Avançam perdas na safra de grãos com a estiagem no RS

26.01.2012 | 21:59 (UTC -3)
Patrícia Strelow

As chuvas registradas na última quinzena no Rio Grande do Sul amenizaram a estiagem, mas não foram suficientes para conter o avanço dos prejuízos nas lavouras dos principais grãos de verão. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (26/01) pela Emater/RS-Ascar e Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), os produtores de feijão, milho, arroz e soja contabilizam perdas de R$ 2.892.889.801,03. As lavouras de milho já registram redução de 41,89% na produção em relação à estimativa inicial da Emater/RS-Ascar, calculada com base na média histórica dos últimos dez anos. Na soja a quebra é de 22,33%, no arroz de 6,62%, e no feijão 1ª safra de 6,47%.

As estimativas se baseiam em dados coletados entre os dias 16 e 25 de janeiro, em um universo que abrange 97% da área cultivada com milho e soja no Estado, 87% da área de arroz e 75% de feijão. O secretário de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan, destacou que a abrangência da pesquisa - 411 municípios -, somada à experiência da Emater/RS-Ascar no levantamento de informações, procedimento realizado quinzenalmente desde a década de 70 – e on-line desde 2005 - reforça a precisão dos números divulgados. “Estes são os dados oficiais do governo”, disse.

O milho ainda é a cultura mais afetada pela estiagem, já que a escassez de chuvas atingiu sua fase de maior necessidade hídrica, de floração e enchimento de grão. Com isso a produção não vai ultrapassar 3,08 milhões de toneladas, o que representa queda de 46,63% em relação à safra passada (5,78 milhões t). A situação é mais grave na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo. Com participação de 25,97%, é a maior produtora do grão no Estado, e já contabiliza uma redução de 59% na produção em relação à estimativa inicial.

”Não há possibilidade de recuperação no milho. A situação pode se agravar se continuar a estiagem, mas as perdas divulgadas já estão consolidadas”, lamenta o presidente da Emater/RS, Lino De David. Hoje, 20% das lavouras de milho estão em desenvolvimento vegetativo, 16% em floração, 29% em enchimento de grãos, 18% maduras e 17% já colhidas.

A expectativa dos produtores e técnicos agora é que volte a chover de forma contínua e bem distribuída no Rio Grande do Sul, de forma a estancar, principalmente, os prejuízos nas lavouras de soja. As precipitações das próximas semanas determinarão a produtividade final da cultura, já que 13% da área cultivada está em fase de enchimento de grãos e 47% em floração. “As maiores perdas estão nas variedades precoces, que já estão aflorando”, avalia o presidente da Emater/RS.

Caso a situação hídrica se normalize, os prejuízos poderão ser estancados, mas não serão revertidas as perdas já consolidadas, de 22,33% na produção em relação à estimativa inicial da Emater/RS-Ascar. A produtividade média, até o momento, é de 1.948 kg/ha, e a produção não vai ultrapassar oito milhões de toneladas. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, responsável por 23,3% da produção total do Estado, a quebra de safra chega a 26,4% e, em Santa Maria, onde são produzidos 18,96% do total, já está consolidada redução de 32,70% da safra.

A cultura menos impactada pelo clima é a do arroz, que, devido à irrigação, mantém a produtividade média em 6.861 kg/ha, rendimento que projeta uma produção total de 7,53 milhões de toneladas para esta safra, marcando uma diferença de –6,62% em relação à estimativa inicial. O secretário adjunto de Agricultura, Pesca e Cooperativismo, Cláudio Fioreze, destaca que a redução na produção em 2012 ocorre basicamente nas regiões administrativas da Emater/RS-Ascar de Bagé e Santa Maria. “Em Bagé houve uma redução na área plantada, e, em Santa Maria, a estiagem provocou queda na reserva de água em algumas bacias”, pondera.

O levantamento abrangeu ainda a cultura do feijão da primeira safra, que registra queda de - 6,47% em relação à estimativa inicial, e de -17,91% em relação à safra 2011, quando foram colhidas 93.019 mil toneladas – este ano não deverá passar de 76.357 toneladas. De acordo com os técnicos, essa diferença poderia ser maior se não fosse os bons rendimentos esperados na região administrativa de Caxias do Sul - Serra e Campos de Cima da Serra - onde as expectativas atuais se encontram bem acima do esperado inicialmente. Atualmente, 62% da área já foi colhida, tendo ainda 28% já maduras e por colher.

O secretário de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan, destacou o conjunto de ações desencadeadas pelo Governo do Estado para reduzir os prejuízos dos produtores atingidos pela escassez de chuva. Entre elas está o repasse de R$ 51 mil a todos os municípios que decretaram situação de emergência, para ações emergenciais de abastecimento de água para as comunidades, através de caminhões pipa, revitalização de poços e cestas básicas para as famílias em situação de insegurança alimentar.

A SDR criou ainda o Programa de Sementes Forrageiras, dentro do sistema troca-troca do Fundo Estadual de Apoio aos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), que já está operando com o limite de R$ 200 por agricultor e com juros zero, além de disponibilizar, através também do Feaper, 75 mil sacas de milho para a safrinha, que foram ofertadas para os municípios, sindicatos rurais e cooperativas no sistema troca-troca de sementes. O Governo do Estado, por meio da SDR, também anistiou as dívidas dos agricultores que adquiriram sementes pelo sistema troca-troca, totalizando R$ 24 milhões, benefício que atende mais de 210 mil agricultores.

Cerca de 600 técnicos da Emater/RS-Ascar estão trabalhando diretamente na emissão de laudos, tanto para fornecer informações ao Governo quanto para emissão de seguros agrícolas. Ao todo as instituições financeiras do Rio Grande do Sul já receberam 16.500 mil solicitações de laudos técnicos, dos quais 9.200 já foram encaminhados à Emater/RS-Ascar, e 8.500 estão concluídos.

O governo federal, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), destinará parte do estoque de milho, ao preço de R$ 19,10 a saca, e de trigo, a valor ainda a ser definido, aos produtores gaúchos prejudicados pela estiagem. Também haverá doação de parte da produção de trigo em estoque àqueles produtores mais pobres e que não possuem seguro agrícola.

Além disso, é realizado um trabalho permanente de construção de estruturas para armazenagem de água e irrigação. Em 2011, foram construídos 120 novos poços artesianos pela SDR, e outros 40 foram recuperados.

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