fresca e seca do sistema radicular (MFSR e MSSR) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)
Figura 7 - Médias da massa fresca e seca do sistema radicular (MFSR e MSSR) de mudas de tomateiro, submetidas a diferentes tipos e proporções de substratos, com dados de 30 dias após a semeadura (DAS)

A olericultura

A olericultura é uma das atividades agrícolas que mais se adapta às necessidades e limitações de produção em pequenas propriedades, por apresentar boa rentabilidade e concentrar uma elevada demanda de mão de obra, que em sua maioria é ocupada pela própria família. No entanto, com a globalização da economia e o aumento populacional, a produção de hortaliças tem exigido uma maior tecnificação, tornando-se uma atividade de cunho mais empresarial e segmentada, capaz de proporcionar a oferta dos alimentos vitais em demanda satisfatória às exigências do mercado, considerando a quantidade, a qualidade e a segurança do produto para o consumidor (Diniz et al., 2006).

Samuel de Deus da Silva, Ruy Borges da Silva, Soraya Freitas Silva e Leandro Oliveira Campos, IFTO Campus Araguatins

Cultivar Hortaliças e Frutas Outubro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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