Artigo - Uso de rizóbio em feijão caupi

30.12.2008 | 21:59 (UTC -3)

A cultura do feijão caupi, também conhecido como feijão macassar, feijão trepa-pau, feijão fradinho, entre outros nomes, tem grande importância na alimentação básica da população, principalmente nas regiões norte e nordeste do Brasil, além de países africanos e asiáticos. Vem crescendo no mercado exportador e, apesar de ser uma cultura considerada rústica, sua produtividade ainda é baixa, atingindo uma média nacional de 400 kg por hectare. As principais causas dessa baixa produtividade são pragas e doenças e baixas condições de fertilidade do solo.

Como é uma cultura cultivada principalmente por pequenos e médios produtores, o baixo uso de tecnologias, principalmente de adubos, é um fator limitante a uma boa produtividade, devido aos poucos recursos financeiros disponíveis. Como os fertilizantes utilizados aumentam os custos de produção, fica difícil para o pequeno produtor o uso desses insumos, o que é um dos principais fatores da baixa produtividade média nacional.

Uma alternativa ao uso desses fertilizantes, que são na maioria importados, é o uso de organismos que têm como objetivo prático, aumentar a produção, reduzir o uso de fertilizantes químicos e contribuir para alcançar um padrão de agricultura mais sustentável e menos dependente de insumos, proporcionando às plantas melhores condições de absorção dos nutrientes do solo.

Várias pesquisas agronômicas vêm mostrando que as limitações à produção na região tropical são melhores superadas através de tecnologias baseadas em processos biológicos. Através de associações de plantas com microrganismos, como é o caso dos rizóbios, há um favorecimento e maior aproveitamento de nutrientes do solo, o que torna possível aumentar ou manter a produtividade por período maior, possibilitando a produção de alimentos com menores custos por unidade, de acordo com as condições ecológica e sócio-econômica dos produtores. Na atual conjuntura, em que o país precisa produzir mais alimentos para combater a alta dos preços no mercado e a insegurança alimentar, uma agricultura racional, envolvendo tecnologias sustentáveis e de baixo custo como esta, é primordial para o sucesso de nossa agricultura.

Nesse contexto, a utilização do rizóbio é um processo importantíssimo para o manejo agrícola sustentável, pois pode proporcionar às plantas menor dependência da aplicação de fertilizantes químicos, porque além da capacidade de fixar nitrogênio, algumas estirpes são capazes de solubilizar fosfatos pouco solúveis do solo, podendo disponibilizar fósforo tanto para si como para a planta hospedeira, promovendo o crescimento das mesmas.

Essa tecnologia de uso de rizóbio em leguminosas já vem sendo utilizada há algum tempo, com muito sucesso, em soja, proporcionando resultados econômicos e ambientais extraordinários. Os dados de pesquisa obtidos em diversos ensaios conduzidos nas regiões produtoras, porém, indicam que as bactérias melhoradas e que estão disponíveis para a cultura do feijoeiro podem, de imediato, no mínimo dobrar a produtividade nacional a um custo baixíssimo para o agricultor. Para o feijão caupi, essa tecnologia ainda é pouco utilizada. Em Roraima, os dados obtidos indicam que o rizóbio pode aumentar em 30% a produtividade deste feijão. Na prática, isto representa um aumento de aproximadamente 800 quilos por hectare de caupi produzido, o que significa um bom lucro ao produtor apenas com investimento em torno de R$ 4,00.

Mas, apesar da cultura do caupi possuir alta capacidade de obter N via fixação biológica, ainda é necessário mais pesquisas para obtenção de inoculantes eficientes a nível de campo para esta cultura, em várias regiões. Isto ocorre, em parte, porque o caupi possui a capacidade de estabelecer nodulação com várias estirpes de rizóbio nativos, o que dificulta a obtenção de um inoculante eficiente e competitivo. Apesar de já haver inoculantes específicos para esta cultura, o melhor conhecimento da comunidade rizobiana dos solos de cada região será importante para o desenvolvimento de estratégias que visam otimizar a contribuição da FBN nessas regiões.

Como esta tecnologia é de fácil adaptação aos sistemas de produção de base familiar, o investimento na difusão dessa tecnologia pode trazer um grande benefício para o País, aumentando a produção de grãos dessa leguminosa tão importante na alimentação de muitos brasileiros.

A pesquisa tem proporcionado informações relevantes, que vão desde o lançamento de cultivares, com elevado potencial genético, até a seleção de estirpes competitivas e eficientes na fixação do N atmosférico. A ação conjugada desses fatores, associada às novas formulações de inoculantes podem proporcionar aumentos consideráveis na produtividade de grãos dessa cultura, garantindo um bom retorno financeiro para o produtor, além dos ganhos ambientais, tornando-se assim um cultivo verdadeiramente sustentável.

RITA DE CASSIA CUNHA SABOYA

Pesquisadora/Embrapa Cerrados

LUCIANO MARCELO FALLÉ SABOYA

Professor/Universidade Federal do Tocantins

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