Produtores discutem medidas preventivas na região de fronteira
Apesar dos avanços obtidos no conhecimento e conscientização dos produtores de citros em relação ao Huanglongbing (HLB) ou Greening desde o seu aparecimento no estado de São Paulo em 2004, essa doença continua em expansão.
No último levantamento realizado pelo Fundecitrus, em 2009, a doença foi constatada em 23 mil talhões comerciais, o que representa 24,01% dos talhões de São Paulo. As regiões mais afetadas foram a Central e a Sul, com 33,01% e 35,90% de talhões com plantas sintomáticas, respectivamente. Comparando-se com 2008, a incidência da doença aumentou em 30%. A região Central é a segunda em número de talhões afetados, mas continua sendo a de maior número de plantas sintomáticas, com 1,35% das plantas. De acordo com o levantamento, a região menos afetada é a Noroeste com 0,1% dos talhões. Além de São Paulo, a doença foi também constatada em Minas Gerais e Paraná, o que representa uma ameaça para os demais estados produtores de citros, onde o vetor já está presente.
O manejo do HLB baseiase em princípios simples como o plantio de mudas sadias, eliminação de plantas sintomáticas e controle do inseto vetor. Contudo, estas práticas, muitas vezes são difíceis de serem empregadas, apesar do rigor que esta doença exige. A inspeção e eliminação de plantas sintomáticas – principal estratégia de manejo da doença – devem ser realizadas em maior número possível de vezes durante o ano, e sua frequência relacionada à incidência da doença na propriedade e/ou região. O ideal seria a realização de inspeção e eliminação de plantas sintomáticas, mensalmente, nas regiões de alta incidência e pelo menos a cada dois meses nas regiões de menor incidência.
O controle do inseto vetor, o psilídeo Diaphorina citri (Hemiptera: Psyllidae) é outra importante estratégia para o manejo do HLB. Apesar de ser um inseto que pode ser controlado por um grande número de inseticidas, o seu manejo é difícil devido à sua grande capacidade de reprodução e dispersão. A reprodução ocorre nos períodos de brotações, seja ela em qualquer período do ano, garantindo assim uma nova geração do vetor.
Apesar de não se conhecer exatamente a capacidade de dispersão deste inseto, sabe-se que ele migra constantemente e pode atingir grandes distâncias, uma vez que existem relatos de propriedades com incidência da doença localizadas distantes de outras com foco da doença, e praticamente isoladas de outras áreas. Estudos realizados na Flórida (EUA), com proteínas marcadas do vetor, mostraram que os insetos migram constantemente de áreas abandonadas de citros para propriedades com manejo de HLB, estabelecendo-se preferencialmente nas bordas destas propriedades.
O aumento da incidência da doença, representado pelo maior número de plantas sintomáticas, resulta em enorme inconveniente no campo. A manutenção dessas plantas acarreta em aumento de indivíduos infectivos do vetor, isto é, portadores das bactérias relacionadas ao HLB (atualmente a mais frequente é a espécie asiática, Candidatus Liberibacter asiaticus). Quanto maior o número de adultos migrantes, portadores das bactérias, maior será a taxa de transmissão.
As estratégias de manejo devem ser utilizadas em conjunto, uma vez que adotandoas isoladamente diminuem a chance de sucesso no controle da doença.
Os sintomas do HLB podem ser vistos durante todo o ano. Entretanto, nos meses frios e secos do ano, ou seja, outono e inverno, para a região Centro- Sul do Brasil, os sintomas são mais evidentes. Nesse período, observam-se ramos sintomáticos que se destacam em relação aos demais ramos da planta, o que torna a sua visualização mais fácil. Neste período tradicionalmente não há emissão de novas brotações e as condições climáticas não são adequadas ao desenvolvimento do psilídeo, e a sua população tende a ser mais baixa. Porém, um dos fatores para o aumento populacional precoce do vetor D. citri são as chuvas que podem ocorrer eventualmente em julho, acasionando novas brotações e consequentemente início da reprodução e aumento populacional deste inseto. Em 2007, as chuvas que ocorreram em julho foram acima das médias históricas para o mês e, no final desse ano, observou-se uma alta população do vetor. Entretanto, se as precipitações ocorrerem continuamente após julho, como em 2009, a população do psilídeo se mantém baixa, devido, provavelmente, à eliminação de ovos e ninfas pelas chuvas, que ao cair no solo não conseguem retornar aos locais de desenvolvimento, ou ainda pelo aumento do controle biológico natural, principalmente fungos entomopatogênicos.
O aumento na incidência de plantas sintomáticas no campo pode ter importante papel na disseminação das bactérias causadoras do HLB. Isso se deve não somente ao fato dessas plantas servirem como fonte de inóculo, mas também por atraírem D. citri, vetor das bactérias do HLB no Brasil. Recentes estudos desenvolvidos no Laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Esalq/USP - demonstraram que os voláteis liberados por plantas com sintomas de HLB são fortemente reconhecidos pelo inseto
vetor em relação aos voláteis das plantas livres da doença. Deste modo, ao comparar os odores de plantas de citros não infectadas com os odores de plantas infectadas com HLB, pode-se notar nítida preferência dos psilídeos por plantas sintomáticas em 70% dos casos.
A explicação para esse fenômeno parece estar relacionada à ação das bactérias do HLB nas plantas de citros, que após infectarem as plantas promovem alterações bioquímicas nos tecidos vegetais. A emissão de voláteis atrativos, neste caso, pode estar relacionada com uma sofisticada interação entre hospedeiro-patógeno-vetor. Atrair o inseto vetor para o mesmo local onde se encontram as bactérias parece ser uma importante estratégia de disseminação da doença, já que serviria como mecanismo de sobrevivência das bactérias do HLB.
Apesar do período outono e inverno serem de baixa população do inseto vetor D. citri, a manifestação dos sintomas da doença HLB em citros é mais intensa. A não eliminação das plantas doentes pode acarretar na atração dos poucos psilídeos presentes na propriedade, maximizando a aquisição da bactéria e, por conseguinte, a transmissão para as demais plantas quando do surgimento de novas brotações. Neste período os psilídeos buscam estas plantas para sua alimentação e desenvolvimento e para início de reprodução. Portanto, para o sucesso no manejo do HLB é primordial eliminar a fonte de inóculo, onde o inseto adquire a bactéria.
A descoberta de mecanismos que envolvam a ação de voláteis de plantas nas alterações comportamentais do inseto vetor poderá ser de grande utilidade no estabelecimento de estratégias de redução populacional da praga no campo. No caso do psilídeo D. citri, a identificação dos compostos capazes de promover a sua atração abrirá novas perspectivas tanto para o controle, quanto para o monitoramento deste inseto nos pomares de citros.
Esalq/USP
Fundecitrus
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