Avanços em tecnologia de aplicação permitiram economia de água na citricultura

Estudos do Fundecitrus e IAC mostraram que é possível reduzir o volume de água em até 70% para o controle de psilídeo e cancro cítrico

05.04.2021 | 20:59 (UTC -3)
Fundecitrus

Um trabalho do Fundecitrus em parceria com o Instituto Agronômico (IAC) calculou que, após estudos e investimentos em tecnologia de aplicação, a economia de água do cinturão citrícola de SP e MG nos últimos 20 anos seria suficiente para abastecer, por 365 dias, uma cidade com mais de 500 mil habitantes ou 200 milhões de pessoas por um dia.

Tecnologia de aplicação é o emprego dos conhecimentos técnicos e científicos para direcionar o produto ao alvo (praga ou doença) em quantidade adequada, de forma eficiente e com o menor impacto possível ao meio ambiente e também ao aplicador.

Leprose: redução do volume de calda em até cinco vezes

A parceria entre Fundecitrus e IAC no estudo dos volumes de calda utilizados para os tratamentos fitossanitários na citricultura começou em 2000, com o ácaro da leprose.

Na época, o padrão de qualidade era o escorrimento de calda. A tecnologia empregada demandava consumo médio de 10 mil litros até 12 mil litros de água por hectare para uma população em torno de 200 plantas por hectare, realidade que a parceria se propôs a mudar.

Cerca de 20 campos experimentais, concentrados no uso de turbopulverizadores, foram montados e avaliados junto a citricultores e empresas para aperfeiçoar aspectos como cortina de ar, número de bicos, tamanho de gotas e velocidade de deslocamento dos equipamentos.

Várias formas de mensuração foram analisadas e estabeleceu-se considerar a planta como um cubo, o que facilitaria o cálculo e, consequentemente, a adoção da tecnologia pelos produtores (“mililitro de água por metro cúbico de copa” em substituição a “litros de água por planta ou hectare”), hoje padrão na citricultura. Ao longo dos anos, os volumes de calda para controle do ácaro da leprose foram reduzidos para 2 a 4 mil L/ha. Estabeleceu-se então os volumes de 100 mL/m³ para o controle de alvos internos, como o ácaro da leprose, e 40 mL/m³ para alvos externos, como o psilídeo, e estes volumes foram finalmente testados e confirmados.

De acordo com o pesquisador Hamilton Ramos, coordenador da Unidade de Referência em Tecnologia e Segurança na Aplicação de Defensivos Agrícolas do IAC, a tecnologia estabelecida foi fundamental para que a citricultura continuasse viável no Brasil. “A manutenção da média de consumo demandada nos pomares em 2000 tornaria a citricultura economicamente inviável, pois seria impossível pensar hoje em 600 a 800 plantas/ha e cerca de 20 pulverizações anuais considerando a técnica do escorrimento como padrão de qualidade”, diz. “Além disso, há o aspecto ambiental envolvido: a redução média de apenas 5.000 L de água/ha proporcionado pela tecnologia desenvolvida pela parceria entre Fundecitrus e IAC corresponde a uma economia suficiente para abastecer 200 milhões de pessoas por um dia, 6,7 milhões por um mês ou ainda mais de 500 mil pessoas por um ano”, destaca.

Outras pragas e doenças

Nos últimos anos, estudos do Fundecitrus, com o apoio do IAC, em tecnologia de aplicação mostraram que é possível reduzir o volume de água em até 70% para o controle de psilídeo e cancro cítrico, 60% para podridão floral, de 40 a 50% para pinta preta e 30% para leprose, em relação ao padrão normalmente utilizado pelos produtores.

O engenheiro agrônomo do Fundecitrus Marcelo Scapin, especialista em tecnologia de aplicação, ressalta que essa adequação colabora para o aumento da sustentabilidade na citricultura. “O uso racional e a redução da quantidade de água e produto estão alinhados a uma produção de alimentos cada vez mais sustentável, que se preocupa e preserva o meio ambiente e também a riqueza econômica e social gerada pela atividade”, diz.

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